No calendário basquetebolístico nacional os meses de Maio e Junho são intensos e recheados de momentos decisivos. Play-offs da Liga Portuguesa de Basquetebol, da Pró-liga,

aproximam-se as fases finais dos campeonatos nacionais de jovens, acontece a Fase final nacional do escalão de sub 14. Sem dúvida um período alto da competição nacional, onde apenas citamos algumas das atracções desportivas.

Porém, parece que tudo acontece neste período noutros contextos. No contexto escolar podemos dizer que também se aproximam vários pontos altos: as avaliações do 3º período, a aproximação dos exames nacionais. E se pensarmos no Desporto Escolar atingimos o auge de concentração de atividades de relevo: as Fases Regionais e Nacionais do Desporto Escolar e do 3x3 Basquetebol nas Escolas realizam-se também durante o mês de Maio.

Numa primeira análise poderemos dizer, em tom mais informal de que se trata de um momento do ano rico de experiências enriquecedoras para os jovens em idade escolar. Contudo, parece-me mais apropriado expressar alguma preocupação pelo facto de podermos estar a cometer um equívoco grave na forma como distribuímos temporalmente estímulos formativos (de enorme importância para o seu crescimento) aos jovens. A metodologia do treino e as várias Teorias da Aprendizagem apontar-nos-iam alguns erros metodológicos de queremos tanto ensinar e estimular, correndo o risco de não deixarmos ninguém aprender. Mas deixaremos esse julgamento crítico para outro momento.

Se seguíssemos os princípios do treino e a dinâmica da carga de treino, facilmente depararíamos com riscos relevantes de que a carga externa pudesse provocar um carga interna nociva e não formativa. Se respeitarmos as leis da aprendizagem, também nos parece que o rendimento escolar poderá facilmente ficar comprometido. Isto porque simplesmente a divisão de atenção e foco motivacional dirigido para todos os aspetos importantes de sucesso de um jovem poderá gerar, nalguns casos, um conflito de interesses onde a incoerência se revela.

Se pensarmos sobre a utilidade de um atleta planear e organizar o seu dia-a-dia, sendo estimulado a conceber um plano semanal de tarefas e divisão de responsabilidades, somos confrontados com os adultos que, simplesmente não sincronizam nem planeiam em função das necessidades dos alunos/atletas.

Ao estimularmos um aluno/atleta a dar o seu máximo sempre, não podemos conceber que o mesmo possa ter uma boa gestão de tempo, se por ventura tiver uma semana cheia de testes, antecedidas com a Fase Regional do Desporto Escolar e o jogo que decide a ida a uma Fase Final de uma modalidade coletiva do seu interesse, já para não falar de um trabalho de grupo que o impede de treinar e estudar regularmente.

Se pudermos utilizar adequadamente a palavra rendimento neste contexto, não podemos conceber como algo positivo que simultaneamente aos momentos de decisão académica se sobreponham momentos e decisão desportiva. Uma das partes será influenciada pela outra.

Questiono-me sobre que soluções para resolver a complexidade deste conflito de interesses? Nenhumas das áreas focadas conseguirá distanciar-se e pensar no todo, pois na verdade a grandeza do seu funcionamento dificilmente permitirá abertura para encontrarmos um patamar de equilíbrio.

Mais uma vez somos levados a concordar com o companheiro António Paulo Ferreira e com os navegadores marítimos que deram vida aos Descobrimentos. A bússola é um instrumento riquíssimo para podermos “navegar” numa determinada direção. Porém, a bússola é meramente um instrumento, que o Homem desenvolveu perante uma ideia pré-definida, algo que realmente entende ser o princípio básico que orienta a sua acção. A bússola guiá-lo-á para onde realmente se quer dirigir.

É uma realidade que fácil é certamente escrever sobre este tema, pois difícil é encontrar um caminho e defender que o mesmo é o mais correcto. Não possuo solução para este problema, mas ficarei eternamente agradecido se alguém, com poder de decisão, finalmente conseguir traçar um rumo onde seja claro dar resposta a estas questões:

• Qual o papel que o Desporto Infanto-Juvenil terá no desenvolvimento de uma criança e jovem em idade escolar?
• De que forma se poderão cumprir os objectivos do desporto para crianças e jovens?
• De que forma poderemos incutir, na cultura de um povo que parece apenas conhecer a palavra chuta e golo, a ideia de que a Educação Escolar e a Educação Desportiva poderão complementar-se, trabalhando para o mesmo fim, em prol de uma sociedade mais evoluída, participativa?

Dirão muitos dos que defendem que o serviço militar obrigatório faz falta no percurso das gerações mais novas, que na sua ausência se perdeu um momento de real importância na construção de um adulto civicamente preparado para a vida. Eu diria que a obrigatoriedade deveria ser dada, no percurso formativo de uma criança e jovem, à existência de um plano equilibrado e a longo prazo, onde a possibilidade de se avaliarem os reais progressos académicos e desportivos se complementassem no tempo, não criando interferência significativa da curva de aprendizagem.

Demagogia bem sei, mas cientificamente há muito que se conhecem as leis que regem a aprendizagem (independentemente dos modelos teóricos explicativos) e os efeitos da carga ou estímulos prescritos para crianças e jovens em idade escolar (independentemente dos autores). Deste conhecimento quase me apetecia dizer que de segunda até sexta-feira à noite, na maioria das semanas do ano, deveríamos ser capazes de enquadrar um horário escolar e desportivo. Talvez os efeitos da carga gerassem algum fenómeno de super compensação e o rendimento fosse outro nos vários focos de interesse avaliativo da criança e jovem.