É o tema que reservámos para hoje, face ao que de muito - e nem sempre aconselhável - vamos observando pelos diversos locais e realidades do nosso basquetebol,
particularmente no que aos escalões de formação diz diretamente respeito, e muito em concreto nos min-8, mini-10 e mini-12.
"Ir a Jogo", se treinarmos bem, é a condição que colocaremos à partida, nesta despretensiosa abordagem, procurando equacionar duas tarefas: a dos treinadores e a dos encarregados de educação.
Relativamente aos treinadores, deveremos propor no treino exercícios adequados ao nível de jogo dos jogadores e que lhes permitam consolidar os gestos técnicos suportados por conceitos a introduzir.
Os exercícios a propor deverão ter uma sequência lógica de aprendizagem, respeitando a metodologia mais aconselhável e o princípio da complexidade.
Mas, tornando as coisas simples, atendendo a que os planos de treino são, primeiro que tudo, ideias, e que nós treinadores aprendemos através da prática, do ato experimental e das reflexões sobre os resultados dessa mesma prática e que só a experiência de um bom treino, que faça sentido ao atleta, é formadora e pode desencadear o potencial de perdurar pela vida fora.
Tudo isto, afinal, porque planear é vivermos em constante antecipação, face aos acontecimentos, é refletir, avaliar, prever e decidir o rumo, respeitando a orientação da "bússola" - outra vez a defesa da nossa "dama" (também a fazer parte das conclusões do Fórum Basquetebol Primeiro) a institucionalização de um coordenador técnico em cada um dos clubes.
Decididamente ao não se planear ou ao planear-se mal, estar-se-á inevitavelmente a planear o ... fracasso!
Argumentarão alguns, sobretudo os dirigentes, que não haverá capacidade financeira para tal desiderato, e outros a duvidar da sua grande utilidade, talvez por falta de referências. Referências, que tenderão naturalmente em alicerçar-se na experiência e maturidade de alguém (s), capaz de lhes indicar o desafiante e enriquecedor desafio do "sigam-me" e não do "vão por ali", com o objetivo maior de valorizar o praticante e o nível da prática do jogo.
É, será, abismal a diferença entre uma e outra forma de estar. A fazer lembrar um célebre e milenar pensamento chinês: "Podemos escolher o que semear, mas iremos certamente colher o que plantarmos".
Estará cometida para nós, treinadores, a gigantesca tarefa de procurarmos valorizar o praticante e valorizar o nível da prática do jogo, não em "laboratório", eventualmente plagiando iniciativas distantes, até de outro continente, aplicando "matéria" sem a devida experimentação prática.
Mas antes com base numa estruturação e sistematização de princípios, desenvolvendo os conteúdos mais adequados a cada um dos escalões etários, supervisionados por um qualificado e competente coordenador técnico.
Em síntese, para com segurança "irmos a Jogo", nós treinadores temos a comprometedora responsabilidade de proporcionar aos mais jovens praticantes:
- Bem estar
- Desenvolvimento psicossomático
- Divertimento e conhecimento dele próprio
- Estimular a sua criatividade
- Criar, incentivar e premiar o espírito de grupo
Conseguido isto, estaremos em condições de responder a um qualquer anúncio, de um qualquer encarregado de educação, mandatado por um conjunto de pais, do estilo: "Precisa-se de treinador com sólido conhecimento do jogo, com perfil adequado e possuidor de conduta pedagógica exemplar".
Cumprida a tarefa de nós, treinadores, seguir-se-á a dos encarregados de educação: Indispensável se torna também "irem a jogo, se treinarem bem". E treinarem bem, no sentido em que deverão definir o que pretendem para os seus filhos, escolhendo para tal o local/clube mais idóneo, que melhores condições apresente, visando a educação desportiva das suas crianças.
Terem o cuidado de aferir de qual o processo ensino/aprendizagem a ser disponibilizado por parte da equipa técnica, particularmente no aspeto social, á partida mais até do que a vertente desportiva, bem como das condições de higiene (balneários), espaços físicos existentes e material/equipamento a ser utilizado (bolas e outros utensílios inerentes à atividade).
Inteirarem-se de qual a formação/qualidade/competência de quem está cometida a tarefa de orientar as suas crianças.
Na interação com os pais, os treinadores realizam reuniões periódicas com os pais, dando-lhes a conhecer do trabalho a realizar e de quais os objetivos a alcançar? Com a dinâmica do processo, e de acordo com o que, por vezes, as circunstâncias poderão recomendar, é solicitada a participação dos pais?
Deverão os encarregados de educação aperceber-se se os jovens praticantes, no decorrer do treino, se divertem, se evoluem, face aos ensinamentos ministrados. É que é fundamental este procedimento, no alcançar de uma boa dinâmica de grupo em jovens em início de aprendizagem.
Nestas idades, 8-10-12, os jovens começam a formar a sua personalidade, sendo de decisiva importância que todos se sintam, com a sua quota-parte de contributo, como pertencentes a um coletivo, que marcará a sua vida desportiva, e não só: A Equipa!
Em resposta, e em réplica ao anúncio da outra parte - a dos encarregados de educação-, cumprida que foi a tarefa, poderão, agora, o (s) treinador (es) colocar o deles: "Tivemos uns exemplares encarregados de educação, gratos pela vossa colaboração".
Só ganhará com isso o basquetebol, por muitos considerado o mais completo desporto de equipa.
Por tudo quanto deixamos expresso, valerá recordar, porque a propósito, o título e o conteúdo - trata dos malefícios da especialização precoce -, da conceituada obra de Jacques Personne: "Nenhuma Medalha Vale a Saúde de uma Criança".
Voltaremos a 3 dezembro, com o tema: "Do talento à excelência".
Até lá, e bom Basquete!
Comentários
Como forma de gratidão para com a modalidade e para com os mestres que nos orientaram, com o "olhar" e o sentir que nos é próprio, continuaremos a "ir a jogo" e a "dizer o que tem de ser dito".
Mestres, como o teu "convidado" anunciado : o prof. José Esteves.
Se o conteúdo da sua obra, publicada em 1970 (!), "O Desporto e as Estruturas Sociais", pudesse hoje ser levada à prática, Portugal seria uma das grandes referências da Europa !
Mas, o tema e o "convidado" pertencem-te, San Payo.
Seremos todos "ouvidos", na próxima 3ª feira.
Até lá, e aquele abraço.
Excelente "alerta" e como tu dizes, face ao que vamos observando, nunca são demais estas "chamadas" de atenção. Na próxima terça feira sinto-me obrigado a falar sobre o prof. José Esteves, mas depois como nunca é demais
também abordarei este tema.
Um abraço