Em 2013 Bobby Knight fez sair um livro com um título aparentemente provocatório, “O poder do pensamento negativo”,
digo aparentemente pois Knight demonstrou plenamente no corpo do texto os argumentos que validam o título que lhe resolveu colocar.
A leitura desse livro (edição brasileira), no seu todo e do princípio ao fim deu-me um prazer imenso tão significativas são as lições que nele são transmitidas e tão fluidamente nele estão vertidas. “Lições dadas e lições recebidas” pelo autor como Seth Davis escreveu também relativamente a outro grande treinador (John Wooden) por quem, aliás, Knight nunca morreu de amores.
Cada segmento do livro marcado por um subtítulo é em norma um ensinamento baseado numa história que o autor viveu, que lhe contaram ou que leu. Knight gosta visivelmente de contar histórias e delas retirar as lições que ele fixará e que transmitirá aos outros, principalmente aos jogadores no período de cerca de 40 anos em que foi treinador, e agora aos seus leitores e ouvintes, num período em que está retirado do ativo como treinador e é comentador televisivo.
Este texto que escrevo é uma espécie de recensão ao livro logo após a sua leitura. Utilizo sobretudo citações do livro pois elas falam por si e não necessitam muitos comentários acrescidos. Organizo as citações numa forma e numa cronologia algo diferente da que aparecem no livro. Os títulos e o texto quando não enquadrados de aspas são da minha responsabilidade. Espero que esta recensão ela seja um aperitivo e um bom estímulo para que tenham vontade de ler o livro e o meu desejo é que gostem tanto de o ter feito como eu.
Filosofia de jogo e de treino
“O basquete, assim como a vida, é um jogo de erros. Apesar de milhares de anos de melhorias, os seres humanos não jogam nada com perfeição. Enquanto treinador, você deve entender que não é o desenvolvimento do seu ataque ou da sua defesa que vai fazer do seu time um provável ganhador; é a eliminação dos erros, daqueles detalhes que prejudicam o rendimento numa partida de basquete:
Manejo de bola sem qualidade; Arremessos forçados; Recuperação lenta na transição defesa-ataque; Faltas desnecessárias e mau aproveitamento na cobrança de lances livres; Bloqueios ineficazes nos rebotes; Defesas sem cobertura e descoordenadas.”
O treino como um processo inteligente de eliminação de erros
“… enquanto treinador, sempre tentei eliminar os erros, porque a posse de bola era um recurso limitado, e tínhamos que tentar levá-la à cesta sem perder a oportunidade de fazer um arremesso. Para o jogador saber quando manter a bola, ou passá-la, ou arremessá-la, requer eliminar o barulho da multidão ou a mão do adversário na frente de seu rosto, e tomar a decisão certa quase instintivamente. Por detrás desse instinto estavam dias e semanas de treino para construir uma “memória muscular” do que se deve fazer em seguida — e o que não se deve fazer.”
Um perfecionismo muito próprio
“Até mesmo depois das melhores atuações de minhas equipes, eu sempre tive algo a assinalar sobre o que poderiam ter feito melhor, ou sobre o que evitar no próximo período. Há vários anos, fiz um comercial para Minute Maid, em que minha equipe saía da quadra depois de uma boa atuação, é claro, e eu os recebia com um grande sorriso, biscoitos e palavras gentis. Eu tive de ir até Los Angeles dois dias antes só para me preparar para essa performance. Fui bem-pago, mas ela deveria ter-me rendido um Oscar.”
“… não aceite jamais apenas jogar bem. Sempre se esforce para jogar ainda melhor.”
“Eis minha filosofia, desde o início de minha carreira como treinador, perfeitamente transcrita. O sujeito que sabe tudo ao entrar num jogo — ou numa prova, ou num desafio — em geral esquece tudo diante de uma crise.”
Dois tipos de treinador
“Certa vez, Pete (Newell) me disse, reforçando, sem o saber, o que Andy fizera com aquela insistência defensiva, que havia dois tipos de treinador: os que preferiam a surpresa e a mudança e os que preferiam a simplicidade e a execução — e as equipes da surpresa e da mudança não treinavam em tempo algum para ser eficientes em suas jogadas como as equipes da simplicidade e da execução. Ora, Pete sabia que os caras que faziam surpresas e mudanças sempre impressionavam a imprensa e os fãs com o número de variações ofensivas e defensivas que usavam nos jogos. Mas as equipes da simplicidade e da execução — o Green Bay Packers do Vince Lombardi era um exemplo supremo disso — eram ensinadas a fazer o seu melhor, o que minimiza os erros.”