Fundamentos: o que são?
 
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Fundamentos: o que são?

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alt“O básico é importante” - Citação de Aíto Garcia Reneses feita por António Carrillo no Clinic Internacional de Minibásquete da AB Porto, março de 2015.

Todos nós treinadores de basquetebol quando vamos a um Clinic de um treinador mais ou menos famoso ouvimos duas palavras reiteradas, ou pelo menos ouvíamos pois uma delas encontra-se agora um pouco em pousio. É ela a palavra “fundamentos”. A outra é - como não poderia deixar de ser - a palavra “filosofia”, e isso acontece pelo menos desde Clair Bee esse grande treinador e talvez o primeiro grande escritor desportivo do mundo do basquetebol.

Mas o pousio é uma realidade e o termo fundamentos não tem vindo a ser tão usado quanto era digamos, há uns vinte ou trinta anos.

E que significava o termo? Penso que todos ou quase todos entendiam por ele a “técnica individual”, isto é, os elementos de que são constituídos os sistemas de jogo e sem os quais os jogadores não conseguem revelar todo o seu esplendor. Isso era provavelmente o que a grande maioria dos que proferiam essa palavra efetivamente queriam dizer pois os exemplos que davam do termo eram inequívocos: lançamento, passe, drible, ressalto.

Mas há outras interpretações, algumas mais modernas, outras quiçá, mais antigas e fundamentais. Há quem tenha até, com felicidade, jogado com o termo e acentuando as quatro primeiras letras do termo em inglês tornado “FUNdamentals”. É que o método analítico de ensino do basquetebol interpretado por muitos de nós de forma estrita e desequilibrada fez com que o ensino das técnicas se tornasse algo de aborrecido principalmente para os principiantes. Saber dar a volta em termos metodológicos no ensino do jogo e das técnicas foi e continua a ser um aspeto fulcral de um bom ensino. As técnicas têm de ser ensinadas pois sem elas não há uma elevação consistente do nível de jogo, mas o seu ensino tem de ser cativante, adequado à idade, à maturidade e à fase de aprendizagem em que a criança e jovem se encontre.

Se a aceção de técnicas básicas do jogo e desde logo a trilogia do Lançar, Passar e Driblar a que se pode e deve acrescer o Desmarcar/Receber e o Ressaltar (e o trabalho de pés e fintas que se integram em cada uma das “técnicas” anteriormente mencionadas) é um caminho por onde se pode seguir com proveito, outros há que se pode desbravar. Não há, com efeito, fundações comuns a várias destas “técnicas”? O equilíbrio, a consistência, a tonicidade, a visão de jogo, a disponibilidade e a prontidão? James Naismith (1861-1939), o inventor do nosso jogo, no seu livro Basketball. Its origin and development, publicado postumamente em 1941, incluiu dois interessantes apêndices. O apêndice E consistia na classificação dos atributos desenvolvidos pelo jogo e outras atividades atléticas. E o F era a definição dos atributos desenvolvidos ou utilizados nas atividades atléticas. Aí se encontravam 34 atributos que vão desde os que são de natureza mais fisiológica até aos sociais passando pelos psicológicos. Desses atributos muitos facilmente poderíamos hoje considerar como verdadeiros fundamentos do jogo. E que dizer da posterior pirâmide do êxito concebida por John Wooden? O que são muitos dos seus “tijolos”?

Não são essas coisas todas fundações que subjazem às técnicas e às táticas? Não são esses os verdadeiros fundamentos? E não há detalhes biomecânicos, bioenergéticos e psicológicos que são muitas vezes o que produz a diferença entre o sucesso e o insucesso? Só para nos remetermos a questões de ordem biomecânica nós sabemos - embora nem sempre exijamos coerentemente nos campos de jogo – a importância da posição da cabeça, das mãos ou dos pés para receber e lançar e da flexão das pernas ou dos braços na receção da bola ou no que antecede a ida ao ressalto. Não reside em trabalhar esses aspetos o que faz ganhar em vez de perder?

Quando alguns grandes treinadores têm algumas daquelas tiradas lapidares como, “basquetebol são ângulos e espaços”, “basquetebol é meter a bola no cesto”, “basquetebol é lançar e circular” no fundo não estão a referir-se também a fundamentos? Quando vemos uma grande equipa em ação todos os gestos são funcionais e despidos de sincinesias, de gastos inúteis, tudo o que é feito tem significado interno para a própria equipa mas consegue omitir-se e ser portador de incerteza para o adversário. Sem a beleza dos detalhes que são nutridos de fundamentos nada disso seria possível embora no final os transcenda.

Há já algumas décadas os aspetos táticos e estratégicos tem vindo a ser colocados no seu devido lugar. Afinal o basquetebol é antes de mais um jogo onde a técnica e o físico estão subordinados à vertente estratégico/tática. Demorou tempo a que isto fosse afirmado em plenitude. Ninguém diz, pelo menos os sensatos, que a técnica é pouco importante. Houve quem dissesse de forma feliz que a técnica é segunda mas não é secundária. Afinal de nada serve a tática, e esta existe nos desportos coletivos em três níveis, lembre-se – a individual, a de grupo e de equipa – sem técnicas, movimentos e corpos ágeis e inteligentes que a realizem. E na tática não há verdadeiros fundamentos que subjazem a níveis mais elevados de interpretação? Muito mais do que sistemas em que certos fundamentos são erigidos, alguns movimentos do jogo deveriam ser antes considerados fundamentos do bom jogo, passíveis de serem utilizados por sistemas dignos desse nome. É que sistemas, como o nome diz, supõem algo de complexo, composto por elementos conectados e organizados em rede com vista à obtenção de objetivos no caso do ataque ou defesa no basquetebol. O “dribble drive” antes de ser erigido a sistema, na unidade menor em que se pode decompor, - uma penetração seguida de finalização ou assiste interior ou exterior -, ou o “passing game”, - tentativa de desequilibrar a defesa utilizando a arma do passe, - nesse caso podem ser considerados fundamentos em que num momento ou noutro e integrados num nível orgânico mais elevado um treinador/equipa possa recorrer para atingir um objetivo central do ataque: criar uma situação idónea de finalização.

E ainda ao nível estratégico e tático há outra expressão que bem se pode caracterizar como fundamentos: o que são os princípios básicos de jogo, ofensivos e defensivos senão isso? Manter ou recuperar a posse da bola; fazê-la avançar ou travar o avanço desta no terreno de jogo; criar situações de finalização ou impedir a sua criação. E para acabar este escrito penso que vem a propósito um alerta que nos é deixado pelo professor Júlio Garganta, especialista de futebol da Faculdade de Desporto da U. do Porto: “O jogo é uma unidade e, como tal, o domínio das diferentes técnicas (passe, condução, remate, etc.), revelado pelos praticantes, embora se constitua como um instrumento sem o qual é muito difícil jogar e impossível jogar bem, não permite necessariamente o acesso ao bom jogo.” O que se diz para técnicas, serve bem para “fundamentos” entendendo-se estes com a largueza ou estreiteza que se lhes queira atribuir.

E terminando talvez por onde deveria ter começado entende-se por fundamentos aquilo que vem nos dicionários de língua portuguesa e que vai de: “1. Base principal; 2. Prova; 3. Causa; 4. Motivo; 5. Fundação” a “6. Alicerce.” Fui ver o dicionário no fim de escrever o texto. Se fosse no princípio talvez tivesse percorrido outros caminhos. É que no caso do basquetebol todas estas significações podem ser utilizadas com proveito.


"fundamentos", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/fundamentos [consultado em 09-04-2015].

 

 


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