Quando, há uns dias, um amigo comum (o “Tomané”) me ligou e me perguntou se estava disponível para dar o meu contributo para um novo “episódio” das “Lendas do Basquetebol”, sobre o Jorge Adelino, respondi prontamente que sim, é daquelas decisões que se tomam sem ser sequer necessário pensar. Só que…
Está a revelar-se difícil honrar o compromisso! O prazo está perto do fim e nada do que comecei a escrever até agora me satisfez. O dito prazo termina amanhã, logo chegou o momento em que “o que tem que ser tem muita força”.
A conversa que refiro no início aconteceu quando ia a caminho da concentração da Selecção Nacional, para a “janela” FIBA que termina amanhã e o pensamento que me ocorreu de imediato foi o de que, muito provavelmente, se não me tivesse cruzado com o Jorge na minha formação, não estaria hoje no cargo que desempenho. Já sei que ele se vai “zangar” comigo quando ler isto, mas não podia ser mais sincero.
Sabendo que é por ser treinador, e da “Escola do Algés”, que sou convidado para dar o meu testemunho sobre o Jorge Adelino, é por essa via que irei, mas só porque tenho que escolher uma.
Percebi que queria ser treinador quando ainda era jogador, tendo a sorte de praticar a modalidade num Clube, o Sport Algés e Dafundo, que tem sido, ao longo da sua já longa história, muito mais do que isso. Para mim, como para tantos outros, foi uma verdadeira Escola, não só desportiva, mas também de Cidadania, de sentido de pertença a uma Comunidade, de Vida.
No meu entendimento do que é ser treinador, o fundamental são o seu Carácter e os Valores pelos quais se guia. Tudo o “resto”, sendo muito importante, não o é tanto. Foi nos anos que passei no Algés, no que lá vivi e convivi, que o meu carácter se formou e em que absorvi os Valores pelos quais procuro pautar a minha vida e a minha intervenção como treinador, com todas as imperfeições que sei que tenho.
Um Clube como o nosso, uma Escola de Formação, não existe no abstracto, é feito de pessoas e a sorte que tive foi a de estar no Algés num tempo em que, entre outros, é justo dizê-lo, o Jorge era, como continua a ser, o nosso Exemplo.
Hoje em dia fala-se muito em liderança, sendo mais ou menos unânime considerar que a melhor forma de liderar é pelo exemplo. Eu, nós, os daquele tempo, tivemos a sorte de ter, enquanto jovens jogadores, aulas práticas de liderança pelo exemplo, não só enquanto “jogadores do Jorge”, mas também vivendo o Clube, particularmente a Secção de Basquetebol, na qual o Jorge era o mobilizador e guia da nossa participação. Foram aulas diárias, ou quase, nas quais o discurso não era o protagonista, bastava estar atento às atitudes que o Jorge tomava e aos comportamentos que tinha.
Sim, porque o Jorge Adelino sempre foi, e continua a ser, um exemplo raro (hoje em dia, raríssimo…) de coerência absoluta entre o discurso e a prática.
Já lhe tenho dito, algumas vezes até em tertúlias: “és um dos principais responsáveis por eu andar nesta vida de treinador”. A resposta é sempre a mesma: “deixa-te disso”. Mas, lá no fundo, acho que o Jorge sabe que o que eu digo é verdade. O Jorge Adelino é uma das minhas grandes referências, não só como Profissional, mas, acima de tudo, como Pessoa! Felizmente, merecidamente, é-o também para muitos outros, entre os quais muitas pessoas da modalidade. Temos um Amigo comum (cujo nome não revelo) que me diz frequentemente: “o Jorge Adelino é um ser humano superior”!
Por tudo o que atrás escrevi, e por muito mais que poderia expressar, não poderia nunca deixar de aceitar o desafio feito pelo “Tomané”, tanto mais que esta iniciativa do Planeta Basket é uma das raras que dão a conhecer personalidades que são (ou melhor, deveriam ser…) referências da modalidade.
Para meu grande privilégio, o convívio com o Jorge Adelino tem sido uma constante ao longo de cinco décadas e meia e, hoje em dia, cultivamos (e regamos) uma Amizade que prezo (e sei que é recíproco) muito, muito mesmo.
Jorge, como jogador (fracote) que fui, treinador que sou e Amigo de sempre e até sempre, quero agradecer-te tudo o que deste ao Basquetebol, que continuas a dar (talvez sem dares por isso…) e, acima de tudo, por seres quem és e como és. Muito obrigado!
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