Ainda na ressaca do Mundial, muito se falou da recusa das principais estrelas da NBA em representar a seleção dos EUA. Mas a verdade é que talvez não haja assim tantas estrelas disponíveis. Como referi anteriormente no artigo EUA contra o Mundo,
"não condeno nem julgo qualquer atleta por recusar representar a sua seleção", nomeadamente aqueles que já o fizeram anteriormente. E claro que se tivermos em conta o leque de opções à escolha para uma seleção dos EUA, quantidade e qualidade não há-de faltar. Mas será que é mesmo assim?
Relativamente à quantidade não há quaisquer dúvidas. Já quanto à qualidade, diria que a resposta não é tão linear.
Ao analisar a votação para o MVP da época passada na NBA (2018/19), constata-se que foram atribuídos votos a 12 atletas, sendo que 4 deles são não americanos (Giannis Antetokounmpo, Nikola Jokic, Joel Embiid e Rudy Gobert) todos eles na casa dos 23/24 anos, à excepção do francês que tem 27. Quanto aos nascidos em terras do Tio Sam, apenas Kawhi Leonard, Paul George e Damian Lillard estão nos 28-29, sendo que todos os restantes já entraram nos 30s (James Harden, Stephen Curry, Kevin Durant, Russell Westbrook e LeBron James).
Outro dado a considerar é a atribuição dos mais recentes prémios de rookie do ano. Nos últimos 5 anos, o prémio foi atribuído por 3 vezes a atletas não americanos: Luka Doncic (2019), Ben Simmons (2018) e Andrew Wiggins (2015). Karl-Anthony Towns (2016) e Malcom Brogdon (2017) salvaram a honra do convento para os norte-americanos, sendo que a vitória deste último apenas foi possível pelo número de jogos muito reduzido efetuados por Joel Embiid nesse ano. Pelo que tem vindo a confirmar nas épocas mais recentes, Embiid, originário dos Camarões, é de longe o melhor jogador entrado naquele ano.
Ao olhar para estes números, há uma conclusão óbvia que salta à vista. A NBA abriu-se de tal forma ao mundo que os melhores jogadores desta nova geração são não americanos. Os EUA têm vindo a atravessar uma travessia do deserto em que várias gerações de jogadores não se têm conseguido afirmar junto da elite da competição. E basta olhar para os drafts mais recentes para perceber que não têm despontado assim tão grandes talentos nos últimos anos.
Donovan Mitchell e Jayson Tatum são dois dos mais promissores atletas das novas gerações e fizeram parte da equipa que esteve neste mundial. Outros como Anthony Davis, Bradley Beal, Karl-Anthony Towns ou Devin Booker já deram bons sinais, mas tardam em confirmar o seu talento na prática. E claro que há muitos outros potenciais talentos como De'Aaron Fox, Trae Young, Marvin Bagley ou Deandre Ayton a despontar na liga mais famosa do mundo. Sem esquecer o fenómeno Zion Williamson, um jovem com potencial para se tornar na nova cara da competição.
É nas mãos destes jovens atletas que assenta o futuro sucesso das seleções norte-americanas, pois mesmo que atletas mais conceituados como Curry, LeBron ou Durant aceitem competir em 2020, dificilmente voltarão a vestir a camisola do seu país no futuro.