A comunicação do treinador 3
 
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A comunicação do treinador 3

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A comunicação do treinador 3A linguagem que o treinador utiliza habitualmente, não é um processo mecânico regido por leis fisiológicas ou psíquicas: é, principalmente, o reforço da sua abertura ao meio ambiente e aos outros com quem se relaciona. Uma linguagem que não é só falada, mas também vivida e expressiva,

utilizada por sujeitos falantes num movimento expressivo global assente na sua corporeidade.

- A Linguagem é expressiva

Um ato expressivo em que, ao ser vivenciado por todos os sujeitos falantes, quem fala e quem comunica com os outros e com o mundo é, primariamente, o corpo. O que significa que o treinador, ao utilizar a linguagem, tal como quando alguém lhes dirige a palavra, não se trata simplesmente da aquisição de uma técnica ou de aprender a juntar palavras e a compreendê-las.

Encaradas de modo isolado, as letras e as palavras não permitem retirar-lhes qualquer significado, pois a linguagem é acima de tudo um modo de expressão humana com um determinado sentido e significado. Ao expressar-se através da linguagem, o treinador fá-lo tanto melhor quanto seja capaz de suscitar naqueles a quem se dirige a necessidade de se interrogarem acerca daquilo que ainda não tenham pensado, quanto possível indo muito para além da simples utilização das palavras entretanto proferidas. “Quando alguém, autor ou amigo, soube exprimir-se, os sinais são logo esquecidos só permanece o sentido e a perfeição da linguagem passa despercebida.“1

Entende-se assim por linguagem, não só o todo e a unidade das letras, palavras e frases utilizadas, mas também (e principalmente!) o sentido e o significado que o treinador lhes pretende atribuir. Enquanto fala, as palavras e as frases que utiliza misturam-se com momentos de silêncio e hesitação até que, por fim, decide o que dizer. E a sua linguagem alimenta-se desses silêncios intermédios, num verdadeiro não dito, um fundo de silêncio que enriquece a respetiva capacidade expressiva, como se ao intermediar as suas palavras fosse tão (ou mais!) importante que as próprias palavras entretanto proferidas.

O significado das palavras que o treinador profere só aparece quando situado num determinado contexto e representa uma forma própria de cada um ser quem é. Por exemplo, ao receberem uma chamada telefónica de alguém que conhecem bem, não só identificam de imediato quem se lhes está a dirigir como, principalmente, parece que essa pessoa está presente e entendem perfeitamente o que lhes pretende transmitir, mesmo quando por vezes não o expressa abertamente. Como se se abandonassem completamente ao tipo de comunicação que, entretanto, acontece e só verdadeiramente tivesse importância o significado das palavras e não propriamente as palavras utilizadas.

Ao ouvir para além das palavras, o treinador tem acesso ao sentido e ao significado daquilo que verdadeiramente lhe pretendem transmitir, estabelecendo uma profunda aproximação e sintonia. Um verdadeiro jogo de sentido onde as palavras entretanto proferidas alteram as nossas emoções oferecendo sentidos alternativos. Dando sentido ao que é dito e alterando por vezes a nossa visão das coisas e do mundo que nos rodeia.

A linguagem altera assim o significado das coisas que nos são ditas e, portanto, também o sentido dessas mesmas coisas.

Ao abrirmo-nos ao mundo através da nossa perceção, a linguagem contribui para essa relação vivencial, transformando e prolongando as respetivas relações de sentido. Utilizando uma capacidade expressiva centrada no corpo vivido e nos seus movimentos, através de gestos, expressões faciais e tons de voz que, não só esclarecemos o sentido das palavras utilizadas, como permitimos compreender a intencionalidade e o significado da nossa comunicação intersubjetiva com aqueles com quem nos relacionamos.


1 - Ponty, M., O Homem e a Comunicação, (Bloch editores SA, 1974), 26


Jorge Araújo
Presidente da Team Work Consultores

 


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