Sinais dos tempos
 
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Sinais dos tempos

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FracoBom 

João Ribeiro Não gostaria de iniciar o artigo desta semana sem enaltecer o comentário efectuado pelo Henrique Vieira a propósito do artigo Basquetebol e Moçambique. Em poucas palavras condensar aquele que provavelmente é um sentimento de décadas é algo notável e que, insisto,

deveria contagiar quem pode e deve tomar decisões sobre o futuro da modalidade. Obrigado pela força que as tuas palavras tiveram no artigo. Que os bons e ricos tempos perdurem na memória de quem os viveu e contagiem as gerações futuras.

Tendo em consideração a realidade e o ambiente com que muitas das crianças e jovens se desenvolveram na década de 60, 70 e 80 do século passado, facilmente encontramos diferenças abismais relativamente aos tempos actuais. Uma delas prende-se com o tempo disponível para a prática desportiva e actividade escolar. Naquela altura, quer em Moçambique, quer em Portugal havia possibilidade de conjugar a vida escolar com a actividade desportiva, sem que para tal deixasse de existir tempo para estudar.

Essa realidade acompanhou igualmente o meu percurso escolar no final da década de setenta e toda a década de oitenta. Aprender a conciliar o percurso escolar com a actividade desportiva era possível e um anseio para muitos Pais que viam os seus filhos fidelizarem-se a uma modalidade desportiva. Se no Futebol encontramos grandes barreiras para que o prosseguimento de estudos seja paralelo a prática a modalidade, no Basquetebol fomos encontrando alguns exemplos de percursos académicos completos e a prática, a dada altura profissional, do Basquetebol. O nosso saudoso Paulo Pinto é um exemplo desse percurso.

Nos tempos actuais esta conciliação é mais difícil, mas não menos desejável. Estou convicto de que muitos Pais iriam gostar que os seus educandos apesar de terminarem as aulas ao início da tarde pudessem permanecer na escola participando em actividades extracurriculares tão ricas quanto os currículos normais. Sabendo de antemão que o estabelecimento escolar desenvolve um programa de desenvolvimento de uma modalidade desportiva capaz de possibilitar uma formação desportiva rica e assente numa filosofia própria rica em valores e educação comportamental, um Pai certamente sentirá que o alcance educativo do percurso escolar do seu filho ficará mais rico. Faça-se um inquérito através da Confederação das Associações de Pais e analisemos as respostas, talvez possamos encontrar forte cooperação na nossa missão e fortalecermos o alinhamento.

Alinhar a vida desportiva e a vida académica é para muitos países uma questão cultural que desagua no alto rendimento ou alimenta o espectáculo desportivo. Os Estados Unidos é um exemplo vivo disso e os brilhantes artigos do companheiro Nuno Tavares bem esclarecedores dessa realidade. Não creio que possamos pensar num rápido alinhamento desta natureza num País que nunca encontrou uma identidade desportiva para além do Futebol. Se analisarmos a nossa história recente, apenas encontramos a Mocidade Portuguesa como um fenómeno que recorreu à actividade desportiva no sentido de promover um determinado ideal. Desse ideal talvez seja possível retirar a estrutura organizativa e a existência de um propósito como aspectos positivos.

Para os Estados Unidos está há muitas décadas clarificado aquilo que se pretende com a coligação Desporto/Escola, bem como os percursos a seguir. No nosso país, tarda a encontrarmos um rumo para o Desporto e no Basquetebol corremos o risco de nos diluirmos numa inércia geral onde se trata dos problemas do Desporto como se de feridas fosse, colocando compressas e estancando a hemorragia, sem que haja coragem para eliminar definitivamente a bactéria que nos impede de crescer e evoluir.

Se por outro lado pretendermos para a nossa modalidade alinhar muito daquilo que foi feito em Moçambique para a promoção do Basquetebol com a realidade de hoje, encontramos no contexto escolar um espaço privilegiado onde actuar

Do meu ponto de vista, neste momento, mais do que tentar competir seja com que modalidade for, importa que o Basquetebol possa marcar a diferença conseguindo unir esforços, pessoas e recursos, apresentando ao Universo Educativo um Programa de Desenvolvimento da modalidade em contexto escolar credível, em coerência com os objectivos dos diferentes níveis de ensino.

O projecto Compal Air foi um pequeno grande passo uma vez que levou o Basquetebol à escola. Mas em Moçambique, um processo parecido actuou na base dos praticantes, fora do contexto escolar e fidelizando crianças a marcas e à modalidade. Seria desejável que projectos destes se estendessem ao 1º ciclo e se consolidassem no 2º e 3º ciclo, sempre muito bem suportados na conciliação das actividades lectivas e das actividades propostas.

Se a disciplina de Educação Física se assume como um meio de excelência para o desenvolvimento psicomotor e educação para a saúde da criança e jovem em idade escolar, o Basquetebol pode assumir-se como uma actividade extracurricular, inserida no Projecto do Desporto Escolar (que já está), assumindo a sua responsabilidade no desenvolvimento das capacidades coordenativas das crianças e jovens, possibilitando uma iniciação à prática de uma modalidade desportiva de equipa e construindo uma ponte facilitadora da transição da formação para o rendimento. E se essa mesma ponte possibilitar um trajecto Universitário paralelo a um percurso desportivo, então, talvez possamos encontrar um caminho para resolvermos o problema da transição de jogadores do escalão sub-18 para os sub-20 e consequentemente para os seniores, aumentando assim a longevidade dos nossos praticantes.

Talvez seja uma ideia ousada e elitista na medida em que se centra numa modalidade desportiva. Mas se na história da nossa modalidade fomos pioneiros em tantas coisas importantes do nosso desporto, porque não ousar ser inovador e contribuir para a construção de uma cultura desportiva diferente?

Esta minha opinião ainda não constitui o caminho propriamente dito, mas que possa ser uma porta para despertarmos para uma nova visão do desenvolvimento desportivo em geral e do Basquetebol em particular. James Naismith conseguiu isso em 1891!

 

Comentários 

 
0 #4 Júlio Silva 25-01-2013 13:05
Parabéns, João
Acabo de ler os dois artigos (este e o da semana anterior) e voltarei a fazê-lo (já os imprimi para ser mais fácil) de forma mais atenta. Também li os comentários de muitos companheiros treinadores que assim deram um maior realce ao valor dos teus escritos. Para além disto tudo, queria deixar aqui o que acho ser uma justa e enorme HOMENAGEM ao prof TEOTÓNIO LIMA, juntamente com o já falecido Prof. Noronha Feio e a todos os técnicos que, na altura, compunham o Conselho Provincial de Educação Física e Desporto de Lourenço Marques, homens que, segundo julgo saber, deram o pontapé de saída no minibasquete moçambicano nos idos de 60. Na minha biblioteca pessoal, em lugar de grande destaque, dois manuais editados por esse conselho ( "Manual de Minibasquete e Basquetebol Elementar" e "Curso de Monitores de Basquetebol") que ainda hoje, CINQUENTA anos depois, são enorme e preciosa ajuda na minha já longa actividade de treinador deste jogo. Enhorabuena...
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0 #3 CoachFernando 25-01-2013 11:20
Sem dúvida que o Compal trouxe mais uma possibilidade de fazer chegar o basquetebol à comunidade escolar mas, ainda antes disso, assistimos ao desaparecimento dos circuitos de 3x3 que se realizavam no verão, numa altura de paragem competitiva, e que permitiam que muitos milhares de jovens, federados ou não, praticassem a nossa modalidade durante um período em que agora são "obrigados" a fazer férias, pois os espaços disponíveis para a prática informal são, como alguém já referiu, escassos ou inexistentes.
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+2 #2 Fr. Ribeiro 24-01-2013 22:58
Excelente artigo, digno de atempada leitura e de alguma reflexão...Será que os grandes responsáveis, pela área do desporto, serão mesmo sensiveis ao conteúdo desta matéria ? Bem haja os que de alma e coração se dedicam a tão nobre causa (refiro-me, mais exactamente ao Basqueteboll). É pena que só com alguma carolice se consigam atingir objectivos...que haja pois continuidade.
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+3 #1 San Payo Araújo 24-01-2013 16:37
Caro João

Uma vez mais foi com enorme agrado que li mais este teu contributo para um possível alinhamento do basquetebol. Das muitas coisas importantes que são ditas neste artigo queria realçar dois aspetos o merecido elogio ao companheiro Henrique Vieira e a frase "havia possibilidade de conjugar a vida escolar com a atividade desportiva"

Esta será seguramente o mote para um dos meus próximos artigos. Até já tenho o título na cabeça
Ando sentado.

Um abraço e parabéns pela coragem de espores os teus pensamentos, Espero que continues,.
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