O Professor Hermínio Barreto, ou simplesmente o Prof. Hermínio, é para mim uma referência humana, ética e profissional, alguém a quem estarei sempre profundamente grato por tudo quanto me deu, e continua a dar. A minha formação, pessoal e profissional, foi (e é) marcada pela sorte de me ter cruzado com as pessoas que a determinaram,
sendo a influência do Prof. Hermínio uma das mais marcantes e decisivas neste percurso que já leva alguns anitos.
Sendo impossível escrever sobre tudo quanto poderia testemunhar sobre o Prof., impõe-se que escolha uma (pequena) parte, escolha essa que não foi nada fácil, dada a riqueza da sua multifacetada intervenção pedagógica e a tal sorte a que já me referi de ter podido usufruir de tantos e tantos momentos de formação protagonizados pelo Prof. Hermínio.
Acabei por escolher um período em que convivemos (quase) diariamente, entre 1981 e 1985. Em 1981/82, enquanto estudante do ISEF de Lisboa, fui aluno do Prof., participando nessa experiência inolvidável que foi o Centro de Treino de Basquetebol. Posteriormente, também no ISEF, tive o privilégio de trabalhar, como assistente estagiário, no (saudoso) Gabinete de Basquetebol, dirigido e orientado pelo Prof.
O Centro de Treino foi, para mim e para tantos outros, uma experiência deformação, para quem queria ser treinador de jovens, sem paralelo no que se fez, antes ou depois, neste domínio no nosso país. E devemo-lo ao Prof.Hermínio, à sua visão, persistência e (raríssima) capacidade de acreditar e apostar nos jovens estudantes por cuja formação era responsável.
Durante uma época desportiva, aprendemos através da prática do treino, supervisionada pelo Prof., como se deve treinar uma equipa de formação (Iniciados ou Juvenis), como se deve trabalhar na formação de praticantes. Fazer (e ver) evoluir cada um dos jovens jogadores, à velocidade própria de cada um, bem como constatar a evolução do nível de jogo praticado pela equipa, nunca abdicando dos valores e princípio que devem orientar o trabalho nas categorias de formação, foi uma lição que me (nos) ficou para a vida. Devo a essa experiência o reforço das convicções que já tinha (inculcadas pelos meus treinadores, no Clube onde fiz a minha formação como jogador, o Sport Algés e Dafundo), mas que não sabia como pôr em prática. Aprendi-o no Centro de Treino, devo-o ao Prof. Hermínio e tenho os seus ensinamentos sempre presentes quando, hoje em dia, luto pelo que defendo dever ser a orientação a dar à nossa formação de jogadores.
No Verão de 1983, o Prof. Hermínio, com a ajuda do Jorge Adelino, levou um grupo de estudantes do ISEF à Alemanha, para assistir ao Campeonato da Europa de Cadetes, de modo a que pudéssemos (tinha terminado o curso no ano anterior, mas aproveitei a boleia…) ter uma noção do que era o nível de jogo mais elevado naquele escalão etário. Fizemos a viagem de carrinha, foi uma “epopeia”, da qual guardo (guardamos) muito gratas recordações.
Em 1983/84 e 1984/85, no Gabinete de Basquetebol do ISEF, passei para o “outro lado” do trabalho do Centro de Treino, sendo assistente do Prof. na sua condução e orientação. Foi uma aprendizagem diária, duma riqueza que não consigo traduzir por palavras, do que é verdadeiramente liderar.
Acompanhar o Prof. Hermínio naqueles dois anos/épocas fez com que, desde então, seja minha convicção que só é possível liderar (equipas, processos, o que seja) duma forma: pelo exemplo!
A sua liderança sempre se pautou pela capacidade/habilidade (muito rara) de envolver os seus estudantes/treinadores em todas as tarefas, desde as de concepção até às de aplicação prática. Acreditava verdadeiramente em todos, exigia de cada um segundo o que entendia que podia “dar” e cuidava de que todos tivessem oportunidade de experimentar o sucesso, de ver o seu trabalho reconhecido. Expressão máxima desta sua forma de liderar e de nos “fazer crescer” era, quando entendia chegado o momento de o fazer, dar-nos responsabilidades e colocar-nos perante situações às quais havia que dar resposta e a sua aposta era que (já) éramos capazes de o fazer.
Tenho bem presentes dois desses momentos, ambos em 1984, nos quais estive envolvido…
Um, individualmente, foi um Clinic de Treinadores, na Póvoa de Varzim, no qual fui “obrigado” a assumir papel de “prelector principal”, quando ia preparado para ser “ajudante de campo” do Prof. Hermínio… De repente, após uma breve introdução e sem qualquer aviso prévio, ouço o Prof. dizer: “agora, o resto é com o Mário”… Fiquei “sem pinga de sangue”, mas lá teve que ser! O outro foi um processo colectivo, o II Seminário de Metodologia do Basquetebol - “Ensinar, Aprender, Gostar do Basquetebol”, realizado com participação plena de estudantes dum Centro de Treino externo, desde a sua concepção até às apresentações pelas quais foram responsáveis.
Só mais tarde é que me apercebi (e estou em crer que com tantos outros se terá passado o mesmo) de quão importantes para a minha/nossa formação foram estes momentos e da forma decisiva como marcaram o meu/nosso futuro percurso profissional. Também por isso, estarei (e estou convencido que não sou o único) para sempre grato ao Prof.
Algum tempo depois, o Prof. voltou a lançar-me outro desafio, no sentido de fazermos algo que, ao tempo, era pioneiro: escrevermos uma brochura (um livrinho) e gravarmos um vídeo sobre o ensino-aprendizagem do jogo, que pudesse ser útil tanto aos professores de Educação Física, como aos treinadores das categorias de formação. Claro que só podia “alinhar” e lá conseguimos dar forma a ambos os “materiais”, com a ajuda fundamental do Zé Alves Dinis, a que demos o nome “Concretização de uma Unidade Didáctica em Basquetebol”, que apresentámos juntos publicamente em várias iniciativas de formação para professores e treinadores.
Recordo também, muitos anos mais tarde, a última grande competição a que assistimos juntos, o Campeonato do Mundo de 2014, em Espanha e a alegria do Prof. quando, após um jogo dos Estados Unidos, comentava que afinal ainda era verdade algo em que sempre acreditou e que sempre nos transmitiu: o jogo de alto nível, interpretado pelos melhores jogadores, é muito parecido com o jogo dos “iniciados”!
A última ocasião em que estivemos juntos numa “sessão pública” foi numa iniciativa da SPEF, “Estórias do Desporto”, na qual o Prof. Hermínio foi um dos palestrantes (o outro foi o Prof. António Vasconcelos Raposo) e coube-me a mim a honra (porque é disso mesmo que se trata) de ter o papel de moderador. Um (mais um…) grande momento de aprendizagem e de grande prazer! Como todos aqueles, felizmente muitos, mais formais, ou mais informais, em que tive o privilégio de estar junto do Prof.!
Nos últimos tempos, vamos contactando mais “à distância”, mas sentindo sempre a mesma proximidade, pois essa é outra das características do Prof. que o distingue como um Mestre “de corpo inteiro”: a preocupação permanente e tão genuína em acompanhar e apoiar, ao longo da vida, os seus antigos alunos, nunca faltando com a sua palavra amiga, o conselho sábio, ou, simplesmente, o convívio franco e bem disposto. No que a mim se refere, o apoio do Prof. tem sido uma constante ao longo dos tempos, sempre manifestado com a genuinidade, a atenção e o carinho com que me/nos tratou desde a primeira hora.
Termino expressando a gratidão pelo apoio incondicional e pelo incentivo permanente que, desde 2017, quando iniciei as funções a que hoje me dedico, o Prof. me tem transmitido. É muito reconfortante sentir-me apoiado por quem, para mim, foi, é e será um Mestre e que hoje, sem nunca deixar de o ser, é um Amigo para a vida.
Por tudo isto e muito mais… Muito obrigado, Prof.!
Aquele abraço,
Mário
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