30 Anos à Frente
 
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30 Anos à Frente

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Prof. Teotónio LimaPara o artigo desta semana estava previsto dar continuidade ao tema da semana passada – Lançar muito ao cesto. Certo é que a continuidade do tema não está esquecida, mas não poderia deixar passar o momento próprio

para partilhar com os leitores do Planeta Basket um evento, a meu ver, justamente e oportunamente realizado – Homenagem ao Prof. Teotónio Lima.

Tendo dedicado há semanas atrás um artigo ao professor Teotónio Lima, aquando do seu falecimento, não poderia deixar passar o fato de ter tido o privilégio de poder estar presente nesta iniciativa. Relata-la na íntegra não faria sentido, enaltecer a iniciativa também não é propósito deste artigo, porque na verdade esse reconhecimento foi devidamente feito no momento próprio e pelas pessoas certas. Mas, do evento sobressaiu algo que me parece poder ser útil para um momento que se antevê de reflexão sobre o basquetebol nacional.

Nesta homenagem várias personalidades diretamente ou indiretamente associadas a Teotónio Lima foram unânimes em dizer que o mesmo foi um dos grandes pensadores do nosso desporto, revelando a sua escrita sinais evidentes de que à época o seu pensamento estaria 30 anos à frente no tempo. Saberão melhor do que ninguém aqueles que nesse tempo viveram e desempenharam funções no Desporto Nacional e particularmente aqueles que trabalharam e aprenderam com os pensamentos e os atos do Prof. Teotónio Lima.

O que é facto é que 30 anos depois é possível dizer que muita coisa evoluiu em conformidade com muito do que Teotónio Lima nos deixou escrito. Esse facto não podemos negar, evoluímos. A realidade em que Teotónio Lima iniciou a sua função de treinador, a realidade em que muito da sua obra escrita foi editada, não é hoje a mesma, para bem do desporto nacional. No entanto, ficará a dúvida, em comparação com a realidade, a mentalidade e as preocupações de outras nações, se eventualmente não estamos a caminhar para um cenário em que poderemos recuar novamente 30 anos e depararmo-nos (perante melhores condições de prática) com problemas mais graves dos que tínhamos há precisamente 30 anos.

Nos anos 40 do século passado, por decreto lei, o governo da altura foi perentório em dizer que os desportos eram a antítese do desenvolvimento humano e que não contribuíam para o desenvolvimento moral. Nos nossos tempos, estamos mais esclarecidos e mais conscientes do papel da Educação Física e do Desporto no desenvolvimento humano. Mas se realmente houve evolução porquê continuarmos insatisfeitos com o nosso desporto e educação física escolar? O que nos poderia dizer e escrever Teotónio Lima, de acordo com um pensamento, que certamente estaria 30 anos à frente no tempo?

Ainda questionando, que transformações existiram para que o Basquetebol Português sofresse iguais transformações e se instalasse a sensação de que as coisas não estão como há 30 anos, mas não estão tal como se pensou o futuro há 30 anos atrás?

Esta dessincronização temporal entre quem pensa e quem decide também evoluiu, uma vez que constatamos que as decisões escasseiam e são lentas. Curiosamente num tempo onde é consensual que a prática desportiva e os estilos de vida saudável são aspetos fundamentais do desenvolvimento humano, o basquetebol depara-se com problemas de sustentabilidade e visibilidade, havendo necessidade de juntar sinergias para encontrar uma bússola e definir nova rota.

A reflexão sempre fez parte da forma de estar dos agentes ligados ao Basquetebol, pelo que não será desta vez que deixaremos de refletir. Mas teremos de equacionar a hipótese de pensar estrategicamente para 30 anos à frente. Estruturando uma lógica, ideias claras e ações coerentes com as ideias que emergirem da participação de muitos.

Opiniões e contributos não faltarão certamente. Mas esbarraremos sempre com uma parte do percurso onde atravessaremos um deserto. Um deserto de incertezas e de algum desamparo decorrente de não existir de forma estruturada, interligada e operacional uma identidade e política desportiva no nosso País. Ao contrário do tempo em o Prof. Teotónio Lima pensou e escreveu, numa filosofia de pensamento 30 anos à frente. A nossa ideia cultural e politica do desporto não sente vital importância para que algo se semeie pensando numa colheita a longo prazo.

O Desenvolvimento Desportivo só fará sentido se procurar provocar uma transformação social, psicológica e física significativa a cada praticante que dele desfrute de experiências positivas. Caso contrário, estaremos em condições de, 60 anos passados, voltarmos a ter na legislação um decreto lei que proíbe a atividade desportiva. Nessa altura, precisaremos de quem pense, de quem decida e de quem atue. E agora, temos tudo isso?

 

Comentários 

 
+1 #1 Humberto Gomes 14-05-2015 00:51
Meu caro João Ribeiro:
Regressado de uma festa de aniversário, em boa hora - ainda que tarde para os hábitos de um veterano - fui ao Planeta, não o da Terra mas o do Basket. E ainda bem !
Aquando da última Festa do Basquetebol, um amigo de peito, mais veterano do que eu, me dizia: "tu aprecias mesmo o João Ribeiro, verdade?".
Sim, é verdade, aprecio muito o João, enquanto pessoa, face à sua nobreza de carácter e lhaneza de trato, e enquanto fautor de matéria escrita que me obriga a "ir a jogo", à procura de uma camisola, nem que seja para "alinhar" no banco.
Ouvi, já lá vão uns anitos, de Eduardo Sá : "nascemos com dois únicos dons: sensibilidade e inteligência". E como o João os tem cultivado !
Se me competisse "fazer alinhar", chamaria pelo João Ribeiro para o "melhor cinco", em 11 de Julho, em Coimbra, porque ele personifica tão bem o "Basquetebol Primeiro".
Brilhante, João !
Aquele abraço.
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