Dirão os que há mais tempo vivem e participaram no desenvolvimento e crescimento desportivo em Portugal que a sua célula é a instituição Clube. Não resta a menor dúvida sobre isso.

Creio até que nem as estruturas governamentais terão essa dúvida na medida em que remetem para o Clube Desportivo o peso de, na prática, promoverem o crescimento e desenvolvimento desportivo no nosso país, estruturados numa Lei de Bases difícil.

As associações e as respetivas Federações de modalidade fazem-no estruturalmente, promovendo e organizando a vida da modalidade, mas porque representam Clubes, é a estes que vai sendo incumbida a operacionalização dessa mesma vida. E é sobre essa vida que me atrevo a reflectir no artigo desta semana.

A este respeito diria que a vida dos clube expressa uma identidade que se mostra na sua atividade e nos atos dos seus agentes. A história que vão construindo alicerça o seu espólio humano e patrimonial, dando-lhe um peso que, na história maior do nosso associativismo desportivo, reflecte a identidade do nosso desporto.

Não há clube que, sustentado na história que vai construindo, não vá procurando manter-se vivo. Em muitos casos, constituindo exemplo de dedicação coletiva a uma causa desportiva, o Basquetebol tem no seu historial projetos de clube duradouros, outros fugazes e muitos discretos.

Ouvimos quem elogie o bairrismo de uns, o eclectismo de outros, mas dificilmente encontramos uma força maior, que neste caso terá de ser política, onde verdadeiramente se reconheça a força da instituição clube, fomentando uma identidade comum a todos, possibilitando que todos caminhem em prol de um Desporto, de um Desporto Nacional.

Ao generalizar este lamento ou esta ausência, pretendo, por outro lado valorizar as “células” que se destacam, mesmo sem uma sala de troféus “pesada” de vitórias. Como referi, muito do que sustenta a instituição Clube, são as pessoas e o seu valor humano. Não obstante os propósitos de um Clube (Ganhar, Formar, Lucrar, Servir, Educar, ou uma mistura feliz de todos estes objetivos) as pessoas alimentam a vida da “célula” na forma como mostram “em campo” a sua identidade.

Neste sentido e sem desprimor para muitos Pais, apaixonados pela modalidade ou dirigentes de sempre, um clube terá nos seus treinadores a oportunidade de mudança e de criação de uma identidade. E porque não queria deixar de pensar nos clubes que se dedicam à iniciação e formação de jovens, através de uma ou mais modalidades desportivas, tenho tido a possibilidade de verificar que, no nosso país existem bons exemplos de boas práticas, alicerçadas na influência positiva dos seus Treinadores.

Existem clubes em que ao Treinador é reconhecida competência não pelo que diz, mas pelo que faz e pelas mudanças que incrementa passo a passo. A esses clubes terá um dia, por reflexo de uma identidade maior, de ser reconhecida a sua verdadeira utilidade pedagógica e pública, o seu verdadeiro contributo e complemento para uma educação vasta de experiências enriquecedoras. É neste sentido que a muitos clubes nos atrevemos a denominar Escolas.

Nesta linha de reconhecimento, se por ventura a identidade maior do nosso Desporto Juvenil passar pela valorização do espaço escolar enquanto “templo” de uma pedagogia representativa de uma identidade maior, não poderemos esquecer os Clubes Desportivos que sempre valorizaram o Desporto numa perspetiva educativa, mesmo que em muitos momentos fosse competitiva.

Há uma história de formação desportiva no nosso Desporto que nunca deverá ser esquecida, mesmo que à Escola possa vir a ser reconhecida a competência de promover, valorizar e dinamizar a Formação Desportiva. Do mesmo modo, deverá a Escola estar atenta e existirem agentes de reconhecida competência pedagógica, capazes de diminuir os maus exemplos vindos de outros agentes desportivos, que incapazes de dominarem o seu ego, insistem em continuar a proporcionar às crianças e jovens que praticam desporto exemplos de má conduta e desrespeito pelo espírito desportivo. O Basquetebol continua a ter exemplos vivos dessa conduta, pelo que queremos acreditar que o espírito inovador que os seus agentes de mudança – Os Treinadores - sempre manifestaram, se manifeste agora nesta era de mudança e transformação social.