O título parece encaminhar a linha de pensamento deste artigo para algo mais táctico, organizacional ou de mera construção da equipa. No entanto, na mensagem contida no mesmo partilho convosco as minhas convicções quanto ao verdadeiro “cinco ideal”

que um treinador de jovens deve procurar construir independentemente dos jogadores que disponha, capte ou seleccione.

Deste “cinco ideal”, mais valias virão para os jogadores, pais, clube e modalidade. Certeza de que vai ganhar títulos não há, pelo que a esse nível nada garante que possa vir a associar as suas convicções aos títulos. Mas certamente outras vitórias virão que, não menos importantes, darão o verdadeiro valor à experiência desportiva de quem por elas passar.

Vejamos então a constituição deste “cinco”, começando pela posição de base. Aquele que lidera, comanda as operações e traça, naturalmente um rumo ao desenvolvimento do “jogo” da nossa equipa – O Exemplo. Do Exemplo sairão boas ou más jogadas “jogadas” se pensarmos como se deverá comportar o Treinador no treino, na linguagem que utiliza com os atletas, com árbitros, pais, treinadores adversários, na sua apresentação, forma de estar e capacidade de relacionamento com os que o rodeiam.

Como segundo base, atirador imparável, estará a Paixão. A percentagem elevada de “lançamentos convertidos” pela Paixão, expressar-se-á no entusiasmo com que se ensina, apresenta os conteúdos, elogia, corrige e vive o dia a dia da tarefa do treinador. Sabemos que este “elemento” do cinco nem sempre tem a clareza suficiente para saber parar. O gosto pela modalidade, as suas memórias da modalidade, os seus sonhos as suas ilusões estão, por vezes, acima de uma boa “seleção de lançamento”. Mas no entanto não desiste e vai acreditando, pela sua natureza, que a qualquer o momento poderá dar o seu contributo. Acreditemos que o “base” saberá ajudá-lo a controlar as emoções.

Não estou agarrado a nenhuma disposição fixa dos jogadores em campo, pelo que seja em 1:4 ou 2:2:1 terei na equipa certamente um extremo valioso, versátil e capaz – A formação. A este respeito é importante o seu contributo para o jogo, investindo na formação contínua, na frequência de clinics, acções de formação, partilha de conhecimentos com os seus pares, produção de conhecimento através da elaboração de artigos sobre oque faz e no que acredita. Neste sentido, teremos o melhor extremo na nossa equipa.

Aproximando a bola do cesto, lutando nas tabelas e realizando um trabalho às vezes invisível estará a Competência. A competência em preparar tudo o que faz, encontrar um equilíbrio organizativo, atendendo que poucos são os treinadores que são profissionais e certamente terão de gerir a sua vida profissional e a atividade de treinador. Planear, registar, reflectir, pensar, escrever, organizar, eis algumas da competências que queremos ver no nosso “extremo poste”.

Por último o nosso poste, o nosso jogador mais alto, com grande visão do jogo e que se pretende que jogue nas alturas – O Futuro. A este nível está o pensamento constante do treinador para preparar o amanhã, para assumir a responsabilidade de tornar os seus jogadores cada vez melhores, investindo no desenvolvimento das capacidades que sustentarão o futuro. Neste campo não deveremos apenas incluir as capacidades atléticas, técnicas e táticas para jogar, mas o desenvolvimento de uma atitude mental capaz de ajudar o atleta a jogar, a suportar a exigência da competência e a exigência natural da vida.

Sendo o sonho de todos, o Treinador que conseguir construir este “cinco” e com ele proporcionar momentos de sucesso desportivo, creio poder sentir-se orgulhoso interiormente pelo trabalho que fez. Todavia, enorme orgulho deverá existir em todos os treinadores de jovens que por este país têm menos vitórias, menos troféus, mas sem prescindirem do seu “cinco ideal” transformam positivamente a realidade onde atuam, envolvendo pessoas, fortalecendo relações, estabelecendo cumplicidades e deixando o contexto melhor do que quando iniciou a sua tarefa. Para esses deveremos guardar um lugar no nosso “Hall of fame”.

Destacaria ainda o papel do 6º jogador – A Humildade. Mais ou menos presente nos nossos treinadores deverá constituir uma preocupação e razão de investimento pessoal, pois sendo verdade que pouco ou nada tendo sido possível fazer para verdadeiramente reconhecer Treinadores de Jovens, que realmente cumpram a sua missão, muitos são os que, na sombra, na simplicidade dos seus actos e sem necessidade propriamente de sentirem que é o “caneco” que lhes dá reconhecimento, prestam um excelente serviço pedagógico ao Desporto em geral e ao Basquetebol em particular.

Terminaria dizendo que não se iludam os treinadores que apenas disponham destes cinco excelentes “jogadores”. Uma vez presentes é importante, com este “cinco ideal”, organizar colectivamente a equipa para podermos tirar o melhor dos nossos “jogadores”. A dinâmica que dermos ao processo proporcionará certamente a todos os jogadores do nosso “cinco ideal” expressarem o melhor de si em prol de uma equipa mais forte e de uma modalidade mais rica.