Os alicerces de uma sociedade, entre outros, são a educação e a actividade física/desporto, quando este se conjugam de modo a cumprir objectivos comuns tudo se transforma.
Antes de começar a escrever este artigo fui rever os artigos sobre o mesmo tema quando trabalhei em Dallas e em Madrid, sendo que existem traços comuns nos três países.
Com o inicio da época e do ano escolar a começar em Portugal, aproveitei para ver os horários de muitos clubes/escalões de formação que são colocados nas redes sociais e pergunto-me como é possível criar atletas de formação/competição. Ser atleta de basquetebol em Portugal nos escalões de formação é uma tarefa difícil, difícil por dois motivos: o número de horas sentado a uma secretária numa escola e os horários excessivamente tardios dos treinos.
Ao ler uma entrevista do treinador de rugby Tomaz Morais este dizia “...os nossos atletas já chegam cansados aos treinos...” e não podia concordar mais. Na generalidade um jovem do escalão de sub14 treina das 18:30 às 20:00, de sub16 até às 21:00 e muitos de sub18 até às 22:00 (por vezes até mais tarde), o que faz com que este jovem chegue a casa só com tempo para tomar banho, jantar e ir para a cama, deixando para trás duas actividades importantes no seu desenvolvimento: o tempo para brincar e o tempo para a família.
O problema dos horários desportivos começa logo pelo problema dos horários escolares, sendo que a escola começa muito cedo e acaba muito tarde, nunca antes das 15:00 sendo que em alguns anos vai até às 17:00, fazendo com que “...os nossos atletas já cheguem cansados aos treinos...”
Vejamos o exemplo italiano. Da 1º ao 12º ano nenhum aluno tem aulas após as 13:30, sendo que o 1º ciclo quase sempre sai às 12:30 (algumas escolas primárias 1 dia por semana tem 3 horas numa tarde mas não muitas e alguns dos alunos mais velhos poderão ter aulas ao Sábado de manhã mas nem todos). Estes horários permitem logo algo importante, os jovem podem ir a casa almoçar tendo a manhã de aulas, parte do dia mais importante para absorver conhecimento.
Vejamos a ligação com o desporto dando o exemplo do horário da equipa onde trabalho: os sub13 treinam às 14:30, os sub14 às 14:30, os sub15 às 18:00, os sub16 às 16:00 e os sub18 às 14:30. Com estes horário estes jovens tem a capacidade de chegar aos treinos sem estarem cansados, tendo tempo para, após o mesmo, brincar, passar tempo com a família, estudar e dormir a horas apropriadas para a sua idade.
Com estes horários, a ligação entre o desporto/actividade e a escola produz um efeito contrario ao de Portugal, ou seja, dá a oportunidade aos jovens de focarem-se na parte académica e desportiva sem ter que abdicar de fases importantes do seu crescimento tanto em termos físicos como cognitivos.
No entanto os italianos vão um pouco mais à frente e, tal como os norte-americanos, distribuem os jogos dos diferentes escalões pela semana, realizando um ou outro escalão ao fim de semana mas jogando a grande percentagem dos escalões durante a semana, sendo que nunca nenhum jogo acaba após as 19:30.
Com estes horários, criar jogadores de alta competição torna-se mais fácil, no basquetebol e nos desporto em geral. Sei que mudar estruturas em Portugal implica muito mas será que o grande valor de um povo não está no correcto desenvolvimento da sua gente?
Irei ser ousado ao dizer que muito dificilmente iremos ter um atleta de basquetebol a competir com regularidade ao mais alto nível numa equipa europeia, até porque se um atleta leva 10 anos ou 10 mil horas a ser formado, parte desses 10 anos ou dessas 10 mil horas o mesmo atleta parte numa desvantagem enorme com o resto da Europa, nos horários escolares e desportivo.
Nuno Tavares
+39 347 339 8969
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