Basquetebol com utopia
 
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Basquetebol com utopia

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Basquetebol com utopiaA utopia desta semana leva-nos até três momentos importantes na história do nosso Basquetebol. Três momentos esses que pretendem trazer a reflexão sobre uma das áreas do crescimento e desenvolvimento da modalidade que merecem a nossa reflexão neste momento que atravessamos.

Refiro-me à área da captação e fomento.

Sem querer ser rigoroso quanto aos números, creio poder concluir que os três momentos de maior incremento de atletas praticantes de basquetebol estão diretamente associados a outros tantos em que se procurou desenvolver uma estratégia nacional na área da captação e fomento.

Assim, o primeiro momento remonta à década de sessenta do século passado, onde através das orientações do professor José Esteves, o Basquetebol Simplificado chegou à população escolar (particularmente crianças que frequentavam o ensino primário. Com regras simples foi possível apresentar uma atividade rica em termos psicomotores, que funcionaria como um jogo pré-desportivo, relativamente ao já existente minibasquete.

Esta iniciativa integrou-se num plano estratégico de desenvolvimento do basquetebol. O seu resultado estará registado certamente em números. Acredito que associado ao projeto e à sua implementação foi possível constatar o aumento do número de praticantes.

O segundo momento decorreu na década de setenta, a caminho da década de oitenta do século passado e emerge dos planos de desenvolvimento desportivos, preconizados pela então Direção Geral dos Desportos. Muitos núcleos de Minibasquete são criados por todo o país. Bastará saber se nos arquivos da nossa modalidade existem números objetivos que demonstrem e validem a importância que este momento teve no aumento do número de praticantes.

Quem nasceu nos finais da década de sessenta e inícios da década de setenta do século vinte, poderá ser o real testemunho deste incremento de prática desportiva, alicerçado no desporto de massas, para todos. O eclectismo desportivo foi vigente, nessa época, proporcionando vivências ricas nas primeiras gerações infanto-juvenis pós 25 de Abril de 1974.

O terceiro momento tem início num período pós mundial de Juniores de 1999, onde a atividade regular do minibasquete, até então, era relegada para um plano secundário, como reação às necessidades de, na época seguinte, poder haver continuidade de equipas ao nível de clube. A entrada do San Payo Araújo para a função de Diretor Técnico Nacional do Comité Nacional de Minibasquete, foi uma opção estratégica da federação, diferente das anteriormente mencionadas, mas que conduziu, ao longo da primeira década deste século, a um incremento da prática regular do Minibasquete em todo o país e ilhas, à existência de atividade regular, calendarizada desde o início da época, e, desenvolvida quer pela federação, quer pelas associações distritais. Surgiram os Comités Distritais de Minibasquete e até houve, nalgumas associações técnicos que procuraram desenvolver a atividade regular deste mesmo comité.

Neste terceiro momento são conhecidos os resultados. Existirem em determinado momento cerca de 10 000 minis efetivamente a praticar, sem qualquer possibilidade de inscrição fictícia, existir formação contínua especificamente para treinadores dedicados ao minibasquete, existirem nos cursos de treinadores de grau 1 conteúdos especificamente destinados aos propósitos do minibasquete, e, todos os clubes assentarem os seus planos de captação nas faixas etárias correspondentes ao minibasquete, parecem ter sido sinais fortes da importância dada ao Minibasquete.

Todos estes dados parecem demonstrar que a modalidade estaria a crescer no número de praticantes e, naturalmente, à medida que se avaliariam os efeitos desse crescimento e se ajustariam estratégias de desenvolvimento, acompanhamento de milhares de crianças, criando-lhes a melhor transição para a prática do Basquetebol. Foram desenvolvidos esforços, muitos com forte dose de voluntariado, para que não se parasse o crescimento e se desse enfâse ao desenvolvimento das capacidades coordenativas e à valorização da criança (em muitos contextos futuros basquetebolísticos). As diferentes estruturas da federação dispõem de dados muito objetivos para se pronunciarem sobre o resultado da sua aposta estratégica de captação e fomento.

Mas para quê o saudosismo deste passado? Bom, essa é a segunda parte desta utopia. A parte em que constatamos que nenhum dos planos anteriores isoladamente pode, naturalmente, ser aplicado a este momento da modalidade. Mas podemos começar a desenhar uma utopia, lançando alguns desafios, a meu ver pertinentes, e que resultam da reflexão sobre os propósitos que estiveram na base das opções tomadas na altura.

O que retiro do primeiro momento de captação, na sequência da implementação do basquetebol simplificado em contexto escolar, é o de que, se entendeu que no contexto escolar a apresentação deste jogo proporcionaria a todas as crianças um primeiro contacto com o Basquetebol. Todavia, nos dias que correm, qualquer criança, jovem ou adulto podem ter acesso a quase tudo o que tenha a ver com basquetebol. Podem assistir a qualquer jogo, antigo ou recente, as vezes que quiserem. Portanto, parece não ser prioridade apostar na divulgação do jogo, visto que ele está acessível e é conhecido. Prioridade parece ser o desenvolvimento de estratégias para que a criança e o jovem sejam motivados a gostarem e a fidelizarem-se a atividades que os possam levar, em primeiro lugar ao Minibasquete, depois ao seu desenvolvimento psicomotor, e, posteriormente (se fizermos bem o nosso trabalho) ao Basquetebol. De salientar que com as crianças vem um natural envolvimento dos pais.

Mas importa complementar esta interpretação com a noção evidente de que, nos dias que correm, esta estratégia não será igual em todo o país. A verdadeira diferença está nos objetivos que se pretendem alcançar. E nesse sentido, parece-me que se quisermos que o Basquetebol seja a segunda modalidade de pavilhão temos de encontrar estratégias coerentes com as palavras que definem um objetivo estratégico desta natureza. O que é preciso fazer em Ovar ou no Barreiro para captar e fidelizar jovens à modalidade será naturalmente diferente daquilo que se tem de fazer para que mais crianças cheguem até ao Minibasquete no interior do país. Mas em todos os locais estamos a falar de captação e fomento.

O segundo momento, associado aos planos de desenvolvimento desportivo, e, particularmente, à perspectiva de eclectismo que emergiu na década de setenta e oitenta, direcciona-me para a ideia de que se queremos vencer os efeitos nefastos desta pandemia e confinamento, teremos de cooperar. E naturalmente teremos de cooperar com outras modalidades, fazendo chegar fundamentos de peso, bem argumentados científica e pedagogicamente, de que urge uma mudança de paradigma. E que na verdade, a verdadeira utopia possa passar pelo Desporto Federado ter uma palavra a dizer no sentido de promover a união de forças para que haja um verdadeiro Plano de Desenvolvimento Desportivo Infantojuvenil onde, um conjunto de princípios de natureza pedagógica, possam possibilitar a cada contexto construir o seu projeto desportivo. Autarquia, Escolas, Clubes e Associações Desportivas e outras instituições públicas e privadas têm de perceber definitivamente que a finalidade do Desporto Jovem é proporcionar uma formação desportiva de qualidade e não servirmo-nos das crianças e jovens para alimentar um projeto desportivo direccionado para um alto rendimento futuro, que em muitas modalidades é alimentado através do mercado de jogadores estrangeiros.

O Desporto poderá efetivamente entrar no contexto escolar, sem prejuízo de se concretizarem os objetivos e aprendizagens essenciais da disciplina de educação física e em perfeita sintonia com os objetivos do Desporto Escolar e mais em sintonia com os benefícios que traz no rendimento escolar. Mas na verdade entrará pela força de uma argumentação capaz de poder fazer influenciar positivamente quem decide politicamente. Uma criança e um jovem não se desenvolvem exclusivamente do pescoço para cima, mas sim da cabeça aos pés e dos pés à cabeça. Numa visão integrada de desenvolvimento, onde o tempo de permanência na escola tem de ser passado vivenciando experiências ricas, nas mais variadas áreas de aprendizagem.

O terceiro momento, prende-se com os números e esses mostram que efetivamente, mesmo tendo sido caricaturizado de ATL para crianças, atividade de entretenimento para uns e de verdadeira aprendizagem do jogo para outros, certo é que já neste século parece ter sido uma evidência que 10 000 crianças praticaram minibasquete em todo o território nacional. Pelo que de alguma forma a captação e fomento foi, é e será uma área vital para a sobrevivência de uma modalidade. E parece-me que muitas modalidades de pavilhão têm isso perfeitamente claro nos planos e na prática dos seus planos de desenvolvimento da modalidade. Pelo que, no caso específico do Basquetebol, terão que existir evidências coerentes entre a grandeza das palavras e a coragem de sairmos da nossa zona de conforto onde tudo parece estar em conformidade com a grande ambição de sermos a segunda modalidade de pavilhão em Portugal.

Quando reiniciarmos a prática, após este período de confinamento, pretendemos todos o mesmo, manter os praticantes fidelizados à modalidade e retomar as competições. Mas sejamos realistas: não é isso que irá acontecer e para além disso pensar em retomar o processo tal e qual como estava, ou remendando o que estava não chega e parece-me que poderá ser um equívoco. Possamos aprender com o que não fizemos no passado, para constatar os efeitos do que foi feito com impacto. Hoje as condições são outras, melhores certamente. Mas o caminho não se percorre mantendo-nos isolados dos restantes parceiros do desporto nacional e acreditando que o modelo anterior está em standby e que será apenas necessário ligar o interruptor e tudo irá ser como dantes.

Se tudo o que aqui foi escrito alimentar uma utopia é bom que possamos estar preparados para o momento em que teremos de carregar no botão para reiniciar o processo. Façamos o nosso trabalho de casa, com o espírito inovador que nos deverá motivar para fazermos diferente. Certamente inovação e utopia não serão conceitos assim tão distantes.

 

Comentários 

 
0 #1 San Payo Araújo 29-04-2020 09:49
Amigo João Ribeiro

Em primeiro lugar pelo teu artigo e pela coragem de falar abertamente na necessidade de mudarmos de paradigma.

Em segundo obrigado pela tua referência ao meu papel no crescimento e desenvolvimento do minibásquete no pós Mundial de 1999.

Finalmente o teu artigo inspirou-me a escrever um artigo que oportunamente publicarei que reforça um artigo já publicado, só que desta vez não será minibásquete um conceito perigoso, será minibásquete um conceito cada vez mais perigoso. Quando utilizamos este conceito há que clarificar do que é que estamos a falar.
Um abraço
San Payo
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