No primeiro artigo desta série, em que pretendemos dar contributos para uma reflexão da organização administrativa e geográfica do basquetebol, verificámos que inicialmente as Associações não se organizavam em torno da lógica distrital.
No segundo informámos que foi por uma imposição legislativa que as Associações passaram a ser organizadas em torno do conceito distrito. Como as fontes de financiamento do estado para a actividade desportiva tinham uma distribuição distrital, através das delegações da Direcção Geral dos Desportos, houve tempos, em que esta divisão passou a fazer sentido. No terceiro artigo abordámos razões pela qual, actualmente, a divisão distrital já não faz sentido e demos a conhecer alguns dos problemas que esta lógica levanta, quer pela junção de distritos, quer pela dificuldade da implantação da modalidade nos concelhos mais afastados dos grandes centros.
Hoje vou ilustrar mais alguns exemplos dos problemas que a lógica distrital traz à organização e crescimento do basquetebol. Embora hoje perceba, quão ridículo era o meu sentimento, lembro-me bem quando há 15 anos treinava clubes de Lisboa ou arredores de Lisboa, a “chatice”, que representava deslocar-me 50 Km para ir jogar a Torres Vedras aos Domingos de manhã.
Pelo mesmo raciocínio, sei bem, porque ainda recentemente estive em Grândola, das dificuldades que o clube local, onde um grupo empenhado de treinadores está a fazer um excelente trabalho, sente para se afirmar. Eles sentem, que existem elementos de alguns dos clubes da associação a que pertencem, que não gostam de se deslocar 100 km para jogarem com o CAB de Grândola. O argumento é o seguinte: para quê obrigarem-nos a uma deslocação tão grande, ter tanta despesa, para efectuar um jogo muitas vezes desinteressante do ponto de vista competitivo. Estas e outras situações levam a que muitas vezes, os clubes pertencentes às associações maiores ostracizem, mesmo que involuntariamente, o esforço enorme que os clubes mais afastados dos grandes centros, mas pertencendo à mesma Associação, fazem para implementarem o basquetebol nos seus concelhos. Muitos são os exemplos que poderia evocar idênticos a este, mas não resisto sem relatar com mais uma situação que chega a atingir as raias de algum absurdo.
Em Terras de Basto, na transição do Minho para Trás-os-Montes, na fronteira do distrito de Braga para o distrito de Vila Real há um clube, que já teve mais vitalidade, em Celorico de Basto: o BCC Basto. Na época 2008/09 surgiu o minibásquete em Mondim de Basto no distrito de Vila Real. Nem os clubes da Associação de Braga onde o basquetebol vive em torno do triângulo Braga, Guimarães, Barcelos, gostam de ir jogar a Celorico, nem os clubes de Vila Real distrito onde o basquetebol assenta no eixo Vila Real – Vila Pouca de Aguiar mostraram grande apetência para ir jogar a Mondim de Basto. Os dois concelhos estão separados um do outro pelo rio Tâmega e as suas sedes de concelho distam 10 quilómetros uma da outra. Contudo se o BCC Basto, quisesse fazer um jogo com o CDM de Mondim teria de ter autorização da Federação porque os clubes pertencem a Associações diferentes. Para terminar o meu raciocínio, faço mais duas perguntas:
1ª - Já alguma vez pensaram, que um dos clubes que está mais perto em termos de distância do Basket Almada Clube da Associação de Setúbal é o Atlético Clube de Portugal da Associação de Basquetebol de Lisboa? Basta atravessar a ponte 25 de Abril.
2ª - Alguma vez o Atlético Sport Clube/Bombeiros Voluntários de Reguengos de Monsaraz, um clube que é para mim uma verdadeira referência, se questiona ter de se deslocar para jogar. Os adversários mais próximos moram em Évora o que corresponde a terem de se deslocar na ida e volta pelo menos 80 quilómetros.
Numa época em que os apoios do estado para promover a actividade desportiva já não chegam via uma lógica distrital, estes e muitos mais casos, são mais dados, que nos devem fazer reflectir.
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