Nunca me considerei dono da verdade e gosto de um bom debate, nomeadamente, quando este mantém elevação e tem como finalidade, não discutir pessoas, mas aprofundar ideias, conceções e estratégias.
Vem esta introdução a propósito da opinião do companheiro Carlos Caetano, expressa num comentário ao meu último artigo, reforçada pelas palavras do amigo João Cortez Vaz, em que se afirma que “O principal problema do nosso basquetebol tem origem na conceção de minibásquete que insistimos em manter.”
Estes dois comentários mereceram a resposta do João Ribeiro, (que para além de focar um tema muito interessante sobre o qual também terei muito gosto em manifestar a minha opinião, que são a competição e os processos de seletividade), acaba por centrar o problema no que tem sido ao longo destes anos a minha grande batalha que é, a de sem grandes recursos disponíveis encontrar formas de aumentar, fidelizar e apaixonar os jovens à modalidade, “essa sim a grande dificuldade neste momento do basquetebol”
As opiniões, as minhas incluídas, valem o que valem, mas será que as pessoas sabem do que estão a falar, tem dados ou instrumentos de análise e avaliação para as suas opiniões ou regem-se apenas por impressões intuitivas, sem conhecimento profundo das múltiplas vertentes da realidade?
Pela sua proximidade e pelo seu valor no basquetebol, o país vizinho é muitas vezes mencionado no âmbito desta discussão. Mas uma vez mais, para sabermos do que estamos a falar, é bom conhecermos a origem, evolução e essência dessa realidade. Em Espanha, nos meados dos anos sessenta, o Vice-Presidente da Federação Espanhola de Basquetebol, Anselmo López lançou para a expansão do minibásquete uma campanha chamada “Operação 100.000” número de praticantes que viria a alcançar em 1968. Vinte anos depois, repito vinte anos depois, com o número de praticantes, não apenas consolidado, mas aumentado, a Federação Espanhola de Basquetebol organizou em Saragoça em 1988 a primeira competição de âmbito nacional no escalão de Sub-12 os Campeonatos de Espanha de Minibáquete. Esta competição destinada às seleções das Federações autonómicas realiza-se desde então, como corolário do trabalho para os mais evoluídos e envolve 432 jovens dum universo que hoje em dia, movimenta para cima de 150.000 crianças e é a única competição, neste escalão de âmbito nacional.
Para não tornar este artigo longo e fastidioso vou terminar hoje, não sem deixar de aconselhar a leitura no site da ANTB do artigo do Jorge Adelino baseado na frase do Prof. Teotónio Lima “Em terra de cegos quem tem um olho é cego” e voltar a publicar outra frase do mesmo mestre: “Em quase todas as modalidades, a maioria dos agentes desportivos perfilha o princípio incorreto de iniciar os jovens a fazê-los competir o mais cedo possível como condição obrigatória para serem “alguém” na modalidade.”
Será com agrado, que para a semana volto, a este aliciante tema expressando duas ideias que nestes debates costumo frequentemente utilizar, mas enquanto não entendermos que somos na sociedade portuguesa, nomeadamente nos grandes meios urbanos, uma modalidade residual, este sim e para mim o grande problema do basquetebol, pontualmente e em conjunturas económicas favoráveis até poderemos ao nível de clubes, com reflexos na nossa seleção principal, ter um basquetebol mais competitivo, mas nunca passarão de “fogachos” pontuais sem grande consistência, dependentes da conjuntura económica.
Enquanto centrarmos a discussão nas formas das competições e enquanto não entendermos e nos mobilizarmos para encontrarmos soluções e formas de aumentar a nossa base de praticantes, dificilmente alcançaremos outros patamares. Há um ano atrás elogiei, apesar de não ter conseguido uma única vitória na fase final do Europeu, a prestação da nossa seleção nacional sénior. Este ano renovo, apesar da ausência de vitórias, o elogio ao trabalho realizado pelo Mário Palma e toda a equipa, e vieram-me de novo à memória as palavras de Josep Bordas, no artigo publicado aqui no Planetabasket a 7/11/11 “Deixemo-nos de sonhar”.
Comentários
Quanto ao conseguir algo de interessante e desafiador, para os jovens, ao contrário do que alguns sugerem, se calhar por não me conhecerem bem, também é algo que muito me preocupa.
Sobre esse tema se me permite, sugiro-lhe a leitura do meu próximo artigo.
Terei de apresentar a minhas desculpas pelo equívoco ao amigo Cortez Vaz e termino com um obrigado pela clarificação da autoria do comentário.
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Venho por este meio agradecer a sua informação. Na verdade estava a incorrer num erro, e pensei que o comentário pertencia ao João Cortez Vaz que conheço pessoalmente.
Acredite que gosto muito da modalidade e também me preocupa o facto que estarmos, como afirma, a perder a visibilidade que já tivemos.
No entanto espero que concorde comigo que essa visibilidade, que já foi muito maior, não passou pelo minibásquete.
Faço o mesmo convite que foi feito ao João Videira, até agora não aceite, para termos uma troca de opiniões se assim o entender.
Renovo o meu convite para uma troca de opiniões, que lhe foi feito aqui neste site em 18/04/12, na sequência dum comentário seu.
É indubitável que para além de mais praticantes e mais prática necessitamos de bons técnicos. Continuo é com sérias dúvidas que excelentes técnicos com poucos praticantes, apesar da sua competência, consigam grandes prestações.
Quanto ao ouvir falar de basquetebol convido-o a ir no dia 6 de Outubro ao Clinic do Get Together da Fiba Europa , e caso assim o entenda poderei ter como mencionei em 18/04/12 uma conversa aberta e franca consigo.
Precisamos de muito mais praticantes é verdade!!! Mas precisamos de melhores treinadores, o nível do nosso basquetebol é uma comédia. Treina-se mal, não se percebe o que é o jogo moderno, andamos a cantar em vez de jogar. Continuem a achar que esta forma de ATL de basket é que é boa, que isto está no bom caminho... para a extinção. O vosso lema é " quantidade mesmo que mal treinada jamais será derrotada". Nunca vi ninguém falar de basquetebol só vejo é pedagogia.
Infelizmente, a cultura deste país coloca o futebol acima de todas as restantes modalidades e é muito difícil que estas consigam influenciar a grande maioria da nossa juventude. E assim, uma modalidade como o basquetebol que socialmente até é aceite de forma mais consensual, nomeadamente por aquela franja da população que abomina a falta de educação que abunda no futebol passa para segundo plano.
Creio que parte da solução passa por fazer apaixonar os mais jovens pelo jogo desde pequenos. Como o fazer? Bom, essa é a parte complicada. Julgo que uma das soluções passaria por aumentar o número de jovens praticantes e conseguir que estes tenham sucesso ou melhor, que se sintam bem sucedidos e se divirtam dentro do campo. Penso que este seria um bom primeiro passo para que o bichinho do basket se instalasse a longo prazo.