O basquetebol simplificado
 
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O basquetebol simplificado

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O Basquetebol simplificadoFalar de “Basquetebol simplificado” (B.S.) é falar do seu criador nos anos sessenta, o professor José Esteves, grande nome da Educação Física portuguesa

e treinador de basquetebol com enormes contributos históricos dados à modalidade. Já em escritos anteriores falámos dele, aquando da referência ao aparecimento dos treinadores de basquetebol em Portugal e, em especial, à dinâmica interessantíssima de formação de treinadores que ele conseguiu incitar quando exerceu as funções de director técnico da Federação Portuguesa de Basquetebol nos inícios dos anos sessenta. José Esteves foi ainda um precursor da sociologia desportiva em Portugal, com livros excelentes tais como “O desporto e as estruturas sociais” (José Esteves, 1975). É ainda um democrata, sempre preocupado com a promoção e democratização desportiva no seio de uma “democracia toda”, conceito que ele há várias dezenas de anos formulou.

José Esteves: o Basquetebol simplificadoMas o artigo de hoje refere-se especificamente a uma criação de José Esteves: o Basquetebol simplificado (B.S.), um jogo dedcado à iniciação das crianças na prática do basquetebol. O professor Esteves já conhecia o minibásquete, que era destinado a essa mesma iniciação por crianças com menos de doze anos. No entanto, segundo Sónia Costa num artigo em que faz a história do basquetebol em Portugal, José Esteves considerava o seu B.S.  um jogo mais adequado do que o próprio minibásquete para realizar essa iniciação na escolaridade primária (Costa, s.d.). De facto, como poderemos constatar, as regras desse jogo eram mais simples e mais acessíveis a crianças. Enquanto o minibásquete, nesse tempo, em grande parte se resumia a simplificar o jogo diminuindo o número de regras, os tamanhos de bola, os campos e a altura de cesto, o B.S. era um jogo com regras mais básicas ainda, com uma estrutura táctico-técnica extremamente simples, e que conseguia, com 3 a 4 regras, colocar de imediato as crianças a jogar.

Vejamos então esse jogo, que podemos encontrar descrito num boletim do antigo Instituto Nacional de Educação Física (J. Esteves, 1964), instituição que hoje é a Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa. É interessante ver que o B.S. se assemelha ao jogo inicial de basquetebol proposto por James Naismith, que, como se sabe ainda não tinha o drible como uma forma de acção no jogo. O basquetebol inicial resumia-se tão simplesmente a desmarcar-se, receber, passar e lançar. Era também isso, basicamente, aquilo que o B.S. exigia dos jogadores. Esse jogo poderia ser considerado e utilizado até como um jogo de preparação para o minibásquete (MB) mais formal, seguindo-se posteriormente o basquetebol. As 4 regras descritas no boletim são:

“1.ª - Não se pode correr com a bola, permitindo-se três passos ou quatro apoios dos pés,  conforme a idade e o grau de iniciação dos jovens: quatro ao princípio e depois apenas três.
2.ª – Não se pode tirar a bola das mãos dos adversários, nem sequer pôr as mãos por cima da bola, embora seja permitido afastar os braços, à frente do adversário. A bola disputar-se-á apenas quando está no ar ou no solo, fora do domínio dos jogadores.
3.ª – Não se pode driblar, isto é, bater a bola no solo, desde que o jogador o tenha feito intencionalmente…
4.ª – Não se pode falar para pedir a bola.

Uma outra característica importantíssima do B.S. era que utilizava o método de ensino do jogo jogando, o que nesse tempo, em que imperava já o método analítico, era inovação de monta.

No boletim onde descreve esse jogo, ele descreve o processo do seu ensino do seguinte modo: “O B.S. ensina-se, exclusivamente, pelo processo global, quer dizer, limita-se em princípio, ao jogo propriamente dito, não exigindo o conhecimento e decomposição dos gestos da passagem e do lançamento da bola. Portanto, e após uma explicação prévia de 5 ou 6 minutos, sobre as regras, a técnica da execução e a movimentação, a efectuar logo ao início da primeira sessão, os alunos começam imediatamente a jogar. Para impedir as execuções deficientes, apenas se aconselha a paragem imediata do jogo, com a entrega da bola ao adversário do jogador que executou mal, como castigo dessa execução técnica.”

No mesmo artigo do boletim que vimos a citar, José Esteves faz ainda referência aos tipos de passe e de lançamento que devem ser exclusivamente utilizados no B.S. Nesse aspecto assemelha-se àquilo que se chama hoje o “Jogo condicionado”. Assim, além das regras que condicionam a estrutura técnico-táctica do B.S., Esteves faz também recomendações para a organização táctica (espacial) e para a execução técnica, algumas das quais são mesmo estritas pois a não conformidade com a execução recomendada leva à perda da posse da bola. Assim, para os passes, prevê o uso de três tipos: o passe de peito, o passe por cima do ombro e o passe picado ou de ressalto. E descreve as suas caraterísticas, uma das quais, generalizada a todos eles,  é a “sua trajectória tensa ou rectilínea, e nunca uma trajectória curva, ou em arco”. Já no que diz respeito aos lançamentos, prevê a utilização de quatro géneros: o lançamento de peito, o lançamento por cima do ombro, o lançamento com uma das mãos por baixo e outra por cima, e por último, o lançamento em movimento. Nos lançamentos, ao contrário dos passes, a sua característica geral é o serem curvos, para facilitarem a sua entrada no cesto. No texto que temos vindo a citar, José Esteves fala também dos “defeitos de execução mais correntes”.

Se me permitem uma opinião pessoal, eu compreendo perfeitamente a posição do professor José Esteves comparando os dois jogos (BS e MB). Acho que muitos dos desenvolvimentos do minibásquete, alguns dos quais, logo na década de sessenta, foram da lavra de outro grande professor/treinador português – Mário Lemos – tais como, a composição mista das equipas, a consideração do MB como um jogo diferente do basquetebol, próprio de crianças, vieram a dar razão a José Esteves. É visível hoje, no mundo de alguns dos estudiosos que se dedicam ao MB, a tentativa de aplicação de algumas soluções novas que tornem esse jogo mais participado, com um ambiente de jogo que forneça a todos os seus jogadores mais hipóteses de intervenção com a bola e mais sucesso nas acções. Em Portugal isso também acontece e está plasmado em alguns regulamentos técnico-pedagógicos actuais. Referimo-nos ao jogo com efectivos reduzidos, (3X3 e4X4) e conceito de bola protegida para os principiantes. Outras inovações, como tempos de jogo mais equilibrados para todos os jogadores, entre outras propostas, têm já sido testadas em várias zonas da Europa (caso da Catalunha, por exemplo).

Para finalizar este artigo pensamos importante dizer que, à parte alguns aspectos nítidamente datados e ultrapassados do B.S. que podem ser constatados da mera leitura desta nossa descrição, é valiosa em si a inovação metodológica de José Esteves, que apresenta hoje em dia alguns aspectos em muito aproveitáveis. Ler coisas de e sobre José Esteves traz ainda muito a todos aqueles que gostam de ver, ler, aprender e ensinar desporto. Daí algumas recomendações de leitura na bibliografia que se segue (Brás & Santos, 2002).


Brás, J., & Santos, A. (2002). Professor José Esteves. A Vida e a Obra. Gymnasium. Revista de Educação Física, Desporto e Saúde.(2), 51-62.
http://omeublog.grupolusofona.pt/p543/files/2010/05/Biografia-de-Jos%C3%A9-Esteves.pdf
Costa, S. (s.d.). A história do minibásquete (pp. 9).
Esteves, J. (1964). O basquetebol simplificado. Boletim do Instituto Nacional de Educação Física(1 e 2), 147-152.
Esteves, J. (1975). O desporto e as estruturas sociais (3.ª ed.). Lisboa: Prelo Editora.

 


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