ACB = NBA?
 
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ACB = NBA?

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FracoBom 

Nuno TavaresComeçou esta semana a Liga Endensa/ACB e promete ser uma das melhores de sempre.

Cada semana que passa mais tenho a certeza que Espanha está no top 3 do desporto mundial, e este domingo comprovei mais uma vez isso.

Muitas das vezes deparamo-nos com países que têm grandes condições em termos de instalações desportivas, logística, população e até monetária mas não conseguem atingir nenhum patamar em termos de desporto de alta competição, aliás, uma prova disto é a já longa “batalha” dos Estados Unidos na implementação do seu “soccer” (futebol), através de investimentos grandiosos na contratação de estrelas do “velho” continente mas que pouco ou nada resulta. Quando hoje esperava pelo metro a caminho do Palácio de Deportes Comunidad de Madrid, olhava à volta e concluía o pensamento que à pouco relatava sobre o “soccer”, a razão pelo que nos Estados Unidos o futebol  não resulta é simples, não existem raízes e cultura em relação à modalidade (falando de escalões séniores pois nos liceus o “soccer” é muito praticado especialmente por raparigas), e ali estava eu, no meio de centenas de pessoas a caminho do Real Madrid – Baloncesto Fuenlabrada a perceber uma das razões porque o basquetebol é tão popular neste pais.

Escolhi o titulo ACB = NBA? porque já tive o privilégio de assistir a vários jogos da NBA e, depois deste domingo, posso dizer que a ACB está muito perto da NBA. O Real Madrid irá jogar esta época no Palácio de Deportes Comunidad de Madrid (casa também da outra equipa de Madrid, o Asefa Estudiantes), um multiusos de luxo, com as mesmas condições do que qualquer outro pavilhão de top no mundo. Ao chegar ao jogo entre o Real Madrid – Baloncesto Fuenlabrada fiquei impressionado com o que via à volta, as ruas que davam acesso ao pavilhão estavam cheias de pessoas, todas vestidas a rigor para assistir ao jogo, mas longe de pensar o número que mais tarde ouvi em relação ao público presente no jogo, 9314 pessoas, mais assistência do que a média dos jogos de futebol da segunda liga e muito acima de muitas das equipas da primeira divisão (a média de assistência da primeira jornada da liga Endensa foi de 6987 pessoas).

Antes do jogo começar, conversava com um senhor sentado ao meu lado que me dizia que o basquetebol espanhol melhorou muito nos últimos 20 anos, especialmente devido a uma grande aposta em duas vertentes, nos escalões de formação, onde seguiu-se uma orientação de estender o mini basquetebol e o escalão de iniciados a todos  os pontos do país, de modo a ter muitos praticantes, mas em todas as regiões (e não ter a modalidade concentrada em meia dúzia de distritos como acontece em Portugal) e a formação dos treinadores, em todos os níveis de competição, de modo a que os milhares de atletas que começavam a chegar à modalidade pudessem ter pessoas qualificadas a orienta-los, quer em termos técnicos, quer em termos pedagógicos (de referir que a Associação de Treinadores de Basquetebol de Espanha é a maior associação de treinadores da Europa).

O jogo entre o Real Madrid – Baloncesto Fuenlabrada foi um jogo eletrizante, com a equipa visitante a jogar de igual para igual com o todo poderoso Real Madrid que apresentava a sua mais sonante contratação, o campeão europeu de seleções Rudy Fernandez, no entanto, quem se destacou foi Sérgio Llull que saltou do banco para marcar 20 pontos e 5 ressaltos. O Real Madrid acabou por ganhar naturalmente por 88 – 77 terminando o jogo debaixo de uma estrondosa ovação dos 9314 pessoas que assistiram ao encontro.

Uma das coisas que mais reparei foi a quantidade de crianças espalhadas pelo pavilhão, acompanhadas pelos pais, tal como pessoas de todas as idades e géneros, todas regulares espetadores da modalidade ao longo dos anos.
Já com o pavilhão quase vazio, permaneci mais uns minutos sentado a contemplar o mesmo e a recordar que quando comecei a jogar basquetebol, no início da década de 90, o Benfica jogava de igual para igual com qualquer equipa europeia, lembro-me das vitorias contra o Buckler Bolonha, Partizan Belgrado, Joventud Badalona, Panathinaikos, Real Madrid, entre outros, autênticos colossos do basquetebol europeu, com orçamentos muito maiores que o do Benfica. O pavilhão da Luz “cheio até às costuras”, centenas e centenas de pessoas acorriam para ver Pedro Miguel, Carlos Lisboa, Mike Plowden entre outros, mas não só o Benfica enchia pavilhões, o Porto e a Oliveirense (e outras equipas) faziam o mesmo, e passado 20 anos pergunto, o que de tão errado correu, para Espanha encontrar-se no nível que se encontra, e Portugal ter perdido toda a cultura, público e competição que antes já tivera. Não posso aceitar a desculpa do dinheiro ou que somos um povo pequenino, porque dinheiro já houve e muito e atletas altos é uma questão de procurá-los através de um plano bem definido para a modalidade, junto das escolas por exemplo.

Quero acreditar profundamente que o que já em outra hora foi uma modalidade de sucesso um dia possa voltar a ser. Talvez seja preciso fazer o que o meu professor de Pedagogia do Desporto e das Atividades Físicas, Olímpio Coelho dizia nas aulas, é preciso mudar os pensamentos para depois se mudar as práticas.

 

Comentários 

 
0 #3 vitinho 25-10-2011 21:26
a Ovarense pode ser um exemplo em muitas coisas mas nao o é na qualidade do seu trabalho de formaçao. quantidade nem sempre é qualidade. mas principalmente nao o é a encher o seu pavilhao. os clubes principais portugueses sao tambem responsaveis do estado do nosso basquetebol. cpts
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+2 #2 www 13-10-2011 14:42
Antes de mais, gostaria de dizer de destacar a qualidade do artigo.
Pegando no exemplo da cultura desportiva, parece-me que é essa é um dos obstáculos com que o basquetebol se depara em Portugal, onde existe um cultura verdadeiramente "futeboleira".
O facto de Espanha se ter adiantado em relação a Portugal no âmbito desportivo, deixando de lado os habituais "clichés" da falta de dinheiro e outros mais, no meu entender deve-se em muito à realização dos JO Barcelona' 92 que gerou toda uma dinâmica desportiva de especial relevo.
Quanto aos atletas altos, como bem referiu eles existem a verdade é que pouco se tem feito nesse sentido e basta olhar para o que a federação francesa de basquetebol faz nesse âmbito para entender que algo pode ser feito.
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+2 #1 de 12-10-2011 21:45
Excelente artigo. Apenas a reparar que não mencionou na questão da envolvência de basquetebol, a Ovarense é lider nesse aspecto, sendo uma cidade que respira basquetebol desde sempre e é o melhor(e quase digo único no país) na relação entre as pessoas e o clube. Se fizermos um estudo em Ovar, concluiriamos que 90% dos jovens em idade escolar em Ovar, jogam ou ja jogaram no clube.
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