“A escola a tempo inteiro é uma vergonha nacional” é o título duma excelente entrevista concedida pelo Prof. Carlos Neto ao Jornal Público. A entrevista do Prof Carlos Neto, meu professor da disciplina Educação Física Básica no ISEF, atualmente FMH, remeteu-me para um texto
do companheiro e amigo João Ribeiro “Sinais dos Tempos” publicado aqui no Planeta Basket a 23 de janeiro de 2013. Nesse artigo, o João Ribeiro aborda parte das questões levantadas na entrevista de Carlos Neto e levou-me, nessa ocasião, a escrever o artigo de 29 de janeiro de 2013: “Ando sentado.”
Como estes dois artigos, publicados quase há dez anos, continuam atuais e tem tudo a ver a problemática levantada pelo Prof. Carlos Neto penso que não é demais voltar a falar aqui nestes temas.
As crianças e os jovens não estão encerrados nas escolas desde as 09.00 da manhã até às 18.00 por motivos de aprendizagem, mas como diz Carlos Neto são vítimas do trabalho dos pais. São vítimas da organização laboral e social deste país.
Nessas nove horas, às vezes mais, por múltiplas razões tudo é feito para que os alunos das escolas não se mexam, não brinquem, não se movam. Começa nos diminutos horários dedicados à educação física e passa pelas direções das escolas e auxiliares de instrução, que claramente preferem que nos intervalos escolares, os alunos estejam sentados, não corram e estejam agarrados aos telemóveis, tablets etc. Estão mais sossegados e não correm riscos de se magoarem.
Isto não acontece por acaso, pois se numa correria, num jogo das escondidas ou apanhada um aluno cai e esfola os joelhos, logo vem os pais da criança, ou a comissão de pais a questionar a segurança da escola, como se não fosse natural uma criança numa brincadeira esfolar-se. Em criança perdi de conta as vezes em que esfolei os meus joelhos e a minha mãe, quando não andava de calções, teve de coser joelheiras nas calças. Ao saltar duma árvore parti o braço e os meus pais nunca culparam os outros, sempre me responsabilizaram pelos meus atos.
A pressão para que as crianças não se mexam é inaudita e isso fez-me relembrar a resposta do filho dum amigo meu, que tinha acabado de entrar para a escola, quando lhe perguntei: - Já andas na escola? Ele olhou para mim, hesitou e respondeu com a sinceridade natural das crianças: - Sim, ando sentado.
Comentários
Creio até que os decisores têm medo de mudarem o paradigma. Mas atenção: não é só no nosso país. Por toda a Europa se verifica uma diminuição no investimento desportivo de alto rendimento. E nem esse facto parece trazer recursos para uma perspetiva mais ampla de desenvolvimento motor da criança.