Que valores? – Parte II
 
Faixa publicitária
Localização: HOME TEOTÓNIO LIMA Que valores? – Parte II

Que valores? – Parte II

Enviar por E-mail Versão para impressão PDF
Avaliação: / 11
FracoBom 

Que valores? – Parte IIDepois do último artigo escrito “Que valores?”, tenho pensado no caminho que devemos tomar para inverter uma tendência que se está a tornar uma realidade.

Poucos dias depois de ter escrito o último artigo dei por mim a pensar com muita regularidade como se devia abordar a participação dos adultos no desporto de formação. Ninguém duvida ou poderá por em causa a importância dos pais/adultos nos clubes de formação, aliás, no contexto económico que atravessamos, os pais são fundamentais (como sempre foram mesmo em contextos económicos favoráveis) na sua organização e desenrolar, seja no transporte dos atletas, na sua participação como seccionistas, dirigentes, oficiais de mesa e outros cargos/tarefas que são essenciais para a sua existência.

No entanto, como devemos abordar o assunto sem sermos injustos com os pais/adultos? Sem que alguns pensem que adquiriram o direito de ter manifestações impróprias só porque mantêm uma secção de um clube viva?

O desporto é uma atividade que tem uma particularidade muito especial, todas as pessoas das outras profissões e setores da sociedade opinam, mesmo sem o ter, com um grande conhecimento de causa, o que por um lado é bom (como costumo referir, toda a publicidade é boa, até a má) mas tal como tudo nesta vida, o que é em excesso torna-se perigoso e prejudicial. Então como podemos dar a volta a esta realidade?

Acima de tudo devemos dar a perceber o que queremos do desporto e o significado que ele tem, o verdadeiro significado.

Resolvi abrir a declaração de Nice de 7, 8 e 9 de Dezembro de 2000 que no ponto 3 (do anexo IV) diz o seguinte:

3. O desporto é uma actividade humana que assenta em valores sociais, educativos e culturais essenciais. Constitui um factor de inserção, de participação na vida social, de tolerância, de aceitação das diferenças e de respeito pelas regras.

Este ponto tem três palavras poderosas que cumpridas fazem a toda a diferença numa sociedade à deriva de valores e objetivos.

Quando me desloco a pavilhões vejo pouco “...aceitação pelas diferenças e de respeito pelas regras.”, "...de tolerância...” e acima de tudo “...valores sociais, educativos e culturais essenciais.

Numa era onde a força da palavra e da honra perdeu todo o seu valor e onde a educação é substituída por uma consola, uma novela ou uma rede social, como podemos fazer os jovens sentir aquilo que os nossos avós e pais já o sentiram?

Voltando às bases! Educando os mais novos da maneira mais correta de modo a que quando crescerem possam ser eles os educadores e assim sucessivamente. Isto tudo é um ciclo, que pode ser bom ou mau, depende da semente que semearmos.

E posso dar exemplos através da modalidade e do Campos MVP. Desde 2010 o Campos MVP criou a Liga MVP, liga esta que é uma competição interna onde são criadas 4 equipas, com jogos de todos contra todos, com árbitros oficiais, mas como determinamos os vencedores desta Liga? Determinamos a equipa vencedora assentando o esforço dos atletas em aspetos do jogos que realçam valores que vão para lá do jogo em si, ou seja, a equipa vencedora é a equipa que sofrer menos pontos no conjunto dos jogos todos, o que faz com que os seus atletas coloquem em campo valores essenciais como ajuda, solidariedade e acima de tudo o verdadeiro e profundo significado de “trabalho de equipa” que é a capacidade que temos em ajudar os nossos colegas e a confiança de que vamos ser ajudados por outros sempre que precisamos.

Como é que isto (e outros) pode ajudar e estar ligado com o comportamento dos pais/adultos de hoje? Simples, se começarmos um novo ciclo corretamente, quebramos o ciclo vicioso e errado que estamos neste momento, temos que investir nas nossas bases, temos que tornar o minibasquetebol forte em termos de número de atletas, de clubes em todo o país e acima de tudo educar estes jovens para que cresçam com referências essenciais, corretas e importantes para que sejam a sua base de sustentação como jogadores de formação e mais tarde como pais/adultos.

Mas o que fazer agora? Como mudar o “hoje”? Bom...a pergunta a esta resposta está um pouco diluída nas realidades de cada clube, no entanto, deixo algumas indicações encontradas no livro “Pedagogia do Desporto – Contributos para uma compreensão do desporto juvenil” escrito por Olímpio Coelho, que às páginas tantas diz-nos:

“Poucos são, infelizmente, os pais que acompanham a prática desportiva dos seus filhos com discrição, bom senso, serenidade e realismo. Entre os pais que vivem obsessivamente a prática dos seus filhos identificamos:

  • Os que consideram que os seus filhos nunca fazem nada de errado, que tudo o que acontece é da responsabilidade dos outros, e permanecem nas bancadas e vedações gritando para árbitros e treinadores.”

Então quais as razões de tanto comportamento irracional? Olímpio Coelho aponta algumas razões:

a) A identificação dos pais com os filhos leva a que aqueles definam o seu valor próprio através de sucesso ou do insucesso destes, sendo com eles “vencedores” ou “vencidos”;
b) O desejo de todos os pais de quererem o que julgam ser o melhor para os seus filhos;
c) A dificuldade em observarem o desapontamento ou o fracasso dos filhos;
d) O orgulho próprio posto em causa pelo comportamento medíocre ou desajeitado dos filhos em comparação com os dos amigos e vizinhos;
e) O desejo de concretizar os seus próprios sonhos através da sua descendência leva-os a fazerem exigências irrealistas aos filhos em vez de os ajudarem a desenvolver os seus próprios níveis de performance.

Sendo assim como podemos ajudar os pais?

O treinador e/ou dirigente tem um papel fundamental não devendo fomentar ele próprio tais atitudes como infelizmente muitas vezes se observa, por outro lado atuando junto do praticante fazendo uma abordagem positiva da participação nos desportos, encorajando e recompensando o esforço e os pequenos êxitos mais do que o resultado e por último atuando junto dos pais de modo a que a que o dialogue e informação ocupe um lugar nobre.

Está tudo nos objetivos que queremos alcançar, queremos ganhar jogos ou construir pessoas? Queremos ser campeões da maneira correta ou errada? Queremos continuar a dizer frases com conotações erradas e desrespeitosas como “o segundo é o primeiro dos últimos”?

São tudo uma questão de prioridades.

You know!

Este texto está redigido segundo o novo acordo ortográfico

 

Comentários 

 
0 #1 Patricia 19-03-2012 23:10
Numa fase em que tantos jovens não têm respeito por nada nem por ninguém, mesmo na escola o respeito pelos professores já não existe, era de esperar (ou ter a esperança) que pelo menos nos clubes o respeito pelos outros e pelas regras fossem uma realidade. Mas o que cada vez mais me deparo é com o ensino do ganhar a qualquer custo, o desrespeito pelos intervenientes no jogo, pela equipa adversária.
Sou treinadora e cada vez mais me sinto desmotivada para estar no basquetebol. Não pelo comportamento dos atletas, pois esses podem ser alterados se lhes ensinarmos o caminho certo, mas pela atitude de pais e dirigentes que preferem encher o seu ego, opinando mesmo não tendo qualquer conhecimento ou formação sobre o que estão a falar, preferindo treinadores que desrespeitam a modalidade e as pessoas nela envolvidas, não dando o exemplo de ética desportiva, fair-play e respeito, principalmente aos mais jovens.
Citar
 
 


Facebook Fronte Page

 
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária