Quem joga são os jogadores
 
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Quem joga são os jogadores

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FracoBom 

altA primeira vez que ouvi afirmar que “quem joga são os jogadores” foi numa acção de formação ou curso de treinadores, na boca do professor Jorge Araújo,

nos anos oitenta do século XX. Nos seus muitos livros, por várias vezes o vi voltar a repetir esta frase.

De facto, nós treinadores, temos a tendência a exacerbar o nosso papel. E esquecemo-nos que quem joga não somos nós. Já nos anos 40 e 50, em França, havia quem alertasse e denunciasse que o jogo estava a ficar demasiadamente mecanizado. Os treinadores portavam-se como jogadores de xadrez que dispunham de peças – os jogadores – que apenas eram executantes de jogadas pensadas pelo treinador. O jogo e os jogadores tornavam-se assim meros elementos de um mecanismo dirigido de fora. Por sua vez, o próprio treinador era também muitas vezes um mero copista das jogadas que importava dos livros americanos, aplicando-as às suas equipas sem as contextualizar ao seu nível de jogo. Não é de admirar que a dada altura nem os jogadores nem os espectadores gozassem com o jogo resultante desta concepção.

Embora minoritários, um grupo de treinadores lá ia fazendo a denúncia desse estado do basquetebol francês e propunha outra forma de conceber o jogo e a formação dos jogadores. Por exemplo, em vez de verem no jogo a aplicação do aprendido nos treinos inverteram o pensamento. Era o jogo que tinha o primado. Era em função da relação de oposição entre os dois colectivos inerente ao jogo que se poderia tirar lições sobre o que se deveria trabalhar nos treinos. Evidentemente que havia um processo cíclico, constituído por jogos- treinos-jogos. E essa forma de conceber a relação entre a realidade da competição e os processos de treino mudava também a própria concepção do que é um jogador e a sua respectiva formação. O jogador passava a ser alguém capaz de iniciativas inteligentes e os treinadores, mais do que respeitarem essa iniciativa, davam-lhe condições para que ela surgisse e se desenvolvesse. E o facto de estar atento às inovações dos jogadores era fundamental para que se pudesse estar em fase com eles.

Damos um exemplo da iniciação: o treinador ao verificar que um dado jogador inovava no jogo utilizando um recurso técnico novo – por exemplo, a mudança de mão pela frente -  ficava a saber que era realisticamente possível exigi-lo aos restantes jogadores da sua equipa. Em vez de simplesmente introduzir as aprendizagens segundo apenas uma lógica do treinador ou do jogo, do simples para o complexo, utilizava uma lógica do desenvolvimento do jogador, verificada em situação de jogo.

Robert Mérand, num texto de 1952, dava conta da importância que atribuia à atenção que o treinador deveria ter relativamente às inovações dos jogadores, tal como a situação seguinte demonstra:

"É preciso que o treinador aprenda a mostrar-se atento às iniciativas dos jogadores. O seu génio inventivo - sobre o qual repousa a evolução do jogo - descobre as vias que nós não podemos inventar na nossa única cabeça. O trabalho do treinador é o de apreender essas iniciativas técnicas ou tácticas, no estado bruto, de as estudar, de as aperfeiçoar, de as fazer descobrir aos jogadores em atraso, e as fazer armas maniáveis e mais perfeitas para as competições futuras."
Robert Mérand, Servir le basket, n.º2 (1952)

Quando falamos dos factores da evolução do jogo ao longo da sua história, referimo-nos muito às mudanças das regras promovidas pelos legisladores das federações internacionais, às iniciativas promocionais dos dirigentes, às inovações dos materiais do jogo que permitem outra qualidade de prática, às novidades metodológicas ou tácticas em que os treinadores e os cientistas da pedagogia do desporto têm o papel principal, ou mesmo ainda a mudanças influenciadas por aspectos externos ao jogo, como a publicidade no desporto e o negócio em que se tem tornado o espectáculo desportivo. Talvez nos estejamos a esquecer que na evolução do jogo, quem verdadeiramente está na sua base são os jogadores, pelas pequenas e grandes novidades técnicas e tácticas que gradualmente fazem aparecer, num fenómeno de construção colectiva que vai emergindo quase sem nos apercebermos mas que deixa uma marca indelével no jogo.De facto quem joga são os jogadores. Os treinadores podem ajudar o jogador a desenvolver-se e a melhorar, mas tudo passa pela personalidade dos jogadores, pela sua vontade, aplicação, e acção respectiva. Será que a generalidade dos treinadores de basquetebol, no início deste século XXI, já interiorizaram de facto este ensinamento tão importante que alguns descobriram faz tanto tempo?

 

Comentários 

 
+1 #6 José Esteves 03-04-2012 14:35
O que vai acontecer, é que daqui a uns anos as pequenas continuam pequenas e as nossas grandes em iniciadas já não vão ser assim tão grandes e depois não conseguem jogar num nível mais alto.
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+1 #5 José Esteves 03-04-2012 14:34
Para mim, só devem ser postes, se tiverem 2,10m. Até lá cabe aos treinadores criar esquemas em que os seus jogadores com mais potencial (por exemplo os mais altos) joguem (maioritariamen te de frente para o cesto). Tive a oportunidade de estar este fim-de-semana em Albufeira e reparei que as jogadoras mais altas da seleção de Lisboa só jogam de costas para o cesto, enquanto as "pequeninas" é que jogam de frente.
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+1 #4 José Esteves 03-04-2012 14:33
Certo, eu penso é que essas técnicas devem ser "copiadas" de jogadores séniores e ENSINADAS aos jogadores jovens! Nos escalões mais jovens devemos é ensinar coisas, fazer com que os miúdos(as) reproduzam "coisas" e não ficar à espera que elas apareçam! A maior diferença entre o nosso basquetebol e os outros (bons - Espanha, etc.) é o nível técnico dos atletas que aqui em Portugal quando têm 1,90 jogam a poste (como deve ser o caso do David), que aqui reportou o seu caso, de jogar a poste em sub16.
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+1 #3 David 05-03-2012 22:41
certo José esteves, eu por amante de basket, tenho 16 anos e jogo a poste.. no entanto na escola e fora de "campos" serios, gosto muito de jogar mais livre sem uma posição fixa, por isso consigo aperfeiçoar os movimentos e tecnicas em campo, acabo por ser melhor não só na minha posição, aprendo como os outros jogam, sendo que assim tenho experiencia em qualquer outra posição! :)
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+1 #2 Henrique Santos 05-03-2012 21:36
Caro José Esteves, compreendo a pergunta se se ler em absoluto a afirmação citada. Mas o que se quer aqui sublinhar é a importância que tem a atenção do treinador para as inovações dos jogadores, que são criadores do jogo e não só reprodutores de técnicas e tácticas. Mérand fazia a crítica de um momento da história do jogo em que ao jogador era reservado um papel passivo. Ao estar atento às tais iniciativas dos jogadores - as dos seus e a dos outros, as dos iniciantes e dos campeões - os treinadores vão melhor percebendo o momento e a forma de ensinar as coisas novas que podem melhorar os jogadores e o jogo.
Certas citações, como a que fiz, retiradas de um contexto mais lato podem dar azo a diferentes interpretações. Espero que este meu acrescento e o resto do artigo possa ser mais esclarecedor.
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0 #1 José Esteves 02-03-2012 00:21
Então por exemplo no escalão de iniciados devemos "esperar" que os miudos comecem (sozinhos) a fazer as técnicas "convencionais" - "O trabalho do treinador é o de apreender essas iniciativas técnicas ou tácticas, no estado bruto, de as estudar, de as aperfeiçoar, de as fazer descobrir aos jogadores em atraso" - e nao tentar ensiná-las?
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