A importância de uma equipa de formação puder ter mais que um treinador é essencial para uma evolução equilibrada e progressiva da mesma.
Quando escolhi este tema para o artigo desta semana, dei por mim a pensar que realmente o nosso basquetebol carece de muitos alicerces bem mais importantes e relevantes do que a importância do treinador-adjunto numa equipa de formação, mas por outro lado, penso que isso não invalida que não possamos abordar todos os temas que, depois de juntos, não vão dar aquilo que na realidade deveria ser o caminho para o basquetebol português.
Este fim de semana dei por mim a ver diferentes jogos de formação da zona de Madrid, vários aspetos fizeram-me pegar no meu caderno preto e tirar alguns apontamentos sobre o que estava a presenciar, mas quando fiz uma reflexão final dei por mim a pensar qual a razão de equipas de sub-14 e sub-16 terem nos seus bancos 2 e por vezes 3 treinadores.
Como treinador já vivi as duas situações, a de treinador principal e a de treinador-adjunto e em ambas sempre senti que era parte do processo, tanto a nível da metodologia e do desenrolar do processo de treino como da planificação dos macro e micro ciclos e da componente técnico-tática. Posso dizer que a experiência mais gratificante e que me fez crescer como treinador foi quando desempenhei as funções de 1º treinador-adjunto na academia cristã de High Point na Carolina do Norte, na qual tinha a função de organizar os exercícios da parte técnica em sintonia com o plano técnico-tático destinado para a época em questão. Relato esta experiência para voltar ao início do artigo e dizer que o que vi este fim de semana não foi um seccionista sentado no banco (nunca entendi realmente o papel do seccionista, penso que em Portugal tornou-se uma palavra comum no nosso desporto sem aplicação prática de funções específicas e de mais valia para uma equipa), nem o tradicional adjunto que a única coisa que faz é anotar a estatística da equipa.
Aquilo que vi foi, treinadores adjuntos envolvidos no processo de jogo, a falarem nos descontos de tempo, a conversarem com o treinador principal de modo a que se pudesse melhorar a performance da equipa.
Quando avaliamos o processo de treino e analisamos o tempo útil do mesmo, reparamos que muitas vezes o tempo cronológico de uma sessão comparada ao tempo útil da mesma acaba por ter valores bastantes diferentes, especialmente porque por uma questão de lógica, é difícil uma pessoa só poder controlar 10 jogadores que mesmo estando todos ao mesmo tempo num meio campo, têm comportamentos distintos, comportamentos esses que os dois olhos do único treinador presente não consegue controlar o melhor possível.
Acho essencial a presença de outro treinador de modo até que o processo de treino decorra com mais eficácia e qualidade dentro do planeado para a sessão em causa. Por vezes este tipo de sintonia perde-se quando existe alguém que impõe a sua autoridade perante outra pessoa, determinando logo quem decide ou define tudo sem que haja um consenso ou uma troca de opiniões. Sem dúvida que o treinador principal é o primeiro responsável das decisões tomadas perante a sua equipa, mas com isto não quer dizer que não existam outros caminhos a tomar sem ser o pensamento de uma única cabeça.
Por vezes encaramos a formação como um grupo de jovens que estão a praticar um desporto porque faz bem, mas esquecemos que devemos encarar a formação, desde a sua idade mais tenra, com uma visão bastante profissional, e o profissionalismo não vem escrito em numeração no final do mês num qualquer cheque, mas sim nas atitudes e ações que tomamos perante as pessoas no qual temos a responsabilidade de ter impatos positivos, impatos esses que muitas das vezes são estruturais na construção da sua personalidade.
E aqui deixo uma reflexão, porque não enquadrar os pais neste processo do treinador-adjunto? Uma equipa técnica não se faz só de elementos que têm que obrigatoriamente saber da componente técnico-tática da modalidade mas podendo juntar pessoas que a vida lhes deu qualidades que só se adquirem vivendo experiências únicas, como aquelas que um pai ou uma mãe vivem diariamente. Esta reflexão aparece na minha mente de duas formas, a primeira relativa ao artigo escrito por Luís Filipe Cristóvão no decorrer da semana passada sobre o tema dos pais, e a segunda indo buscar um excerto de um texto de um livro que terminei de ler à poucos dias, “Wooden - A Lifetime Of Observations And Reflections On and Off the Court” escrito por John Wooden que às páginas tantas diz:
Os verdadeiros Treinadores e Professores
Um pai e uma mãe devem estar presentes para dar o exemplo aos seus filhos, devem ser modelos fortes e positivos e mostrar como um adulto deve-se comportar.
Ser um bom modelo é a mais poderosa arma de educação que podemos dar a um jovem. Os jovens precisam de bons modelos mais do que precisam de vozes críticas. É uma das maiores oportunidades e responsabilidades que um pai pode ter.
Muitas vezes os pais esquecem-se disto pois acabam por ser apanhados em como sobreviver e não em como viver!
Sempre defendi que os pais são uma peça chave no processo do desporto de formação, certamente que nem todos os pais estão interessados em participar ou tem as qualidades para tal cargo, o que é normal, mas sei por experiência própria que existem muitos que querem mas que, ou não têm quem lhes jogue a mão, ou simplesmente só servem de boleias para os jogos ou outro tipo de ações de cobrança.
Os projetos fazem-se de pessoas, por isso, deveremos aproveitá-las e dar a oportunidade de puder não só ensiná-las mas também aprendermos com aquilo que elas nos podem trazer.
You know!
Este texto está redigido segundo o novo acordo ortográfico
Comentários
Espero que este artigo mude a mentalidade de muitos treinadores...
Já passei por adjunto, onde as unicas funções era estatística de jogo e reunir licenças... Isto é frustante para um treinador adjunto.
Tamanha tacanhez!