Foi com grande entusiasmo que aceitei começar a ser colaborador do Planeta Basket, e a razão deve-se ao facto de já conhecer esta casa.

É do conhecimento publico que já existe uma ligação entre o projecto que lidero à 4 anos, os Campos MVP e este site que promove o basquetebol português de uma forma imparcial, transversal e profissional.

Esta colaboração, tal como já fui previamente anunciada, deve-se ao facto de residir em Madrid no próximo ano, estar a estudar o seu  sistema desportivo e encontrar-me bem perto dos mecanismos que fazem com que este pais seja considerado um dos países que melhor trabalha em termos de desporto de formação, e por consequência a alta competição, quer seja em desportos individuais quer seja colectivos.

Ao longo deste próximo ano irei todas as quartas-feiras relatar  factos que irão fazer perceber a razão pelo qual Espanha, a par dos Estados Unidos, lideram o basquetebol a nível mundial, e uma das razões prende-se com o tema deste primeiro artigo, ou seja, o nível de competição que é dado aos atletas, de modo a que toda a sua formação possa ser posta à prova mas dentro de um processo de evolução continua e sem queimar etapas.

O Torneio Inter-cidades de Selecções Juniores Masculinas já vai para a sua terceira edição, e faz parte de um conjunto de torneios e estágios promovidos ao longo do ano pela Federação de Basquetebol de Madrid para a selecção de Juniores Masculinos. Na edição deste ano as selecções convidadas, alem da anfitriã, as de Moscovo (Rússia), Belgrado (Sérvia) e Salónica (Grécia).

Depois de ter assistido aos 3 dias de competição, ter falado com treinadores, dirigentes e outros intervenientes do torneio, cheguei a uma conclusão interessante, os atletas das equipas participantes são praticamente todos juniores de primeiro ano e tem vindo a ser trabalhados, num processo de acompanhamento ao longo dos anos, nas selecções das suas faixas etárias, sem ultrapassar etapas quer físicas quer técnicas.

O torneio foi ganho pela selecção de Belgrado, ficando de seguida a selecção de Madrid, Salónica e Moscovo, respectivamente. Deste torneio existem alguns nomes que devemos reter para o futuro, que são os seguintes:

Triantafyllos Petalotis (Salónica) – Um jogador versátil, com uma inteligência acima da média. Equilibrado no jogo interior e exterior.

Javier de la Blanca (Madrid) – Este atleta do Real Madrid já é mais que uma promessa, polivalente e com uma atitude enorme de guerreiro, possui uma maturidade enorme nas decisões que toma, tem no querer uma das suas melhores características. Lançamento exterior com uma mecânica muito boa, é um “power foward” da nova geração espanhola, joga dentro e fora, de frente e de costas para o cesto.

Dusan Stankovic (Belgrado) – Este poste de 2,04 domina literalmente o jogo interior. Muito forte no ressalto defensivo e ofensivo, Dusan Stankovic tem um jogo de poste baixo muito versátil, alternando o jogo de costas com semi-ganchos ou acabando do lado contrario, como jogando de frente com um tiro de 2/3 metros com boa percentagem de concretização.

Relativamente aos colectivos,  cada selecção apresentou características típicas dos países a que pertencem, sendo assim podemos destacar o seguinte:

Selecção de Madrid

Equipa composta com jogadores muito equilibrados entre si, com uma rotação praticamente de 12. Impondo um ritmo de jogo, especialmente nas transições, ataques secundários muito forte e muito disciplinados em termos das posições no 5x5 a meio campo. A bola não fica mais do que 5 segundos na mão de cada jogador, fazendo com que o ataque seja sempre muito movimentado e procurando os cortes e os lançamentos de meia ou longa distancia provenientes de bloqueios directos ou penetrações e passe. Claramente um conjunto projectado para o futuro, longe ainda de ter atingido o potencial.

Selecção de Belgrado

Tal como já é tradicional, o basquetebol desta selecção oriunda da Sérvia tem duas características muito vincadas, os fundamentos desenvolvidos e explorados ao máximo e a frieza das movimentações atacantes, sendo que nada é feito ao acaso. Tem jogadores de elevada estatura mas que com facilidade lançam de meia ou longa distancia. Fortes no jogo interior, possuem dois especialistas de 3 pontos que com regularidade conseguem acabar com qualquer defesa zona. Muito fortes no ressalto defensivo.

Selecção de Salónica

Sem jogadores que sobressaiam, o colectivo suplanta o individual. Muito fortes nos contra-ataques e nos ataques secundários onde fazem mais de 60% dos seus pontos. A defesa é um pouco permissiva especialmente no lado da ajuda, no entanto tem um excelente ressalto defensivo. São irregulares em termos da consistência do jogo, estando largos períodos sem marcar pontos.

Selecção de Moscovo

A equipa mais fraca mas também este facto deve-se a ser a mais nova das quatro. Excelentes a penetrar e dividir, tem nos seus bases as suas posições mais fortes. Muito inconsistente e especialmente muito indisciplinados em termos de espírito colectivo, tendo sido visível muitas discussões entre vários jogadores dentro do jogo. Tem alguns jogadores interessantes principalmente no jogo exterior.

Dizer ainda que a Selecção de Madrid de juniores irá no próximo final de semana participar no prestigiado Torneio de Belgrado.