Passei toda a semana passada no lugar das Almas na freguesia de Santo Espirito, na casa que me foi emprestada pelo Marco e pela Livramento. Este lugar de verdes,

intensos e deslumbrantes, no meio da serra na ilha de Santa Maria transmite-me uma noção de calma e tranquilidade impar. As amizades que o minibásquete me proporcionou nestes últimos quinze anos são incomensuráveis. Compreender a vida é percepcionar que esta é feita de grandes e pequenos prazeres. Estar bem de saúde é uma das maiores alegrias que podemos ter, mas disfrutar de uma manhã silenciosa naquele lugar paradisíaco é para mim um dos pequenos prazeres, que dão sal e tempero, que tornam a vida mais deliciosa.

Apesar de ter passado uma semana no lugar das Almas tento, no que diz respeito à apreciação do estado do basquetebol e dos seus resultados, não ser muito dado a estados de alma, em que ou somos os maiores, porque até conseguimos ser vice-campeões da europa e organizar campeonatos soberbamente elogiados pela FIBA, ou somos a pior modalidade de pavilhão em Portugal, como muitos arautos da desgraça apregoam. Nem tudo no basquetebol está bem ou nem tudo no basquetebol está pelas ruas da amargura. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Vem este artigo escrito em Santa Maria a propósito de uma reflexão que bailava na minha cabeça, desde os resultados dos femininos dos últimos europeus. Ao analisar de uma forma calma e tranquila o que foram os sucessos e insucessos do último europeu reparo que a linha que separa ambos é extremamente ténue. Vem esta reflexão a propósito dos resultados, que as selecções de Sub-16 e Sub-18 femininas obtiveram no último verão.

Sobre o europeu de Sub-16 femininos escreveu Manuel Assunção no “Jornal o Público” de 27 de Agosto de 2015: “Apesar de três derrotas nos cinco primeiros jogos, as estrelas alinharam para Portugal que conseguiu garantir a última vaga nos quartos-de-final e a partir de aí fazer um trajecto magnífico, que incluiu surpreender a até então invicta França (62 – 54) e a Espanha (64 – 44), campeã em oito das onze edições anteriores, para só ser travada na final pela República Checa”

Durante o europeu de Sub-18 femininos escreveu o Presidente da Federação num email largamente divulgado: “Primeiro a categórica vitória sobre a Polónia por números impressionantes (…) Finalmente ao provocarem o nervosismo e sofrimento à fortíssima Espanha, com posse de bola para terminar. A verdade é que se concretizássemos já não haveria prolongamento.”

Sou pouco dado à astrologia, mas tenho que reconhecer que se por um lado as estrelas, como diz Manuel Assunção estiveram alinhadas nos Sub-16 femininos, as mesmas desalinharam-se nos Sub-18 femininos. Tivéssemos vencido o jogo com a Espanha e a nossa selecção, que ou venceu por muitos ou lutou até ao fim com todos os opositores de igual para igual, teria conseguido ficar entre os 8 primeiros, em vez de ter baixado e divisão.

As circunstâncias, como por exemplo uma decisão menos feliz duma arbitragem, ou outros factores que os treinadores não podem controlar  condicionam muitas vezes os resultados e levam a  que  a linha entre o sucesso e o insucesso seja às vezes indubitavelmente muito ténue.

Faz este mês um ano em que o meu pai pessoa de enorme ponderação e sabedoria da vida imensa faleceu. Várias vezes ouvi-o dizer-me, que a diferença entre ser considerado, por exemplo, persistente ou teimoso é muito ténue. As circunstâncias e a tua atitude levam-te a alcançar os teus objectivos e és considerado persistente. Com a mesma atitude, um acaso uma decisão que não está nas tuas mãos controlar levam a que não obtenhas os objectivos propostos passas logo à categoria de teimoso, que não percebeste logo que aquilo a te propunhas não era possível. É assim a vida cheia de ténues linhas.