“O acto táctico em jogo”
 
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“O acto táctico em jogo”

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O acto táctico em jogoNestas minhas excursões semanais pela história do basquetebol com o objectivo de afirmar a necessidade e a importância de conhecer o nosso passado colectivo, alguns marcos incontornáveis são constituídos também por certos livros.

É o caso do artigo de hoje.

Num artigo anterior, onde me reportei à interacção entre o basquetebol e outros jogos desportivos colectivos, mencionei o nome de três estudidosos destes jogos. Um deles foi o alemão de leste Friedrich Mahlo que escreveu o célebre e clássico livro “O acto táctico em jogo”.

Pelo que podemos extrapolar da leitura do livro ele foi escrito no início da década de 60 do século XX. Chegou a Portugal, aos treinadores portugueses que procuravam a bibliografia actualizada do seu tempo, em 1969, de forma indirecta, através da edição francesa que data desse mesmo ano. Em Portugal apenas foi lançado em 1979 ou 1980 pela editora Compendium, na sua primeira edição. Nele, o seu autor afirmava logo no início da introdução que pretendia estudar “um problema fundamental do ensino desportivo: o acto táctico no jogo, e os métodos susceptíveis de o aperfeiçoar”.

Esse livro constituiu na altura, em Portugal, em relação aos treinadores portugueses que o leram, uma verdadeira “bomba”, tal como me disse o professor Francisco Costa, tais eram os conceitos inovadores que trazia no seu seio.

Na verdade após a leitura do “O acto táctico”, já não era possível olhar para o jogo de forma simplista, vendo nele quantas vezes apenas um conjunto de gestos a coreografar técnica e tácticamente. O jogo aquiria uma riqueza maior do que aquela que tinha sido entrevista até ao momento. Os movimentos aparentes do jogo, se bem que importantes eram apenas a parte visível de um iceberg, em grande parte encoberto, e cuja análise era absolutamente imprescindível se se queria ir mais além no desenvolvimento dos jogadores e das equipas que estavam a cargo dos treinadores.

Mahlo chamou à colação os conhecimentos que os psicólogos, no caso sobretudo os soviéticos, tinham elaborado para melhor fazer a análise dos comportamentos dos sujeitos nas actividades em que estavam envolvidos. Aplicou esses conhecimentos ao jogo de basquetebol, ele que era simultaneamente um treinador e professor/investigador universitário. E desse modo conseguiu ir mais além.

Desde logo a definição de acto táctico que cauciona no início do livro, mostra bem que ele sabe que trilha um caminho original: a táctica não é, simplesmente, a forma como se dispôem as armas (os jogadores) no terreno, no ataque ou na defesa, como ainda vemos muitos técnicos de jogos colectivos a usarem o conceito, mas é algo de muito mais funcional logo à partida: o acto táctico “consiste em resolver praticamente, e no respeito de todas as regras em vigor, um grande número de problemas postos pelas diversas situações de jogo; esta solução deve ser rápida e deliberada, visando o maior êxito possível da actividade global”.

Um dos dados mais salientes e relevantes a que Mahlo chegou foi a da hipótese da estrutura triádica do acto táctico. Estrutura essa constituída pela percepção e análise da situação; solução mental do problema; e solução motora do problema. E foi mesmo para além desta estrutura simples ao concatenar as fases de um modo que elas fizessem sentido e fossem operacionais, como é o caso em jogos tão dinâmicos como os colectivos em geral e o basquetebol em particular.
 
(Quadro retirado do livro )

Percepção marginal exterior B
Percepção marginal exterior C
Percepção central e análise da situação B
Solução mental do problema B
Percepção central e análise da situação C
Solução mental do problema C
Controlo da actividade motora própria A
Controlo da actividade motora própria B
Solução motora do problema A
Solução motora do problema B

 Não podendo aqui, evidentemente, falar sobre todos os conteúdos do livro, um dos que não devemos deixar de mencionar foi o estudo que Mahlo fez sobre os erros existentes na prática do jogo de basquetebol. Ao olhar para os jogos, analisou as acções em que houve algum tipo de erro, contextualizando-o. A partir daí chegou à tipificação da origem do erro que tinha sido cometido, classificando posteriormente os erros pela sua natureza. No final desse estudo, Mahlo tinha assim uma panorâmica dos possíveis erros ocorridos no jogo e podia extrapolar esse conhecimento no sentido dos vários factores que poderiam ser alvo de melhoria no ensino/treino do jogo. Esquematicamente referimos aqui os tipos de erro que este autor apontou no seu livro, não sem dizermos primeiro que derivaram da observação da sua própria equipa universitária (Universidade de Humboldt), que participava na 1.º divisão, e que na altura competia ao mais alto nível europeu:

  1. Amplitude da vista;
  2. Cálculos óptico-motores;
  3. Pensamento táctico;
  4. Conhecimentos;
  5. Velocidade de reacção;
  6. Qualidades físicas de base (força, “endurance”, velocidade, coordenação);
  7. “Savoir-faire” técnico;
  8. Concentração;
  9. Vontade;
  10. Motivação;
  11. Espírito colectivo.

No fim da primeira parte do seu livro, Mahlo discorre sobre as tarefas, princípios e etapas de uma formação táctica consequente. E na segunda parte do livro vai mesmo ao ponto de apresentar uma proposta prática de formação lúdica para as crianças do primeiro ciclo, com a descrição de um programa de jogos em que para cada um deles há objectivos a atingir no 1.º grau de escolaridade que correspondia aos primeiros quatro anos lectivos.

A quem nunca leu este livro aconselho a sua leitura pois afigura-se-me extremamente interessante no percurso de formação de qualquer treinador. E aos que já o leram, atrevo-me a apontar-lhes este livro como um objecto de estudo a voltarem recorrentemente. Da minha parte apenas apontei alguns dos muitos conteúdos do livro. E acrescentando mais uma nota sobre ele, devemos dizer que o livro mostra uma direcção de atitude de qualquer treinador: a de reflectir sempre sobre o que faz, utilizando algumas ferramentas que a ciência põe ao seu dispor no momento.

Por último, aponto a existência de um outro livro editado em Portugal, pela Estampa, de nome Basquetebol, onde Mahlo é um dos autores do colectivo que escreveu o livro. Nele escreveu, designadamente, alguns interessantes capítulos sobre táctica do basquetebol.

 

 


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