Será errar mau?
 
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Será errar mau?

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altVivemos numa sociedade e cultura onde, o erro, cada vez mais é um ato condenável e não humano. O artigo desta semana é uma mistura da minha vivência em vários países (Portugal, Espanha, Estados Unidos e Itália)

e de pensamentos que venho a colecionar na minha cabeça ao longo dos anos, derivados de experiências, conversas, artigos e relações que vou construindo.

Considero-me um sortudo devido ao facto de ser uma pessoa que tem tido convites para poder viver e trabalhar em diferentes países, aprender com diferentes culturas e, acima de tudo, ter a capacidade de as respeitar mesmo que por vezes possa não concordar.

A ideia deste artigo deriva da leitura de uns apontamentos de uma aula na universidade. Uma aula de andebol. Nesta aula, o professor abordou uma questão que cada vez mais considero importantíssima na formação de um jovem atleta: até que ponto estamos a condicionar o erro na prática desportiva sendo um entrave para o seu desenvolvimento e para a abertura das enumeras portas que fazem esse processo de construção essencial na sua estruturação como pessoa e atleta?

Nós todos somos os culpados, ao considerarmos que o erro é quase como um pecado, pois vejamos, as crianças assim que começam a ter alguma autonomia têm que ser as melhores da sua turma, têm que pertencer a quadros de honra, são obrigadas a ficar sentadas horas e horas a ter aulas quando deveriam estar a ter práticas mais livres e físicas (na primária as crianças fazem o oposto do que a sua natureza lhes pede), saem da escola e têm atividades extras, línguas, informática, vivem num mundo competitivo onde o segundo lugar é considerado o último dos primeiros (completamente errado) e acabam por se tornar mestres aos 23 anos sem nunca terem percebido o que é um dia de trabalho ou algo parecido.

Sem dúvida que as condições gerais de vida estão melhores, mas o acima descrito, aplicado ao desporto enquadra-se perfeitamente. Este é um dos grandes debates do desporto, onde se traça o limite do erro, do espaço para se errar, qual a importância de se deixar errar para se atingir patamares não antes atingidos?

Sem dúvida que a prática informal desportiva contribui muito para os jovens atletas poderem errar e aprender, mas o mais curioso é que este tipo de comportamento também é usado no desporto organizado.

Como disse anteriormente, a minha aprendizagem constante deriva de vários fatores e um deles prende-se com as relações pessoais que vou construindo. Neste sentido, vejo a presença de San Payo Araújo, convidado especial dos Campos MVP 2011, como um grande contributo na minha vida, não só em termos de basquetebol, mas acima de tudo como pessoa. Tenho mantido uma relação muito aberta e construtiva, que às páginas tantas fez-me recordar aquilo que presenciou em Collell, especialmente o modo como o painel de treinadores separava os atletas em grupos, deixando-os jogar e dando de tempo a tempo algumas indicações, restringindo, inteligentemente, o decorrer da atividade de modo a que possam perceber que, acima da parte técnica, o que faz um atleta de basquetebol é aquilo que o faz como pessoa, as suas motivações, qualidade e defeitos. Se mostram coragem de “tentar” uma falta atacante, se são capazes de querer uma bola perdida mais do que o outro, se mesmo quando um colega falha um cesto sozinho, são os primeiros a dar um reforço positivo.

Em Portugal pode-se aprender muito com este tipo de orientação. Acima de tudo estamos a lidar com pessoas que, por acaso, naquela hora e meia estão a praticar basquetebol, mas, que acima de tudo estão numa fase de crescimento cognitivo e psicológico. Perceber quem somos e que tipo de jogadores temos é o primeiro passo para podermos exigir e pedir aos nossos atletas para nos seguirem sem hesitar, porque eles vão errar, e ainda bem que o fazem porque os erros fazem com que eles abram outras portas que, sem errar, nunca lá chegariam.

Recordo um artigo do atual selecionador italiano de seniores e treinador adjunto dos San António Spurs, Ettore Messina, que referia que aquilo que mais evoluiu na sua carreira foi o facto de, atualmente, não parar tanto o treino e deixar que os erros ocorram com mais frequência, pois a resposta a estes é o que faz com que as equipas, em contexto de competição, possam ter mais ou menos sucesso.

No entanto continuamos a ver muitos treinadores aos berros nas linhas laterais, a exigir de crianças aquilo que na mente delas pode parecer perfeito, mas que, na realidade, não são eles que estão a sentir todas as transformações diárias de uma puberdade cada vez mais competitiva e, por vezes, sufocante. Errar é essencial para que a equação faça sentido no final porque acima de tudo todos estamos num processo de desenvolvimento, não interessando a idade que temos.

Nuno Tavares
+39 347 339 8969
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ISY

Comentários 

 
0 #1 Humberto Gomes 05-06-2017 07:25
Ainda com algum tempo até regressar - o time out solicitado ao Ivan dura até ao Clinic de Cantanhede -, faz-me todo o sentido comentar este oportuno e bem conseguido artigo do Nuno Tavares - aquele abraço, Nuno -. Obrigado pelo conteúdo e pelo contributo. Quanto o Nuno tem evoluído, com as experiências que tem tido oportunidade de vivenciar ! Aliás, já desde o estágio, no início da sua carreira de treinador, que demonstrava, para além de um extraordinário interesse pelas "coisas" do jogo, era com paixão que queria sempre chegar mais longe. E o resultado está à vista.! Parabéns. Porque, a propósito, recordava-me há poucas horas o velho e sempre querido companheiro Carlos Bio, a SEMENTE que o Ettore Messina deixou, juntamente com Pablo Laso, naquele que terá sido, na nossa opinião, o melhor Clinic, para a formação, de sempre realizado em solo pátrio, na Póvoa de Varzim, já lá vão uns anitos. Só que daí para cá, estas e outras referências têm-se vindo a apagar...
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