José Cardoso é atualmente comissário / observador do distrito de Leiria, até à época transata exercia funções como árbitro nacional de 2ª categoria. Paralelamente é árbitro internacional de cadeira de rodas.
Ligado à nossa modalidade há longa data, este juíz deu-nos o prazer de contar algumas histórias que aconteceram com ele dentro e fora dos campos de basquetebol.
“Tantas “estórias” que podia contar (e outras não) ao longo destes anos, embora muito menos do que alguns colegas de cátedra. Mas algumas, nomeadamente dos primeiros anos de arbitragem vincaram memórias.
1 - Jogo de séniores entre Stella Maris e Sporting Clube Marinhense. Pavilhão relativamente bem composto com adeptos de ambas as equipas. Um ambiente infernal e as duas claques a insultarem-se mutuamente, com provocações a jogadores, árbitros e treinadores. A dada altura do terceiro período, ao verificar que apenas 1 polícia se encontrava no pavilhão, num canto junto ao balneário, dirigi-me a ele e perguntei:
“O senhor agente tem a certeza que é suficiente para conter esta gente toda caso venha a haver problemas? Não seria melhor reforçar o contingente?”
Ao que ele respondeu:
“O senhor árbitro até tem alguma razão, mas no posto não há mais ninguém. Os meus outros colegas foram destacados para o futebol, e eu estou aqui fechei a esquadra e trouxe a chave. Quer que chame alguém de onde? Porte-se bem mas é, para que possamos sair todos daqui sem problemas.”
2 – Jogo de sub-16 em Caldas da Rainha num Domingo às 11 da manhã, com um funcionário do pavilhão habitualmente mal disposto, e adepto fervoroso de outra modalidade. Ao chegar ao pavilhão, disse-nos logo:
“Sr. árbitro, vamos lá despachar isto rapidinho que eu tenho que estar no outro pavilhão às 12:30”
No final do jogo, não me lembro bem por que razão mas nenhum dos atletas tomou banho, e até o meu colega que era das Caldas da Rainha saiu rapidamente sem tomar banho, assim como todos os oficiais de mesa. Cerca de 15 minutos depois, após o meu banho, quando ia para sair tinha o pavilhão todo fechado. Tive que partir uma minúscula janela do balneário e contar com a ajuda da equipa visitante que se encontrava no exterior a lanchar para poder sair do pavilhão. Ah, nesse tempo os telemóveis eram pequenas miragens para o comum dos mortais.
3 – Saudades do falecido Sr. Santos, responsável pelo pavilhão municipal de Pombal, que explorava uma tasca nas imediações do mesmo. Personagem de difícil trato com quem todos os árbitros tinham problemas… excepto eu! Eh eh eh.
Sempre que chegava ao pavilhão e ele se apercebia que eu era um dos árbitros, dirigia-se a mim e dizia:
“Sr. árbitro. Para si (e a minha equipa daquele dia obviamente) o balneário da esquerda que está limpinho e arrumado, e tem espaço. Se quiser fumar (eu fumava na altura) está à vontade, mas não deixe cinza no chão. E não se esqueça que no final do jogo, tem a sandes de queijo e a imperial à sua espera no meu bar”.
4 – Ou aquela vez que num jogo da 1ª Divisão feminina em Pombal, ao chegar ao balneário verifiquei que não tinha levado a camisola. O treinador da equipa de Pombal era o professor Luís Almeida. Como sabia que ambos os filhos eram árbitros naquela altura, dirigi-me a ele já dentro do pavilhão enquanto este orientava o aquecimento da equipa e contei-lhe uma “estória”.
“Professor, preciso da sua ajuda. Ao retirar a minha camisola do cabide no balneário, ficou presa e rasgou-se, pelo que não a posso utilizar. Pode por favor pedir ao seu filho (que se encontrava no pavilhão) se tem uma camisola que me possa emprestar?”
O Professor, de imediato se virou para a bancada e gritou a plenos pulmões.
“Pedro, vai a casa buscar uma camisola porque o árbitro esqueceu-se da dele…!!!”
De imediato rejeitei a oferta e arbitrei o jogo de blusão… A mentira tem perna curta.
5 – Mas a verdadeira aventura era ter que ir arbitrar a Peniche, não tendo carta de condução nem carro, nem ninguém com quem viajar. Então, saía da Marinha Grande de comboio até às Caldas da Rainha (que parava em todas as estações e apeadeiros), e daí apanhava o autocarro até Peniche. E depois tinha que ter a sorte e o engenho suficiente para que o jogo não tivesse prolongamento para que pudesse apanhar o autocarro de volta até às Caldas e o comboio até à Marinha Grande a tempo e horas… e por vezes foi necessário voltar à boleia até às Caldas, uma delas no carro da PSP!
Muitas mais haveria… hoje, aqui ficam estas. Um abraço a todos e obrigado pela oportunidade que me deram de partilhar estes episódios.
Comentários
Lembro-me das aventuras dos jogos fora - enquanto jogador... o menos mal era juntarmo-nos na estação de comboios e receber o bilhete da viagem da mão do treinador... e lá íamos nós para o Bombarral, Marinha Grande e Leiria...
Tempos homéricos, sim...