O ensino do saber tático na formação
 
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O ensino do saber tático na formação

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Mário Barros

Parece-nos agora ser consensual que a formação tática desempenha um papel fundamental na formação do jogador. Tudo quanto acontece tem origem numa decisão tática (o que fazer)?

É na dimensão tática que se encontram as soluções para os problemas práticos surgidos em todas as situações do jogo.

De facto, a forma como o jogador atua está fortemente condicionada pelo modo como percebe o jogo.

O conhecimento tático define-se como a capacidade de tomar decisões de um modo intencional, dinâmico e dirigido a um objetivo; é adquirido através da experiência e refere-se não só à capacidade de tomar decisões sobre o uso da técnica apropriada à situação como também à capacidade de prever e ler as intenções dos adversários.

Num passado ainda não muito longínquo os treinadores enfatizaram a vertente técnica, conceção que se mostrou limitativa na resolução dos problemas característicos de um processo de ensino e aprendizagem.

Nesta metodologia, denominada tradicional era concedida maior importância à fase de execução em detrimento das duas fases que a precedem, perceção e decisão.

Sendo o basquetebol um desporto coletivo aonde se movimentam vários jogadores no espaço e no tempo e em diferentes relações de cooperação e oposição estas situações levaram à investigação e ao estudo de novas intervenções pedagógicas e de outros modelos de ensino alternativos.

Nestas metodologias o praticante assume o papel mais relevante na solução dos problemas pela capacidade que adquire de se adaptar e responder às diversas modificações que ocorrem durante o jogo.

O basquetebol caracteriza-se por uma grande variedade de informações em curtos espaços de tempo que reclamam dos jogadores respostas rápidas e acertadas.

Surgiu assim na década de 80 o Teaching Game for Understanding (TGFU), modelo alternativo que ajuda o jogador nas tomadas de decisão, na resolução dos problemas e no conhecimento do jogo, adaptando o seu comportamento às sucessivas modificações que se sucedem.

Do ponto de vista pedagógico a eficácia deste processo depende da forma como se vai processar o processo de ensino em coerência com o desenvolvimento do praticante  a nível cognitivo, psicomotor, social e afetivo.

É muito difícil para qualquer jogador atingir o nível de excelência se não tiver bons treinadores na formação; infelizmente não se tem valorizado a sua importância nesta fase inicial de aprendizagem.

A qualidade do trabalho do treinador de formação é determinante para que o atleta possa atingir o alto rendimento e, isso exige dos treinadores um conhecimento específico da modalidade e nas áreas da metodologia, psicologia comunicação e didática.

A formação de um futuro jogador de elite é muito complexa. Os treinadores precisam de aprofundar o seu conhecimento, de saber como aprendem os jogadores para assim podermos transmitir o que queremos e para que eles possam reter o que ensinamos e aplicar no jogo.

Nestas circunstâncias adquire especial importância a programação de conteúdos de treino que assegurem atingir os objetivos que se perseguem.

Sendo assim, nas primeiras fases de iniciação é primordial trabalhar a capacidade de resolução dos problemas e a criatividade , deixando para idades posteriores o trabalho analítico, ou seja, primeiro resolver as condutas tático-técnicas no jogo e mais tarde aprimorar os gestos técnicos para  assim obter uma maior eficácia na sua execução, potenciando-se o desenvolvimento das capacidades individuais em detrimento do sentido coletivo do jogo.

Para ajudar o jogador a tomar as decisões mais corretas é imprescindível que a técnica individual se desenvolva em perfeito equilíbrio com a capacidade tática. As habilidades técnicas devem ser trabalhadas em interação com as exigências táticas.

Cada etapa de formação precisa de um tratamento diferenciado dos conteúdos e da variabilidade dos meios utilizados em consonância com os objetivos do treino, fases de aprendizagem e características dos jogadores.

Com base nestas características o jogo é o principal meio de treino a utilizar; é uma atividade lúdica, socializante e do agrado de todos os jovens praticantes.

Situar os jogadores em contextos globais onde eles devam solucionar os problemas que apareçam no ataque ou na defesa é algo que deva estar presente no processo de treino de aprendizagem.

É preciso destacar que em determinados momentos se terá de dar maior consideração aos elementos táticos e menor aos elementos técnicos.

O desenvolvimento do pensamento tático e das tomadas de decisão não pode considerar-se à margem das possibilidades pessoais das execuções técnicas do jogador.

O método situacional caracteriza-se pela decomposição do jogo em unidades funcionais que propiciam a aprendizagem e a vivência das mesmas interações presentes nos jogos, criando no terreno do jogo e através dos exercícios o clima propício para a manifestação de comportamentos autónomos inteligentes e criativos. As formas reduzidas reúnem as características essenciais da unidade do jogo - cooperação, oposição e finalização.

Conclusões finais

  1. O ensino de saber tático na formação resulta fundamental para os treinadores acrescentando a sua importância à medida que aumenta a idade dos jogadores.
  2. O método de ensino situacional é o mais indicado para as categorias sub14 e sub16.
  3. A aplicação do saber tático em contextos de situações reais de jogo evoluciona desde comportamentos reativos a pro-ativos conforme aumenta a idade dos jogadores.
  4. Evidencia-se através de formas jogadas de complexidade crescente para procurar melhores leituras de jogo, tomadas de decisão mais diversificadas, inteligentes e criativas.

O compromisso central dos treinadores deve favorecer o processo de construção de aprendizagens a longo prazo baseado na qualidade do ensino respeitando o normal crescimento, desenvolvimento e maturidade biológica dos praticantes.


BIBLIOGRAFIA
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