“As noções fundamentais” segundo Gérad Bosc
 
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“As noções fundamentais” segundo Gérad Bosc

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altGérard Bosc é um nome incontornável do basquetebol francês. Treinador de basquetebol, ex-director técnico nacional, professor de Educação Física

ele tem a particularidade de ter escrito, sozinho ou em parceria, muitos e excelentes livros sobre basquetebol assim como produziu vários documentos audio-visuais (G. Bosc, 1990, 1996; G. Bosc, 1999a, 1999b, 1999c; G. Bosc, Bosc, J., 1991; G. Bosc & Grosgeorge, 1988, 1999; G. Bosc & Poulain, 1996; G. Bosc, Poulain, T., 1990; G. Bosc & Thomas, s. d.).

É um dos treinadores que se pode considerar herdeiro e difusor de uma escola de basquetebol francesa – a que designamos como dialéctica - de que temos falado em anteriores escritos aqui no Planetabasket. Essa escola, relembramos, teve a sua arrancada nos anos 50 do século XX, a partir de uma leitura crítica dos textos que recebiam e traduziam do basquetebol norte-americano desse tempo, com relevo para os livros do famoso treinador Clair Bee. Com as suas próprias práticas e suas reflexões colectivas conseguiram chegar, já nesse tempo, à noção essencial de relação de forças, definidora de um jogo desportivo colectivo como o basquetebol. Com isso trouxeram inovação ao ensino e treino da modalidade. Ao mesmo tempo, outros técnicos franceses ou mantinham-se fieis ao seu anterior estilo de jogo – o chamado “Ripopo” – baseado em improviso, ataques rápidos e finalizações acrobáticas e fantasistas, ou então faziam uma leitura reprodutiva e cega dos textos americanos, o que se traduzia numa cópia de jogadas esquematizadas que transformava os jogadores em autómatos e os treinadores numa espécie de jogadores de xadrez.

Gérard Bosc, foi um dos treinadores que deu continuidade à escola dialéctica. Mas se as suas ideias e conceitos se fundam nas  de autores anteriores, elas são também fruto da adaptação e desenvolvimento de Bosc, por várias vezes em parceria com outro grande treinador francês de nome Bernard Grosgeorge. Bosc, por outro lado é um autor que sempre deu um relevo enorme à história do basquetebol. Além das referências recorrentes em capítulos parciais dos seus livros, escreveu uma obra extensa e muito completa, em três volumes, sobre a história do basquetebol francês e produziu também um video sobre a mesma temática. Actualmente é o responsável pela direcção do Museu do basquetebol, dentro da estrutura da Federação Francesa de basquetebol e a que os interessados poderão aceder virtualmente pela internet.

Para espicaçar a curiosidade na procura de literatura deste autor, em que vários dos seus livros tem tradução em espanhol e até em português (ver bibliografia no final), traduzi e vou deixar-vos de seguida um artigo que ele escreveu para a revista técnica de basquetebol da federação francesa, sobre as noções fundamentais do basquetebol.


AS NOÇÕES FUNDAMENTAIS  - Gérard Bosc, Revista Basketball, n.º 605, Décembre 1995*

1) JOGO DIRECTO E JOGO INDIRECTO

a) O jogo directo pode ser representado por um corredor de uma largura de cerca de 2 metros, traçada de um lado e do outro do eixo que vai do portador da bola ao cesto. No jogo directo podemos:
  • jogar para si: um contra um
  • jogar para um companheiro
O jogo directo pode aparentar-se à agressividade ofensiva (atacar o cesto logo que possível).
alt
b) O jogo indirecto é o que se situa fora do directo (1) :
podemos assimilá-lo ao jogo exterior (à periferia).
O jogo indirecto permite:
- levar a bola para o fundo do campo (a) para compactar a defesa.
- dar a bola num outro espaço privilegiado (b)
- a inversão do jogo (c)
 

Por excesso de jogo indirecto na aproximação do cesto evoluímos em « limpa pára-brisas » e somos constrangidos a lançar de longe (Regra dos 30”). Entretanto com o aparecimento da regra dos 3 pontos, o constrangimento pode transformar-se em escolha estratégica, pois, de facto, a ameaça desse lançamento modifica o comportamento defensivo. Se a ajuda se executa de forma normal, o passe “saltado” torna-se uma arma temível e se ajudamos menos para o centro as penetrações são mais perigosas. É a alternância tendo em conta a defesa, entre o jogo directo (interior) e o jogo indirecto (à periferia) que torna o ataque eficaz.

2) OCUPAÇÃO DO TERRENO
É uma noção fundamental que vai ajudar à leitura do jogo. É uma noção mal ensinada pois poucos jogadores conhece os eixos, os lugares e as linhas de força que ordenam o jogo.

Todos os lugares do jogo não têm igual importância; fora dos corredores do contra-ataque, os que são próximos dos cestos são, bem entendidos, os mais interessantes. alt

a) os eixos principais:
- prolongamento da linha dos lances livres
- linha do lançamento de 3 pontos – 45 graus do cesto
- meio do terreno que determina o lado da ajuda e o lado da bola
- o corredor central

b) os « territórios »
- dos extremos:
- altos, no prolongamento da linha dos lances livres a 45 graus do cesto e na proximidade da linha do lançamento de 3 pontos
- baixos, nos cantos do terreno (perigo de "trapps” (armadilhas 2 contra 1) quando o nível aumenta)
- do base:
- no eixo do terreno, frente ao aro.
- dos 2.ºs bases :

  • à esquerda e à direita do base para lá da linha do lançamento de 3 pontos ;

- dos jogadores interiores:

  • poste alto (na zona do lançamento livredans la zone du lance franc).
  • Pivot ou poste baixo (no fundo do campo, de um lado ou do outro do cesto e perto dele).

c) Os espaços chave: (os dois lados do cesto e na zona do lance livre). É lá que a relação de força é mais intensa para a conquista e utilização da bola ;
d) Os intervalos: eles revelam-se quando os jogadores compreendem a importância da fixação. As posições tomadas pelos jogadores sobre o terreno são pontos de referência para se encontrar sobre o terreno ou reequilibrar o jogo quando os deslocamentos desorganizam demasiado a estrutura de partida (1-3-1, 2-1-2, etc ).
e) Os deslocamentos revelam linhas de força: um movimento para o cesto solicita outro para trás, um deslocamento para a bola, do lado da ajuda, supõe um equilíbrio do mesmo lado, etc.

Os “espaços chave”, os territórios, os eixos e os deslocamentos dos individuos são melhor asssimilados quando são objecto de uma representação mental e depois interiorizados.

3) PROXIMIDADE / AFASTAMENTO
Esta noção permite compreender as relações de força sobre o terreno.

  1. Do ponto de vista individual
  • se eu sou defensor : a que distância devo estar para ser eficaz?
  • se eu sou atacante : como romper essa distância?

A relação de força que se instala exprime-se através do um contra um, com e sem bola,

   2. Do ponto de vista colectivo

  • se eu sou defensor: em que medida posso cobrir espaços importantes para fazer crer que eu asseguro mais espaço que o normal ou bem para socorrer um companheiro sem abandonar o meu adversário (ajuda);
  • se eu sou atacante:

a) qual pode ser a minha eficácia para o « grupo de ataque » quando estou do lado da ajuda?

  • Fixar o meu adversário ameaçando uma « porta atrás” (back door) antes de subir.

b) qual pode ser a minha eficácia para o « grupo de ataque » quando estou do lado da bola?

  • Ir para a bola para fazer um bloqueio directo ou afastar-me da bola para deixar o portador em 1 contra 1 e dar um bloqueio indirecto a um companheiro não portador.

Observação:
Aproximar-se da bola é um acto reflexo do principiante; o treinador deverá lutar contra esta tendência que limita a progressão; ele proporá portanto jogar afastando-se da bola. O retorno para a bola é a prova que certas técnicas difíceis (passe mão a mão, bloqueios directos) estão dominados ; isso significa também que um nível de jogo foi atingido.

4) FIXAÇÃO
Noção fundamental nos desportos de afrontamento. Se o duelo não é procurado o basquetebol perde uma grande parte do seu sentido.
A fixação exprime-se, no plano individual, pelo trabalho bola na mão (encadeamento de arranques directos ou cruzados, e de fintas). Ela exprime-se também pelo movimento sem bola que permite mobilizar o oponente. A diferença entre jogadores faz-se através do afrontamento em 1 contra 1, este último está no coração do basquetebol.

A fixação colectiva do bloco defensivo vai permitir a inversão do jogo que se opera por retransmissões rápidas ou por intermédio do passe saltado « Skip pass » (efectuado de um lado ao outro sem retransmissões intermédias). A fixação induz o jogo de posição nos espaços chave, e não só a passagem por esses locais. A ocupação desses espaços e as lutas que aí se desenrolam abrem áreas novas: os intervalos. É a leitura conveniente deste conjunto (espaços chave, intervalos) que permite avaliar se um praticante lê o jogo ou não.

5) TRANSIÇÃO
1- Transitar é passar rapidamente de uma situação a outra.
2- Todo o basquetebol é um jogo de transição; esta noção fundamental contém a ideia de « ligações de fases de jogo entre si”.
3- O treino das transições desemboca num melhor controlo de si e uma melhor percepção do jogo (quando acelerar, abrandar, provocar faltas, conseguir um cesto imediatamente depois de ter encaixado um).
As transições individuais:

  • alternar uma acção viva e uma outra mais lenta.
  • passar da situação de portador da bola (tomar tempo para fixar o adversário) à situação de não portador (estar em movimento),
  • defender sobre um portador e depois sobre um não portador, etc,

As transições colectivas:

  • passar da situação « equipa em ataque » à situação « equipa em defesa » (e vice-versa).

Esta última noção fundamental é a mais difícil de pôr em prática.
* o original em francês encontra-se em:      http://caratome.free.fr/artFFBB/Bosc1995c/Bosc1995c


Bibliografia e videografia do autor (não esgota, nem de perto, a sua produção):
Bosc, G. (1990). Basket: "comprendre le jeu pour mieux s'entrainer". [VHS]. Paris: INSEP.
Bosc, G. (1996). Baloncesto. Iniciación y perfeccionamiento. Barcelona: Hispano Europea.
Bosc, G. (1999a). Une histoire du basket-ball français... 1893-1966 (Vol. I). Paris: Presses du Louvre.
Bosc, G. (1999b). Une histoire du basket-ball français... 1966-1990 (Vol. II). Paris: Presses du Louvre.
Bosc, G. (1999c). Une histoire du basket-ball français... 1990-2000 (Vol. III). Paris: Presses du Louvre.
Bosc, G., Bosc, J. (1991). 100 ans de basket en France [VHS]. Paris: INSEP/FFBB.
Bosc, G., & Grosgeorge, B. (1988). El entrenador de baloncesto (2.ª ed.). Barcelona: Editorial Hispano Europea.
Bosc, G., & Grosgeorge, B. (1999). Réflexion autour d'un jeu en évolution. Revue EPS(275), 29-32.
Bosc, G., & Poulain, T. (1996). Baloncesto. De la escuela... a las asociaciones deportivas. Lérida: Editorial Deportiva Agonos.
Bosc, G., Poulain, T. (1990). Des clés pour le basket. Paris: Éditions Vigot.
Bosc, G., & Thomas, R. (s. d.). O Basquetebol. Lisboa: Rés - Editora Lda.

 

 


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