Na sua primeira actuação em solo luso, a selecção nacional feminina recebeu em Coimbra a forte e credenciada congénere de Itália, em jogo referente à 2ª jornada da fase de qualificação do EuroBasket 2015, Grupo C.
A realização deste compromisso, pese o empenho de Luís Santarino, presidente da AB Coimbra e da sua equipa, acabou por se traduzir em custos para a FPB que não estavam previstos. Apenas foi possível a utilização gratuita do pavilhão para treinos e jogo, naturalmente cedido pela autarquia local, a quem agradecemos na pessoa do vereador do pelouro do Desporto, Carlos Cidade. Um agradecimento ao líder associativo que conseguiu garantir a logística dos transportes internos para as duas selecções, dos respectivos hotéis para o pavilhão tanto para os treinos como para o jogo, sem custos para a FPB.
Foi uma vitória histórica pois nunca havíamos ganho à Itália. A última vez que nos havíamos defrontado, em seniores femininos, tinha sido na fase de qualificação disputada em Limerick (Irlanda) em Maio de 2001 e a selecção transalpina venceu folgadamente. Ontem, depois de termos comandado durante quase 31 minutos (30:40), à entrada do minuto 40, perdíamos por um ponto (51-52). Mas numa clara demonstração de grande confiança a veterana da selecção lusa, Ana Oliveira, selou a sua actuação com a sua 3ª bomba, a 42 segundos da buzina. Estava feito o 54-52 que viria a ser o resultado final.
Portugal liderou o marcador logo desde o apito inicial. No 1º quarto (16-8) a superioridade das comandadas de Ricardo Vasconcelos começou a desenhar-se logo nos primeiros ataques (8-2 no minuto 3), graças a 2 triplos consecutivos de Ana Oliveira (foram dela os primeiros 5 pontos da equipa) e Daniela Domingues, obrigando o treinador italiano a parar o jogo (minuto 3). As nossas representantes jogando com bastante concentração e eficácia chegaram a 16-5, com novo triplo, desta feita da autoria de Inês Faustino, no minuto 8. A rotação imprimida pelo treinador luso permitia jogar-se a um ritmo intenso, com transições rápidas.
No 2º período (8-18) a Itália fez o que lhe competia. Melhorou a sua eficácia de lançamento, particularmente nos duplos (passou de 14% para 44%), manteve a supremacia nas tabelas (14-17 ressaltos) e Giorgia Sottana confirmava os seus dotes de atiradora (2/3 nos triplos), com Lavinia Santucci a fazer estragos na área pintada (4/5 nos duplos). Foi assim que as italianas passaram para a frente no minuto 18 (22-23) por intermédio de Santucci, com Ricardo Vasconcelos a pedir novo desconto de tempo. Mas num contra-ataque Sottana triplou para os 22-26 (minuto 19) e foi da linha de lance livre que Portugal reduziu para 24-26, resultado que se verificava ao intervalo, mas não espelhava a superioridade da nossa equipa, que esteve na frente durante 16 minutos e meio.
No 3º quarto (16-7) o seleccionado luso voltou a imprimir uma toada forte, aliado a uma defesa mais eficaz. Passámos a dominar as tabelas (22-21 ressaltos), não permitindo qualquer ressalto ofensivo ao adversário neste parcial e aumentámos a percentagem nos tiros do perímetro (de 27% para 36%), com 5 triplos em 14 tentativas. Igualando o marcador (32-32) no minuto 24, com um triplo de Carla Nascimento, a esgotar o tempo de ataque, Portugal recuperou a liderança logo no minuto seguinte, através de Sofia Carolina. Acto contínuo o treinador transalpino parou de novo o cronómetro (minuto 25), mas Laura Ferreira, da linha de lance livre após ter provocado uma falta anti-desportiva fazia 36-32 (3ª falta de Raffaella Masciadri) e Ana Oliveira, com duas entradas decididas elevava para 40-33 (minuto 29), resultado ao cabo de 30 minutos de jogo.
No último período (14-19) as pupilas de Ricardo Vasconcelos tiveram o jogo perfeitamente controlado até ao minuto 37 (51-42), quando alcançaram pela 3ª vez a vantagem de 9 pontos, depois de 42-33 (minuto 31) e 47-38 (minuto 34). Ainda para mais com duas jogadoras importantes de Itália (Masciadri e Sottana já com 4 faltas desde o minuto 34), nada fazia prever a quebra lusa. Alguns erros defensivos e pouca iniciativa em termos ofensivos permitiram que as italianas se aproximassem perigosamente, com 3 triplos consecutivos: Spreafico (51-46, no minuto 37, numa jogada de 4 pontos, com falta convertida), Masciadri (51-49, à entrada do minuto 38) e novamente Masciadri (a virar o resultado para 51-52, ainda no minuto 38). Até que aconteceu o momento de inspiração de Ana Oliveira a fazer o 54-52, com um triplo do meio da rua, proporcionando uma vitória histórica para as cores lusas.
Resultado: Portugal 54-52 Itália
No final do encontro registámos o habitual comentário do seleccionador Ricardo Vasconcelos: «Esta vitória histórica enche-nos de orgulho e satisfação e tenho a percepção de que o grupo a merecia. Preparámos o jogo conscientes de que era possível ganhá-lo, mesmo sabendo que era difícil e penso que cumprimos o plano traçado de forma bastante regular. Foi fundamental o aumento da percentagem de 3 pontos, como já tínhamos referido, aliado à qualidade defensiva que apresentámos ao longo do jogo. Entrámos nesta qualificação como outsiders e não é uma vitória contra a Itália que nos faz iludir ou mudar a forma como trabalhamos.»
Destaque na selecção portuguesa para o colectivo, que voltou a fazer um jogo de sacrifício. De qualquer forma cumpre-nos salientar a prestação de Ana Oliveira, MVP da partida (17,0 de valorização) ao contabilizar 15 pontos, 5/10 nos lançamentos de campo repartidos por 2/4 nos duplos e 3/6 nos triplos, 3 ressaltos sendo 1 ofensivo, 3 assistências, 1 roubo e 3 faltas provocadas com 2/3 nos lances livres. Além de ter sido também a melhor marcadora do encontro, alguns dos seus cestos foram obtidos em momentos cruciais, nomeadamente os 2 triplos do 4º período (a fazer 45-38 e 54-52, a selar o resultado), sem esquecer os 2 duplos no 3º quarto (38-32 e 40-33), com entradas decididas a atacar o cesto. Foi muito bem acompanhada por Carla Nascimento (7 pontos, 1/3 nos triplos, 6 ressaltos sendo 1 ofensivo, 3 assistências e 4 roubos), Sofia Carolina (9 pontos, 7 ressaltos sendo 2 ofensivos, 3 assistências, 3 roubos e 5 faltas provocadas com 3/5 nos lances livres) e Daniela Domingues (8 pontos, 2/4 nos triplos, 3 ressaltos sendo 1 ofensivo, 3 assistências e duas faltas provocadas). Bons contributos ainda de Laura Ferreira (5 ressaltos, uma assistência, 2 roubos e 3 faltas provocadas com 3/4 nos lances livres), Lavínia Silva (2/2 nos duplos, 2 ressaltos defensivos, uma assistência, 1 roubo e 3 faltas provocadas com 1/2 nos lances livres) e Inês Faustino (7 pontos, 1/1 nos triplos, 2 ressaltos defensivos e duas faltas provocadas com 2/2 nos lances livres).
Na selecção italiana a mais valiosa foi a extremo Giorgia Sottana (8 pontos, 2/4 nos triplos, 2 ressaltos defensivos, 7 assistências, 1 roubo e uma falta provocada), seguida de Lavinia Santucci (9 pontos, 4/7 nos duplos, 5 ressaltos sendo 3 ofensivos, 1 roubo e uma falta provocada com 1/2 nos lances livres), Chiara Consolini (7 pontos, 3/3 nos duplos, 2 ressaltos defensivos, 1 roubo, 1 desarme de lançamento e 3 faltas provocadas com 1/2 nos lances livres), Laura Spreafico (9 pontos, 2/5 nos triplos, 1 ressalto defensivo e 3 faltas provocadas com 3/4 nos lances livres) e Raffaella Masciadri (8 pontos, 2/8 nos triplos, 3 ressaltos defensivos, 3 assistências, 1 roubo e 3 faltas provocadas).
Em termos globais Portugal foi mais eficaz nos triplos (37%-30%), ganhou a luta das tabelas (29-26 ressaltos) particularmente na tabela defensiva (23-19), cometeu menos erros (18-19 turnovers), roubou mais bolas (12-6) e provocou mais faltas (18-17), com melhor aproveitamento da linha de lance livre (69%-67%) ao converter 11 das 16 tentativas contra 8 em 12 tentados do adversário. Por seu turno a Itália teve maior eficácia nos lançamentos de campo (37,5%-38%) e nos duplos (38%-43%), foi ligeiramente mais colectiva (15-16 assistências) e ganhou a tabela ofensiva (6-7 ressaltos).
Ficha de jogo
Pavilhão Multidesportos Dr. Mário Mexia, em Coimbra
Portugal (54) – Carla Nascimento (7), Daniela Domingues (8), Ana Oliveira (15), Lavínia Silva (5) e Sofia Carolina (9); Laura Ferreira (3), Inês Faustino (7), Mª João Correia e Michélle Brandão
Itália (52) – Francesca Dotto (6), Chiara Consolini (7), Martina Fassina, Raffaella Masciadri (8) e Maria Laterza; Martina Crippa, Lavinia Santucci (9), Giorgia Sottana (8), Cecilia Zandalasini (3), Chiara Pastore (2) e Laura Spreafico (9)
Por períodos: 16-8, 8-18, 16-7, 14-19
Árbitros: Keith Williams (Inglaterra), Tomislav Vovk (Croácia) e Eric Bertrand (Suiça)
No intervalo do encontro a capitã Carla Nascimento recebeu das mãos do presidente da FPB, Mário Saldanha, uma singela lembrança relativa à sua 100ª internacionalização, atingida na campanha europeia de 2013, mais precisamente no jogo com Alemanha, disputado na fase de qualificação em Ramla (Israel). Completou ontem 109 internacionalizações.
No outro jogo da 2ª jornada, Grupo C, a Letónia venceu a Estónia, em Tallin, por 74-56, isolando-se no comando da classificação, com duas vitórias.
A comitiva portuguesa parte hoje (5ª feira) para Lisboa, após o pequeno-almoço, almoçando já na capital. Ao final da tarde a equipa treina no Pavilhão LORD da FMH, na Cruz Quebrada e depois pernoitará numa unidade hoteleira em Carnaxide. A alvorada na 6ª feira será bem cedo pois o voo LH1173 que nos levará até Frankfurt tem a partida marcada para as 07H25. Naquele aeroporto alemão apanharemos a ligação para Tallin, onde está prevista a chegada às 16H15 locais. Na capital da Estónia, a comitiva lusa ficará instalada no Hotel Shnelli, nosso poiso até à próxima 2ª feira, já que defrontaremos a selecção anfitriã no domingo (dia 15), a partir das 18H00, no Audentes Sports Arena, em jogo da 3ª jornada que assinala o final da 1ª volta.