Ajudar os jogadores
 
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Ajudar os jogadores

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Ajudar os jogadoresSempre que tenho o privilégio de dirigir ou observar um jogo de Basquetebol, nomeadamente nos escalões onde a prioridade é ajudar os jogadores,

tenho por hábito fazer uma pequena reflexão final, destacando comportamentos ou, quando dirijo, pondo-me em causa sobre se realmente ajudei convenientemente os jogadores a meu cargo: terei sido oportuno nas minhas intervenções? As minhas emoções e o desejo de que o jogo praticado seja melhor tiveram influência na minha comunicação com os atletas? Elogiei oportunamente aspetos positivos? Comuniquei oportunamente aos jogadores o que fazerem em situações de erro ou má decisão? Eis algumas questões que me invadem a mente, em simultâneo à realização de “tarefas de treinador de formação”: recolher cartões, arrumar material em colaboração com os atletas, dar uma palavra de agradecimento aos pais ou marcar o treino seguinte.

Enquanto escrevo este artigo e porque deste tema se trata, amparo-me num livro de referência para mim – Saber Treinar Aprende-se, do Prof. Teotónio Lima. E amparo-me porque por vezes ponho-me em causa e questiono-me sobre se realmente estou a aprender bem para desempenhar melhor a tarefa de treinador, ou, se por ventura, possa estar a deixar-me levar pelas tentações dos que pensam de maneira diferente.

Consultando ensinamentos importantes desta obra, verifico que estou certo, mesmo não ganhando sempre e perdendo algumas vezes. Ora vejamos:

O sucesso desportivo de quem joga não deve basear-se exclusivamente no número de jogos ganhos mas relacionar-se com a auto-imagem de cada jogador, a qual deve sair reforçada sempre que em todas as práticas faz prova que melhorou na sua prestação individual (Teotónio Lima, 2000).

Folheando rapidamente outro livro de referência – Treinador de Jovens, o que todos precisam de saber, escrito pelos Profs. Jorge Adelino, Olímpio Coelho e Jorge Vieira – encontro em dada altura:

O Desporto em si não é bom nem é mau, a intervenção do treinador ditará a qualidade da experiência vivida pelo jovem atleta (adaptado de Martens, in Treinador de Jovens- o que todos precisam de Saber, Adelino J., Coelho O. E Vieira J. 2000)

Refletindo sobre a importância do que acima foi citado, parece-me importante concluir que não deixa de ser importante ganhar. Mas há muitas vitórias para alcançar para além daquela que, alcançando-a, o seu efeito dura poucos segundos de euforia (por vezes ilusão). Que vitórias poderemos nós juntar aquelas que ficam registadas nos boletins, valorizando o esforço e empenho dos meus atletas e dignificando a minha intervenção? Atrevo-me a sistematizar algumas:

Do Treinador

  • Todos os jogadores, para além de eventuais correções, foram elogiados pelo menos duas vezes;
  • Sempre que intervimos sobre um erro, não esquecemos de dizer ao jogador ou à equipa o que fazer para que seja possível evitar outro erro técnico-táctico ou comportamental;
  • Constatámos que os atletas aplicaram mais “ferramentas técnicas” que resultaram do que foi ensinado, exercitado, corrigido e melhorado em treino;
  • Quando não nos centramos em aspetos do jogo para os quais não ainda não treinámos nem podemos controlar;
  • Que houve aspetos coletivos do jogo que se expressaram de forma mais consistente;
  • Que na reflexão sobre o jogo conseguimos identificar aspetos para os treinos da semana seguinte;
  • Que a nossa intervenção com os Árbitros, Pais e Treinadores adversários foi cordial e correta;

Relativamente aos nossos jogadores

  • Quando todos os jogadores se mantêm motivados para a aprender, independentemente do resultado;
  • Quando ouvem o Treinador e tentam fazer melhor;
  • Respondem afirmativamente quando questionados sobre se deram o seu melhor;
  • Quando falam de forma entusiasta e positiva de aspetos do jogo (bons e menos bons);
  • Quando mesmo saindo derrotados, não sobrevalorizam o insucesso, abrindo espaço ao convívio são com os companheiros de equipa;
  • Quando se verificam progressos individuais (principalmente dos atletas que se dedicam ou que tendo um ritmo de aprendizagem mais lento finalmente expressam progressos num ou mais aspetos do jogo);
  • Quando sentimos, que apesar do resultado favorável ou não, conseguimos sentir que alguns indicadores do jogo se expressam significativamente (mais contra-ataques tentados, mais ressaltos, menos perdas de posse da bola por maus passes, ou más recepções; mais decisões bem tomadas pelos jogadores na posse da bola; mais jogadores envolvidos em jogar sem bola);
  • Em contrapartida, a derrota também nos deve suscitar reflexão. Quando digo derrota não me limito à derrota que consta no boletim de jogo, mas aquela que decorre da minha forma de estar e se expressa nos meus comportamentos. E aí, ganhar um jogo com comportamentos pouco vitoriosos é como confeccionar comida sem tempero de espécie alguma. Assim como uma derrota temperada com maus comportamentos parece-me indiciar uma digestão difícil.

O que se consideram então derrotas para além das que constam no boletim de jogo?

  • Quando não conseguimos ver os nossos jogadores jogarem com alegria;
  • Quandos os nossos jogadores facilmente se desligam dos aspetos do jogo onde podem exercer influencia e contribuir para a valorização do grupo, para se centrarem na critica aos árbitros, colegas e adversários (se se verificar algo idêntico para com o treinador, podemos considerar este aspeto equivalente a uma derrota administrativa onde 20-0 parece ser um resultado curto);
  • Quando o ponto anterior é causado pelo treinador;
  • Quando as emoções não nos deixam ajudar os jogadores, iludindo-nos que conseguimos ajudar os árbitros a não errar, ou a errar em nosso proveito, pressionando-os;
  • Quando sentimos que em vez de investirmos em boas correções e elogios, investimos em falar mais alto;
  • Quando verificamos que fomos impotentes para minimizar a angústia de um atleta que se sente mal por ter falhado ou que revela fragilidades emocionais para lidar com as exigências de competir em equipa;
  • Quando não conseguimos em pensar em mais nada senão na derrota e vitória que consta no boletim de jogo ou na tabela classificativa;
  • Quando a nossa energia se canaliza para fatores exteriores à preparação e desenvolvimento do nosso grupo.

Mas como em tudo na vida nunca devemos desanimar (caso queiramos continuar a caminhar) eis-me amparado com livros que me relembrem do que não quero ser como treinador de jovens e do que posso melhorar para ajudar os meus jogadores. Ao mesmo tempo, para os que também sentem a angústia de que possam não estar no caminho certo valorizando as vitórias acima referidas, aqui envio o meu abraço e motivação para continuarmos neste caminho vitorioso, mesmo que fora do jogo.

Para me serenar o espírito aguardo por receber via correio o novo livro do Prof Teotónio, que espero retemperar-me para mais uma etapa, alimentar-me de saber e espírito crítico e concluir se, efectivamente valerá a pena continuar a falar destas coisas.

Boas leituras.

 

Comentários 

 
+2 #2 San Payo Araújo 22-10-2014 13:11
Caro João

É sempre um prazer renovado ler os teus textos.

Para que os treinadores possam ajudar os jogadores também é necessário que alguém os ajude. A qualidade das tuas sugestões é excelente,

É evidente que as tuas mensagens podem não influenciar ou "ajudar" toda a gente, mas apenas que influenciasse um treinador. já valiam a pena, e agora falo por mim, as tuas intervenções já me tem ajudado, daí o meu muito obrigado.
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+2 #1 Estefânia Jorge 22-10-2014 11:01
=) Gostei!!
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