Era evidente que havia, claramente regras e disciplina, na condução daquelas duas equipas. A forma como as regras eram acatadas por todos despertou a minha curiosidade, pelo que me dirigi ao Daniel e disse que gostava de conhecer melhor a dinâmica daquele clube. Uns dias mais tarde a meu pedido o Daniel passou em Algés pela Associação de Basquetebol de Lisboa e tive então a oportunidade de ficar a saber um pouco mais sobre a Associação Cultural Moinho da Juventude da Cova da Moura.
As origens do bairro da Cova da Moura confundem-se com o período do 25 de Abril e com o aparecimento de vagas de emigração resultantes, entre outras causas, da independência da ex colónias. Sem grandes condições para refazer as suas vidas começaram a estabelecer-se no Alto da Cova da Moura na periferia de Lisboa.
Segundo dados do site da Associação Cultural Moinho da Juventude, em 1990 a população residente no bairro era de 3.746, sendo que mais de 50% dos agregados são de origem africana e são os que maior número tem de pessoas, por agregado. Actualmente, estima-se que sejam cerca de 6.000 habitantes, sendo 60% de origem africana e há uma elevada percentagem de população jovem no bairro. Cerca de 50% desta população corresponde à faixa etária abaixo dos 20 anos de idade.
É neste contexto, fruto de um trabalho informal de animação de crianças, organização de mulheres e luta pelo saneamento básico, que surge nos primeiros anos da década de 80 a Associação Cultural Moinho da Juventude. Este projecto comunitário foi construído pelos próprios moradores que se confrontavam com problemas comuns e que através duma acção conjunta foram alargando e consolidando os alicerces e objectivos da sua acção. Em 1987 a Associação foi oficialmente constituída por escritura pública.
As actividades da Associação desenvolvem-se a nível social, cultural e económico, e nas mesmas estão envolvidas muitas crianças e jovens. Assim por iniciativa do Daniel surge o minibásquete e o basquetebol, como uma actividade atractiva para esta comunidade, tendo objectivos prioritários a prevenção primária de comportamentos de risco; a formação moral, emocional e afectiva e o desenvolvimento pessoal e social, estimulando a auto-estima/autoconfiança, dinâmica de grupo e espírito de equipa.
Com o Daniel aprendi muito. Fiquei a saber os meios e as formas que utilizava para conseguir comportamentos adequados e que o sucesso ou insucesso deste trabalho não passava pelo número de vitórias e derrotas, pelo número de jogadores que eram formados, mas pela aprendizagem de comportamentos sociais adequados. Foi aqui que eu comecei a admirar cada vez mais o trabalho e dedicação do Daniel, pois para quem tinha como objectivos o desenvolvimento social da criança e nas condições em que trabalhava, conseguia aquele rigor no comportamento das suas equipas e não sendo esse o objectivo, em simultâneo conseguia ensinar basquete, só podia ter a minha profunda admiração.
No ano 2000 quando entrei na Federação, como responsável pelo minibásquete seleccionei o Daniel, que então tinha apenas o Nível 1 de treinador e era um ilustre desconhecido no seio do basquetebol, para enquadrar os minis portugueses que se deslocaram ao Jamboree Europeu em São Remo na Itália. Essa decisão revelou-se acertada, pois pude ouvir da boca do Maurício Mondoni, especialista no minibásquete de renome internacional, que o Daniel era um monitor de jamborees de elevada qualidade.
Desde então, temos histórias em comum, e a nossa amizade foi-se fortalecendo. O Daniel foi colaborador assíduo de múltiplas incitativas do Comité Nacional de Minibásquete da FPB. Segui com atenção o seu crescimento como treinador, no Queluz e no Benfica, até à presente época. Actualmente sei que interrompeu a sua actividade no basquetebol, para retomar os estudos, mas não deixou de acompanhar o seu projecto, que já deu vários jogadores ao basquetebol e muitas alegrias e viagens aos minis da Cova da Moura. Sempre atento, passou o testemunho a uma dedicada equipa de enquadramento, composta por Ademar Nascimento, Eliseu Vaz, Erickson Gomes, Sócrates Lima e Miguel Fernandes.
Comentários
Este teu texto sobre ele vem mesmo ao encontro do que eu quero fazer que é uma homenagem a ele pelos 18 ou 19 anos que o nosso basket(moinho) tem e gostaria de saber se estarias enteresado em participar com um video falando um pouco dele ou com fotos ou mesmo a tua presença mesmo sabendo que é muito dificil porque todos nos temos a nossa vida preenchida.
Deixo o meu contacto se puder ligue 962050176
OBRIGADA MOINHO DA JUVENTUDE