Na semana em que se iniciam campeonatos por todo o país, o Planeta Basket conversou com Rui Valente, Presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Basquetebol,
para fazer um ponto de situação na arbitragem dos jogos dos escalões de formação.
Perante um panorama de dificuldades, Rui Valente revela as preocupações de quem tem nas mãos o presente e o futuro dos árbitros nacionais. As dificuldades para criar uma carreira, os atrasos nos pagamentos e a falta de segurança são alguns dos pontos focados nesta entrevista.
Mas mesmo perante um cenário pouco animador, o “Portugal Futuro” vai sendo preparado com o Programa de Potenciais Talentos, cujos nomes seleccionados são também aqui revelados.
Palavra a Rui Valente.
No início de mais uma temporada, quais as suas principais preocupações em relação à arbitragem nacional?
As principais preocupações são as de sempre... Por um lado manter a credibilidade global que a nossa arbitragem de topo tem, aliás comprovada pela elevada reputação de que dispõe além-fronteiras, por outro lado suprir a enorme falta de juízes que se faz sentir, nomeadamente nos jogos das camadas mais jovens.
O que podemos esperar dos árbitros nas competições de formação?
Seguramente não poderemos esperar facilidades... Todos os anos se perdem imensos juízes da camada mais nova, pois a motivação de uma carreira é deveras insuficiente e as dificuldades são inúmeras, desde o atraso sistemático de pagamentos, a carga fiscal, o mau comportamento do público em muitos jogos de formação, a falta de segurança, a fraca possibilidade de poderem actuar com os árbitros mais credenciados, normalmente ocupados nas competições de seniores, isto só para referir os aspectos porventura mais sensíveis ao comum dos mortais e que todos entendem.
Quais as indicações fornecidas aos árbitros portugueses para este tipo de jogos?
Não existem indicações muito específicas, se atendermos que muitos dos árbitros que actuam nos jogos de formação são precisamente os mais jovens e menos experientes, também eles em fase de formação como os jogadores! E esse é o problema de base, que a maioria das pessoas não compreende nem aceita, pois todos querem ganhar, vencer é normalmente a palavra de ordem, a começar pelos próprios pais dos jogadores... É claro que tem de haver uma preocupação adicional em termos pedagógicos e de sensibilidade para dirigir jovens, o que não é fácil quando o árbitro é também ele jovem ou pouco experiente, mas também já não se justificam paternalismos de outrora na forma de gerir um jogo de formação.
Árbitros em processo de formação
Quais são os principais pontos onde dirigentes e pais podem intervir de forma a ajudar a uma melhor arbitragem no nosso país?
Por um lado aceitarem de uma outra forma as dificuldades naturais de quem começa a arbitrar, no fundo as mesmas de quem começa a jogar, pois há que perceber que existe um percurso natural de quem se inicia na arbitragem... Por outro lado, incentivarem os praticantes que revelem alguma aptidão para esta função e que demonstrem maior limitação como jogadores, a interessarem-se por esta outra forma de estar no desporto, de participar, de ser parceiro, de conduzir outras pessoas e que, pese todas as dificuldades, dá necessariamente muito prazer a quem se interessa e realmente se dedica, com a perspectiva real dos melhores poderem atingir um patamar muito elevado, até a nível internacional, aliás o que se verifica actualmente com os nossos melhores árbitros internacionais, que ainda jovens atingem um excelente curriculum.
O atual número de árbitros em Portugal é suficiente para as necessidades?
Naturalmente e por tudo o que foi antes referido, muito insuficiente perante as necessidades...
Que estratégias têm sido seguidas para formar mais árbitros?
Como é que se podem delinear verdadeiras estratégias sem apoios de ordem financeira, cada vez mais difíceis e restritivos? A imaginação pode conceber algumas ideias interessantes, mas tem necessariamente de haver um suporte... Há um caminho tão longo que se pode percorrer e seguramente até pessoas disponíveis para tal, desde que houvesse uma vontade política de realmente investir no desenvolvimento a sério do sector da arbitragem e aproveitar recursos humanos de topo existentes, que poderiam tornar-se profissionais, pelo menos a tempo parcial, da formação de juízes, como aliás acontece noutros países da Europa. Por isso, o que vai acontecendo nos dias de hoje, exceptuando uma ou outra acção em concreto, como o Programa de Potenciais Talentos, um excelente trabalho desenvolvido anualmente com 12 jovens esperanças da arbitragem nacional, é um conjunto de meios paliativos, que apenas parecem atenuar as dificuldades imediatas e nunca resolvem o que quer que seja nem a médio prazo... A grande maioria dos clubes só se lembra da arbitragem para reclamar a falta de juízes ou referir o que entendem ser elevados custos, mas se verdadeiramente se empenhassem como parceiros, poderíamos todos retirar grandes benefícios nesses aspectos e não só!
Programa Potencial Talento
O Programa Potencial Talento, que tem vindo a promover o acompanhamento de jovens árbitros no quadro nacional, anunciou os nomes dos 12 elementos que farão parte da 1ª fase do programa. Durante a temporada, seis destes jovens serão escolhidos para uma 2ª fase do programa.
Os árbitros indicados são: Fábio Veríssimo (Algarve), Luís Ferreira (Aveiro), Rui Ferreira (Aveiro), Catarina Costa (Braga), José Anjos(Braga), Fernando Ferreira (Coimbra), Jaime Fernandes (Coimbra), Gonçalo Chust (Leiria), João Santos (Leiria), João Lourenço (Lisboa), Paulo Martins (Lisboa), Fábio Ferreira (Porto), Marco Silva (Porto), Pedro Azevedo (Porto), Rui Farinha (Santarém), Tiago Agudo (Santarém), André Jesus (Setúbal), Hugo Pereira (Setúbal), Rodrigo Laranjo (Terceira) e Micael Lourenço (Viseu).
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