Sendo o tempo de instrução e o tempo de prática ferramentas importantes da didática do desporto, assumem real importância quando falamos de treino de jovens

com uma periodicidade de 3 sessões de trabalho semanal mais um jogo ao fim de semana.

Se concebermos o tempo de instrução como o tempo que o treinador fala para o grupo e o tempo de prática aquele em que, efectivamente, os atletas estão em prática, podemos melhorar a nossa forma de dirigir a sessão de treino observando-nos nestes parâmetros.

Com uma câmara de filmar e boa capacidade de captação de som, com um colega treinador, um papel e lápis, temos o que necessitamos para podermos obter informação a este respeito.

A experiência na direção de exercícios e jogo que a minha atividade profissional me proporcionou poderia levar-me à sensação confortável de que tudo vai bem num simples treino ou jogo, bastando que faça fluir palavras relacionadas com as prioridades que defini ou que se ajuste às necessidades dos atletas que acompanho. Não há maior engano do que esse.

É importante vermo-nos a intervir. E quanto mais isolados estamos de podermos integrar uma equipa de treinadores preocupados com a relação entre o tempo em que falo e o tempo que os meus atletas praticam, mais necessitamos de avaliarmos o nosso desempenho. E preparem-se, pois não deixaremos de cometer erros merecedores de rectificação.

Mas voltemos à máquina de filmar e ao registo de imagens. Afinal o que retiraremos do filme do nosso treino? Algo bem precioso para que não nos limitemos a preparar o que queremos que os nossos atletas façam. Ao sentarmo-nos confortavelmente a ver a nossa intervenção teremos de dar alguns minutos para que possamos dar atenção a informações generalizadas da nossa presença no filme:

•  A minha voz é esta?
• Eu disse isto?
• O que fazia eu no meio do exercício deixando metade do grupo nas minhas costas?
• Afinal este fato de treino não me fica nada bem?

Depois desta introdução, que embora tenha tido uma autocritica à minha presença ou aspeto, deverá surgir a parte séria da coisa. Apresentam-se algumas questões cuja a resposta contida no registo vídeo me poderão ajudar a melhorar a minha intervenção.

• Como me posiciono no exercício? Garanto sempre contacto visual com os meus atletas?
• Quando o exercício diz respeito ao lançamento, que posições no campo assumo para observar?
• Como circulo eu durante o treino? Perco ou não o controlo visual de todos os meus atletas?
• Que relação temporal existe entre o tempo de explicação/demonstração de um exercício e o início da prática?O tempo de duração dos exercícios proporcionou repetições suficientes a todos os atletas?

Para além das questões anteriores, a recolha de imagens sobre a intervenção do treinador traz-nos a possibilidade de ouvir o teor das correções efetuadas, dos elogios, da prescrição sobre como fazer. Fomos precisos e claros na informação que fornecemos? A linguagem utilizada foi simples e rigorosa no que à terminologia da modalidade diz respeito?

Observarmos o nosso trabalho, atrevo-me a dizer, será mais importante do que a recolha estatística do desempenho dos nossos jogadores. A percentagem de lançamento da nossa equipa será, nesta linha de pensamento, menos pertinente do que a percentagem de informação dada aos jogadores durante o exercício de treino ou em jogo.

Ajudar indirectamente os jogadores passa por ajudar o treinador a melhorar a sua intervenção. Se estamos sozinhos, cabe-nos encontrar soluções para nos avaliarmos em exercício de funções.

Mais do que nos lamentarmos das condições que não temos ou deveríamos ter, talvez valha a pena esforçarmo-nos para sermos especiais para os nossos jogadores.