O artigo desta semana resulta, diretamente e em grande parte, do que ouvi ao professor Fernando Tavares da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, numa conversa informal que tivemos.

Vem na sequência do que escrevi na semana passada sobre o desenvolvimento desportivo.

A dado passo dizia eu ao professor Fernando que actualmente me parecia que não pediam a opinião de quem de basquetebol tinha grande saber de experiência feito ou mesmo, como é o caso dele, era possuídor de um saber científico acrescido na área. Ele confirmou essa não solicitação e disse mesmo que uma das coisas que tem faltado nos últimos anos – que não são tão poucos quanto isso – é uma transmissão de saber, eu acrescentaria de cultural/ geracional.

Veem-se sucessivas levas de treinadores jovens, cometerem sucessivos erros para os quais os mais antigos já tinham encontrado as soluções. No sector da formação isso é por demais evidente. Em vez de assegurar o concurso de técnicos experientes, são os treinadores mais jovens os que são atirados para esse mundo onde as bases do basquetebol se decidem. Política de mão de obra barata, disse eu. Alguns dos mais competentes, passados uns anos, ou desistem - desmotivados pela falta de condições que encontram - ou conseguem dar o salto para outro nível remuneratoriamente mais compensador, embora, como todos sabemos, essa forma de reconhecimento é cada vez menos segura. Por sua vez, faltam importantes mecanismos efectivos de reconhecimento, que ao nível dos treinadores de formação são praticamente inexistentes.

Um dos exemplos que o professor Fernando Tavares deu nessa pequena conversa foi a questão dos modelos de competição para jovens que é das mais anacrónicas. Há tanto tempo que se sabe que as competições de jovens devem servir, sobretudo, para formar. Contudo, infelizmente, os modelos que temos de competições para jovens, apresentam períodos de preparação curtíssimos e períodos de competição dilatados em que bem cedo se fazem as primeiras triagens competitivas para níveis sucessivos de competição. Isto induz nos treinadores  a ideia de treinar para render e no mais curto prazo possível. E são bem poucos os treinadores que percebem ou tentam escapar a esse caminho funesto para os jovens de que são responsáveis e não sucumbem às falsas soluções que queimam etapas formativas e põem em causa o futuro desportivo/pessoal dos jovens.

Na conversa foi também ventilada a questão da não renovação da seleção nacional. Soluções imediatas não se vislumbram, pois não foram acauteladas em devido tempo.

Mais se falou nessa conversa, ainda que pequena, mas para concluir este texto parece-nos para já importante dizer que a renovação não se faz apenas ou sobretudo com a incorporação de treinadores etariamente jovens em atividade. Esse tipo de renovação, se não for acompanhada por uma atitude, eu diria cultural, de aprendizagem assistida pela experiência das anteriores gerações de treinadores, corre o risco, eu diria mesmo, incorre na certeza de não ser sequer renovação mas apenas um triste arremedo. A renovação do treino desportivo faz-se com o concurso de todas as gerações de treinadores no ativo e também com aqueles que, embora retirados do treino diário ainda querem e podem dar o seu contributo na transmissão cultural da experiência. Como dizia Bento de Jesus Caraça numa frase já várias vezes invocada no Planeta Basket por outros companheiros, (o que demonstra uma ideia e um sentimento comum), “Um povo sem memória é um povo sem futuro”. No treino em basquetebol isso também é verdade. Assim o entendam, os que tem o poder de dirigir ou de influenciar os caminhos do basquetebol nacional.

P.S. Hoje, quarta-feira, ao percorrer textos já publicados aqui no Planeta Basket, deparei com um do Nuno Tavares chamado de “Gerações de formação” que descreve o processo como em Espanha ao longo de muitas décadas se tem conseguido realizar, com grande sucesso, esta transmissão cultural que o professor Fernando Tavares salientou na nossa conversa. Recomendo a sua leitura para quem ainda não o fez.