MB o meu primeiro cartão
 
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MB o meu primeiro cartão

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Vitor SepodesUm jovem que veio em 1976 de Moçambique apenas com duas malas de mão não se esqueceu de trazer o seu primeiro cartão de jogador de minibásquete.

Foi o depoimento do Prof. João Ribeiro, que nos levou a esta entrevista. Encontrar e reconhecer quem muito dá ou deu à modalidade é um dos objectivos desta iniciativa. Fomos recebidos em casa do Vitor Sepodes, onde numa longa conversa pudemos observar o seu entusiasmo e a paixão pela modalidade. Nessa visita ficou acordada uma entrevista. Agora é o momento de apresentar mais um depoimento através da entrevista a Vitor Sepodes.


Antes de falarmos da sua paixão pela modalidade, gostaríamos que nos dissesse como acolheu a informação, que o Planeta Basket no âmbito da iniciativa 50 Anos de MB 50 depoimentos, o queria entrevistar?
Fiquei surpreendido e achei uma iniciativa muito positiva de louvar, pois em Portugal poucos se lembram de elogiar ou homenagear aqueles que de alguma forma contribuíram para o fomento da modalidade. Ao fim de 30 anos pensei estar completamente esquecido nos pergaminhos da Direcção Geral dos Desportos e da Federação Portuguesa de Basquetebol. PARABÉNS ao Planeta Basket por esta iniciativa.

Moçambique foi onde tudo começou. Fale-nos um pouco da sua vivência do primeiro torneio de minibásquete da Coca-cola? Como eram formadas as equipas? Quem eram os treinadores? Quem arbitrava os jogos?
Participei no 1º Torneio Coca-Cola quando tinha 12 anos, era o último ano de mini basquetebolista. Ainda guardo o meu cartão de jogador desse tempo. No ano seguinte, já com 13 anos não tinha idade para participar como jogador podia, no entanto apresentar uma equipa. Assim fiz, com amigos dos 8 aos 12 anos e participei como treinador/monitor no segundo torneio.

As equipas eram de “rua”, “bairro”, “turma”, enfim tudo servia para formar uma equipa. Os árbitros eram igualmente jovens com mais de 12 anos, que se ofereciam para arbitrar. Realço que todos recebíamos uma  “T-shirt” de alças com a sigla do torneio Coca-Cola e no fim de cada jogo era oferecida 1 coca-cola a todos os participantes.

A sua actividade como jogador foi muito longa, mas aos 12 anos deixou de poder jogar minibásquete, como continuou a sua ligação aos torneios de minibásquete?  Nesta primeira etapa qual era a sua equipa?
Após os 2 anos de participação, primeiro como jogador e depois como treinador, fui fazer alguns treinos com os Iniciados do Desportivo de L. Marques cujo treinador era o Carlos Alemão e no Ferroviário onde o treinador era o  Mário Machado. Nesse período tive 1 ou 2 treinos com o meu irmão, José Carlos Sepodes. Foi então que se formou o C. D. Real Sociedade de L. Marques com sede no bairro onde vivia “Sommerchield” e lá fiquei até aos seniores. No ultimo ano joguei no Sport Lourenço Marques e Benfica, com jogadores conhecidos como os irmãos Barbosa, Vítor Correia Mendes, e outros. Mas já que falo no assunto, recordo que nos juniores e seniores do Real Sociedade joguei com e contra alguns dos melhores jogadores de sempre: Mário Albuquerque,  Nelson Serra, Rui Pinheiro, António Almeida, Luís Dionísio, Carlos Lisboa, Mário Machado, Samuel de Carvalho, José Carlos Sepodes, Quim Neves, Quen Gui, George Sing, Eustácio Dias, Leonel, Carlos Alemão, Fernando Cantinho, Miranda, Carlos Barroca e tantos outros, que depois em Portugal constituíram  a espinha dorsal do basquetebol nacional. Sempre que possível “grandes” e “pequenos” encontrávamo-nos com frequência no parque José Cabral, ou no Verney ou na casa do Otto Rocha ou ainda na casa do Zé China onde jogávamos 3X3 ou 4X4, enfim… tempos maravilhosos. A segunda e forte ligação ao MB veio mais tarde, já em Portugal.

De Moçambique trouxe consigo a paixão pelo basquetebol, como ajudou a dinamizar o basquetebol na região de Torres Novas onde a modalidade era praticamente desconhecida? Que princípios, valores e ideias base sustentaram a sua intervenção?
Vim para Portugal em 1976, para a então vila de Torres Novas. Comecei por aparecer quase diariamente no ringue ao ar livre junto ao campo de futebol, onde ia lançando umas bolas e de certo modo “treinava”. Alguns amigos começaram a aparecer e uns trazem outros, fazíamos jogos, “garrafão”, lances livres, etc., em que os mais influentes foram o Inácio Ferreira, o Joaquim Borralho, o Noé, o Nunes, o Arlindo, o Marujo e outros que já davam para formar equipa e começámos a treinar 2 a 3 vezes por semana. Reparei também que apareciam crianças dentro da idade do minibasquete que queriam “brincar” connosco. Foi então que casualmente encontrei o Prof. Vítor Mata (também vindo de Moçambique), que dava aulas de natação em Torres Novas e era subdelegado da D.G.D. em Santarém. Ao saber que me juntava com uns amigos e já tínhamos malta para formar uma equipa, convocou-me para uma reunião em Santarém com a presença do então delegado Prof. Cândido de Azevedo. O coordenador da delegação da D.G.D. era na altura o Pro. Albino Maria. Nessa reunião propuseram-me fomentar o basquete e minibasquete em Torres Novas e arredores. Com um contrato de prestação de serviços comecei por organizar a equipa sénior. Havia toda a necessidade de garantir a continuidade da modalidade e o único processo é criar ESCOLAS. Em 1977 fui às escolas primárias, porta a porta, dar a cara e convidar as crianças a aparecerem no campo de terra batida junto ás piscinas municipais, todos os dias a partir das 16 horas. Começaram a aparecer 6, 10, 15, 18…etc., rapazes e raparigas, formei equipas mistas e assim se deu início ao minibasquete em Torres Novas.Com este êxito, fui á aldeia vizinha das Lapas e fiz o mesmo no Entroncamento, onde as professoras aderiram com entusiasmo. Com cerca de 60 crianças em Torres Novas, 40 no Entroncamento e 30 nas Lapas, formei  dezenas de equipas que participaram em torneios organizados pela D.G.D. em vários locais do Distrito de Santarém, que decorriam ao domingo, todo o dia, onde muitas vezes as minhas equipas jogavam umas com as outras, pois o treinador era o mesmo. A bola de neve estava criada… iniciados, juvenis, etc., viriam nos anos seguintes. Em 1981 fui campeão distrital com uma equipa de minibasquete de Torres Novas os “Globetrotters” o que nos possibilitou participar no Minicesto/81 na Madeira.

Tendo treinado e exercido grande influência sobre muitos praticantes, há algum jogador(a) ou algum episódio que gostasse de destacar neste longo e rico percurso?
Claro! Depois de conseguir dezenas de títulos de Campeão Distrital, quer com MB, quer Iniciados e Juvenis, masculinos e femininos, realço a 1ª jogadora Internacional do Distrito de Santarém, Eugénia Marques que começou a treinar aos 9 anos e aos 16 era internacional. A Mónica Sousa também foi aos treinos da selecção mas não ficou na escolha final. A Eugénia tinha qualidades técnicas que aparecem em cada 1000 jogadoras. Nas selecções regionais tive sempre vários jogadores incorporados onde participaram nos nacionais inter-selecções. Aproveito para lembrar que fui Director Técnico da A.B.Santarém. durante 5 anos tendo treinado selecções masculinas e femininas.

Quanto a episódios, bem… desde 1 jogador de MB a quem disse para substituir outro, ele entrou em campo, disse ao outro para sair, só que este não saiu! Passados 2 ou 3 minutos o árbitro parou o jogo pois estavam muitos em campo, ninguém reparou na entrada súbita daquele jogador, nem eu! Outro a quem disse que ia defender o João ele foi defender o João da própria equipa…”coisas do treino”, tive de gritar- é o João da outra equipa! O Carlos Sousa a quem ensinei a rodar a bola no dedo e no dia seguinte vinha com um adesivo, queimou o dedo de tanto praticar. Um jogador meu “sacou” a bola ao atacante e eu gritei – BOA…NÃO PARES!! Ele não parou, saiu pela linha do fundo, e passados uns 5 metros voltou atrás e ainda conseguiu lançar, enfim… nada o parava! O Paulo Vilas em conversa lembrou-me outro episódio. Quando fomos á Madeira tivemos que “dormir” uma noite em Santarém em colchões de campismo e sacos-cama. Às 2 da manhã não se calavam! Peguei neles, vim para o jardim e pu-los a correr até se cansarem. Fomos para dentro e como o Fernando Xavier não se calava ficou com 1 sapatilha na boca uns minutos, até se calar… não comeu a sapatilha, ainda foi sorte. Lá acalmaram e de madrugada fomos para o aeroporto. Seriam mais 10 ou 20 histórias que davam UM LIVRO!

O minibásquete no final dos anos 70 e princípio dos anos 80 era apoiado e fomentado pela Direcção Geral dos Desportos, através dos Planos de Desenvolvimento do Basquetebol. Que reflexo o desenvolvimento deste projecto deixou na área geográfica do distrito de Santarém? Que outros treinadores estiveram envolvidos na iniciativa de dinamizar o basquetebol do distrito de Santarém?
A D.G.D. foi a mola principal para o desenvolvimento do MB e basquetebol no distrito. 1º Porque incentivou alguns elementos, como eu, a criar núcleos de MB em várias localidades. 2º Organizou e apoiou torneios de MB onde os jovens competiam durante todo o dia, jogando entre si e á hora de almoço era oferecida um suplemento alimentar “volante” com 1 sandes, 1 bebida, bolachas e fruta. 3º Ajudou a criar a Associação de Basquetebol de Santarém, com pessoas que deram um contributo extraordinário à modalidade e de certo modo deviam ser também homenageadas.

Em vários locais, então ainda vilas, como Torres Novas, Entroncamento, Cartaxo… apareceram treinadores a participar com as suas equipas nos tais torneios de MB. Recordo na Chamusca o José Monteiro, no Cartaxo o Joaquim Alberto, em Santarém o “loirinho” não me recordo do nome assim como em Tomar. ( as minhas desculpas).     Foi então que em 1979/80, se realizou em Abrantes o 1º Curso de Treinadores de Basquetebol com a “fina nata”do Basquetebol Nacional: Hermínio Barreto (que foi meu treinador em Moçambique, nos Juniores do Real Sociedade), Adriano Baganha, José Esteves e Eliseu Beja. Esta formação serviu de mote para o “grande arranque” do Basquete em Santarém.

Na D.G.D., quando o Cândido de Azevedo seguiu para Macau, o Vítor Mata vai para Delegado, o Albino Maria para subdelegado e eu passei a Coordenador Distrital.

Depois de tantos anos ligado ao basquete quer através da Direcção Geral dos Desportos, quer através dos clubes da região de Torres Novas o que ficou para si da modalidade e o que o levou ao abandono desta paixão?
Esta é uma questão a que não gosto de responder, mas reconheço ser importante por as “ cartas em cima da mesa” para que o jogo seja limpo! Começo por recordar que apenas a D.G.D. me remunerava como Coordenador Distrital. Nada recebia como treinador do C.D. de Torres Novas (masculinos), nem da U.D.R. da Zona Alta (femininos), nem sequer como Director Técnico (Selecionador Distrital) da A.B. Santarém., durante 5 anos. Por vezes perguntavam –me quanto tinha gasto em gasolina e assim recebia uns tostões! Durante 6 anos foi assim, razão pela qual comecei  a dar aulas de natação e aí sim, era remunerado dignamente. O que pretendo dizer é que não era o dinheiro que me motivava, se fosse tinha parado mais cedo, mas sim a paixão pala modalidade e pelo que consegui construir; mas para não ser reconhecido, nem remunerado era melhor “arrumar as botas”… ao longo destes 30 anos em nenhum dos aniversários das colectividades, ou da A.B. Santarém, ou da Federação fui convidado a estar presente, nem sequer reconhecido pela Câmara Municipal, é uma vergonha, em meu entender.

Num país em que apenas importa o Futebol é difícil qualquer um conseguir apoios, transportes, equipamentos, bolas, horário no pavilhão, a maior parte dos jovens e treinadores de hoje não imaginam o que eu passei!  Fiz menos pela natação do que pelo basquetebol, mas pelo menos na natação ajudaram-me financeiramente. Para um jovem que veio de Moçambique com 2 malas de roupa e 2.500$00, repito 2.500 escudos, pois foi o que me deixaram cambiar, tudo o resto ficou lá, e não foi fácil.

Em 1977 como era um excelente jogador dos seniores do Desportivo de Torres Novas, o Fernando Inácio arranjou-me emprego como servente, na fábrica de papel do sr. Abílio. Em 1978 entrei para a D.G.D., e a restante história está contada.

No entanto quero realçar alguns nomes que merecem ser mencionados e colaboraram comigo. Em Torres Novas o António Inácio, o Quim Borralho, o João Sousa, a Isabel Mendes, a Mónica Sousa, a Paula Ruivo, o seccionista Jorge da Bernarda, na Chamusca o Zé Monteiro, no Cartaxo o Joaquim Alberto, no Entroncamento o Franquim e o Zé Mendes, em Santarém o Eliseu Beja, o Albino Maria e o Zé Vidal, e mais um ou outro que não recordo os nomes. É evidente que depois destes nomes apareceram muitos outros, mas já com o trabalho de base feito!

Em resumo a falta de apoios, o não reconhecimento e a falta de remuneração, fizeram com que iniciasse outras actividades como natação, canoagem, organizar colónias de férias e férias desportivas, sempre ligado ás autarquias o que me tirou tempo e gosto por continuar a apoiar o basquetebol. As fotos e recortes dos jornais que guardo falam por si.

Para finalizar o que pensa da iniciativa do Planeta Basket de celebrar os 50 anos de minibásquete em Portugal indo à procura e reconhecer através de depoimentos pessoas que vivenciaram intensamente o minibásquete?
É a minha vez de não só aplaudir esta iniciativa como homenagear as pessoas, que ao fim de 50 anos fazem reviver e realçar a importância do MB e as recordações quase esquecidas de um espólio de notas, fotos e histórias que não têm preço. PARABÉNS e obrigado pelo que estão a fazer por mim e outros companheiros quase esquecidos. BEM HAJAM

 

 


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