Como surgiu a oportunidade de virem a Portugal para estarem presentes no Torneio do Sporting de Braga?
Fomos convidados pelo Sp. Braga, mas o nosso principal interlocutor foi o João Chaves, meu amigo, e antigo atleta do clube.
Uma deslocação destas traz sempre enormes dificuldades, como as conseguiram as ultrapassar e com que apoios contaram?
O apoio principal partiu dum antigo atleta do clube e atual presidente da Assembleia Geral da Federação de Basquetebol Angolana, Carlos Cunha, que patrocinou as viagens Luanda – Porto-Luanda. No entanto, para ser sincero, muito me surpreendeu o envolvimento e empenho e colaboração dos pais nesta deslocação dos seus filhos.
Qual é a sua opinião sobre este evento e como tem sido vivida esta experiência para os jovens minis do Vila Clotilde?
Para mim foi uma surpresa participar num evento que tivesse tantos minis e aproveitamos para beber muito da experiência deste encontro. As crianças estão maravilhadas porque vão conseguir fazer mais jogos num único dia deste evento, do que fazem Angola em dois anos. Pessoalmente também fiquei muito sensibilizado, que antigos jogadores do Vila Clotilde se tenham deslocado de Lisboa e de outros pontos do país para poderem conviver com as crianças do clube do seu coração, como o José Roque, o Nelson Costa o Fernando Silva, o Plágio, o Eduardo Pires e o Luís Filipe entre outros. Estes amigos fizeram questão de oferecer três jogos de equipamentos ao clube.
Vila Clotide sempre foi, mesmo antes da independência de Angola uma referência de basquetebol nos escalões da formação. Para que os mais novos tenham conhecimento da história pode-nos dizer alguns feitos do clube e como este está actualmente organizado?
O Vila foi campeão de Angola durante sete anos consecutivos no escalão de juniores e tem no seu historial, dois títulos de campeão português de juniores, isto antes da independência. Atualmente tem todos os escalões masculinos. Temos cerca de 50 praticantes de minibásquete, e equipas de Sub-14, Sub-16 Sub-18 e seniores.
Quer-nos falar um pouco sobre a organização do minibásquete em Angola?
A organização do minibásquete em Angola não existe. Esta está exclusivamente na mão de alguns clubes.
Que balanço faz deste evento?
Só tenho palavras elogiosas e gostaria de realçar duas pessoas o Sr Mário Batista, uma pessoa incansável e o amigo João Chaves. Contudo, apesar dos meus rasgados elogios, gostaria de deixar uma opinião pessoal sobre o comportamento de alguns treinadores que orientam as crianças como se fossem seniores, levando-as a uma agressividade excessiva sempre em função do resultado. Segundo a minha opinião não me parece que seja a forma mais correta de criar o gosto pelo jogo e orientar crianças destas idades.
Daquilo que pôde observar, que diferenças viu entre o minibásquete angolano e o que se pratica em Portugal?
Nós trouxemos uma equipa que não serve bem de exemplo, pois temos duas crianças com 8 anos uma com 9 e duas com 10. Com a idade deste escalão apenas viemos com 5 crianças. No entanto as diferenças maiores que eu noto são na envergadura e tamanho de algumas crianças portuguesas comparativamente às crianças angolanas, mas considero que os jovens angolanos são muito mais criativos.
Falando de minibásquete que pergunta gostaria que lhe fizessem e que resposta daria?
A pergunta que gostaria que me fizessem era: Que importância deve ter o minibásquete em Angola? E a resposta a esta pergunta é a seguinte: Num país com os títulos que Angola tem devia-se olhar de outra maneira para o minibásquete. Devíamos passar das palavras às ações. No discurso, não há ninguém que não diga que o minibásquete não é importante, as palavras são bonitas o pior e a prática.
Comentários
Ao ler a sua entrevista e ao referir-se ao Vila Clotilde - onde o meu amigo é elemento preponderante, porque competente -, acredite que uma lágrima furtiva me rolou pela face. Fez-me recordo um outro Fernando, o FERNANDO SIMÕES que num dia, daqueles que nunca deveriam de existir, foi brutalmente assassinado...
Que saudade, meu Deus ! Fui seu atleta, - que grande treinador, porque grande homem tambem ! - em Olhão, donde éramos naturais. Convivi com ele, nas instalações do Vila Clotilde em 1966, quando no serviço militar. Fui treinador do filho e hoje, passados esta imensidão de anos, ainda retenho na memória a sua extraordinária perseverança e dedicação extrema, verdade ?
Penso não ser atrevimento meu dizer que com o seu desaparecimento , apesar de, na ocasião, já não estar em Luanda, o Vila ficou um pouco mais pobre!
Felicidades para vós e tudo de bom para as gentes do Vila Clotilde.
Afectuoso abraço.