Nós, os treinadores, também aprendemos com os jogadores. Posso dizer que aprendi várias coisas com o Carlos Lisboa, mas há uma frase que me marcou para sempre:
“Prof, ganhar só traz vantagens!” É uma expressão que ainda hoje continuo a usar nas minhas equipas e não resisto a contar aos leitores do Planeta Basket o momento em que a ouvi pela primeira vez.
Na minha primeira época como treinador do SL Benfica, terminamos a fase regular no primeiro lugar e como tal jogamos sempre o primeiro jogo de cada eliminatória do playoff em nossa casa. Quando chegou a eliminatória com o FC Porto, o Carlos Lisboa apresentava uma grave lesão no pulso e ponderámos inclusivamente a possibilidade dele não alinhar no jogo 1, para o guardarmos para os jogos seguintes. Mas o Carlos tinha ideias bem diferentes e entrou em campo com uma ligadura bem apertada no pulso. A primeira parte foi um desastre e ao intervalo estávamos a perder por uma diferença considerável.
No balneário, após a minha palestra, ele fez o seguinte. Primeiro virou-se para os colegas de equipa e disse que tudo iria mudar na segunda parte, afirmando que as coisas não tinham corrido bem na primeira parte porque ele simplesmente, não tinha estado ao nível de desafio.
E em seguida retirou a ligadura que lhe protegia o pulso magoado e atirou-a para o chão. O Carlos reentrou em campo com uma postura inacreditável, suportando a dor e dando um exemplo de liderança que impulsionou os restantes companheiros de equipa para uma exibição fantástica. Mais do que os pontos marcados ou os ressaltos, o Carlos lançava-se para o chão para disputar as bolas divididas, liderando a equipa do Benfica a uma grande reviravolta e à vitória no jogo.
Algumas horas depois do final do encontro na Luz e com os ânimos mais calmos, perguntei-lhe: Carlos, Porquê? Porque sacrificaste o teu pulso, o teu ganha-pão? Porque jogaste, sabendo que este era apenas o primeiro jogo da eliminatória?
E a resposta foi breve: “Prof, ganhar só traz vantagens!”
O que aconteceu neste jogo é um excelente exemplo de características como liderança, determinação e sacrifício em prol da equipa, que só os grandes atletas têm. Estas foram algumas das capacidades que fizeram do Carlos Lisboa o melhor jogador com quem trabalhei ao longo da minha carreira de treinador.