A vida dos árbitros e oficiais de mesa no seio da modalidade de Basquetebol é muito diferente da dos restantes agentes. Quem está fora desta atividade tem alguma dificuldade em perceber
como se pode gostar de estar numa posição muitas vezes tão ingrata.
O que muita gente não sabe é que os juízes também atuam em equipa e, diversas vezes acontecem momentos insólitos dentro e fora de campo. O Planeta Basket pretende dar a conhecer algumas destas histórias contadas na primeira pessoa.
O primeiro juiz a contar uma história é o comissário/observador Bruno Casinha, atual presidente do Conselho de Arbitragem de Santarém e ex árbitro nacional.
Ficou o pedido do Planeta Basquete para passar ao papel uma(s) “aventura(s)” da qual tenha recordações nestas duas décadas ligado à arbitragem, repto aceite imediatamente.
Como todos perceberão algumas por terem algum “picante” não poderão ser passadas ao papel e outros terão que ficar no “segredo do balneário” por envolverem terceiros que poderão não querer ver a(s) história(s) tornada(s) publica(s)…
Ficam portanto alguns episódios caricatos, a provar que sou um grande cromo:
1. Ainda nos meus primeiros anos de arbitragem, estando num torneio de 3 dias, resolvi meter conversa com uma treinadora, por sinal muito bonita. A conversa ia bem, eu ia lançando a escada e ao fim de 15 minutos ouvi da boca dela, dito com um sorriso nos lábios: olha és um rapaz muito giro, tens uma conversa mesmo agradável, mas escusas de estar com ideias porque eu sou lésbica e gosto é mesmo de mulheres! Ainda consegui balbuciar “é mais uma coisa que temos em comum!”, mas tive que sair dali da maneira mais airosa possível. Serviu de lição…
2. Nunca percebi a estranha recomendação de usar boxers pretos quando se arbitra até… até estar no Pavilhão do Instituto D. João V a fazer um jogo da taça feminina contra o Olivais! A cerca de 1 minuto do fim do jogo, uma jogadora intercepta um passe junto á linha lateral, vindo a bola na minha direcção. Tentando desviar-me acabei por saltar, abrindo as pernas, para não tocar na bola e ouvi um “bac”. Quando vou repor a bola junto ao banco, o treinador diz-me “Bruno, rasgaste as calças no rabo, vêm-se as cuecas, pá!”. Ainda pensei que ele estava a brincar mas instintivamente passei a mão pela parte de trás das calças e percebi que tinha um buraco com uns 2 cms e que as cuecas se deviam ver! Que vergonha!
Os boxers eram azuis claros e viam-se claramente! Passei o minuto de jogo que faltava a ouvir as jogadoras de um dos bancos “ai o azul”, “ai que eu gosto tanto de azul” ou “apetecia-me qualquer em azul, sei lá”. Os boxers eram azuis e eu estava vermelho, corado de vergonha! Findo o jogo peguei no blusão, atei-o á cintura e sai o mais depressa que pude para o balneário.
Obviamente comprei uma caixa de boxers pretos no dia seguinte…
3. As viagens às Ilhas acabavam por trazer alguns episódios divertidos, desde colegas que adormeciam, se esqueciam de algo no hotel, avarias com os carros de aluguer, mas o mais caricato aconteceu-me numa viagem de Lisboa para o Funchal, com um colega, pouco depois dos atentados do 11 de Setembro.
Como era hábito fazíamos o check in por telefone e o ponto de encontro era junto ao balcão para apresentar o BI e receber os cartões de embarque. Estávamos neste procedimento quando digo ao meu colega, em tom de brincadeira: “trouxeste o teu cartão da Al-Qaeda? Olha não rebentes a bomba antes de servirem a refeição, tem la calma, quero comer primeiro!” Ainda estávamos a sorrir quando vi um distintivo á frente dos meus olhos e um agente á paisana nos dizer: “voltam a falar em Al Qaeda ou bombas e vamos ter que vos levar para interrogatório e revistar a bagagem! Os senhores querem seguir viagem calmamente ou fazer-nos companhia?”
Só voltei a falar já dentro do avião…
Fantástico, obrigado Bruno! Um abraço do Planeta Basket Team.
Comentários
Grande abraço.