EUA, fonte de experiência e sabedoria
 
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EUA, fonte de experiência e sabedoria

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altNas diversas estadias nos Estados Unidos da América ao longo da minha carreira de treinador, tive sempre aquela sensação de estar perante uma “fonte” onde me era permitido “beber” ricas experiências adquirir a sabedoria necessária.

Por exemplo, em 1988 ao acompanhar a Universidade do Utah, vivi duas situações qual delas a mais elucidativa. Ambas referentes aos treinos da respetiva equipa de basquetebol.

Uma das regras existentes em todos os treinos, expressava a proibição de qualquer jogador parar no decurso de um exercício, exceto se o treinador assim o ordenasse. Num determinado momento, quando na realização de um "sprint" no preenchimento de um corredor de contra-ataque, um jovem jogador é vítima do que posteriormente se viria a confirmar como uma rotura de um dos músculos posteriores de uma das pernas. Sabem qual foi a reação do jogador? Continuou a tentar correr, arrastando a perna lesionada, até que o treinador lhe disse para parar!

Noutro momento, como em todas as equipas universitárias norte americanas, o treino é dirigido ao segundo, apresentando-se os treinadores no seu início com umas folhas onde as duas horas e meia de trabalho se encontram subdividas, com o máximo pormenor.

Nessa equipa do Utah, por razões de utilização das instalações por diferentes grupos de alunos, todos os dias se processava uma mudança de local de treino, de um dos Pavilhões secundários onde se iniciava, para a Nave principal.

Essa mudança, como tudo o que dizia respeito a cada treino, estava expressa naquelas folhas, por exemplo da seguinte forma, "aos 15.29 mudança de Pavilhão, aos 15.32 início da atividade de treino na Nave". Pois todos os dias que lá estive, sistematicamente às 15.32, o treino teve o seu recomeço, devendo, para isso, jogadores e treinadores correr em coluna entre uma instalação e outra!

Para meu incómodo, pois tinha de fazer como eles!

Organização, disciplina assumida, autoridade reconhecida, eis o "segredo" que necessitamos interiorizar e aplicar à nossa realidade.

Num determinado momento não me esqueço de ter reparado que, ao contrário do que acontecia entre nós, no princípio da preparação de jogadores e equipas, nunca se verificava a tradicional carga da chamada "preparação física". Interrogativo, questionei o treinador responsável. A resposta não podia ser mais elucidativa:

"Esse não é um problema meu. No final da época passada, todos os jogadores foram testados e os respetivos resultados devidamente registados. Neste princípio de atividade, limitamo-nos a controlar se o jogador se apresenta ou não nas mesmas condições em que terminou a época anterior. Caso sim, tudo bem. Se não, alguma consequência irá “sofrer”.”

CONSEQUÊNCIAS, foi aliás uma palavra “mágica” aprendida naquelas deslocações. Quem “faz bem” é sempre reconhecido, “quem faz mal” tem sempre uma determinada “consequência negativa”.

Mais uma vez, disciplina assumida, auto preparação, responsabilização individual, ingredientes que afinal ilustram o porquê da diferença ainda expressa na nossa realidade.

Onde é que isto começa, perguntarão alguns dos leitores. Precisamente nos treinos com jovens jogadores onde o horário do início das sessões é escrupulosamente cumprido e existem regras claras, como por exemplo para o modo de equipar de cada jovem jogador, o respeito que deve a companheiros e adversários, etc. Idem nas equipas das Universidades, onde assisti a coisas que torna fácil entender a razão de muitos dos sucessos posteriores.

Um dia, entre as muitas coisas sobre que me debrucei, calhou pormenorizar um pouco a ação do fisioterapeuta da equipa. Nomeadamente no apoio que dava aos jogadores e como o fazia, antes, durante e após os jogos. Como sempre, muitos dos jogadores, antes dos jogos se iniciarem, reforçavam as suas articulações tíbio társicas, com ligaduras elásticas. No ato de o fazer, o fisioterapeuta em questão dedicava-se a um trabalho de pormenor impressionante, procurando jamais desperdiçar um mínimo de material que fosse.

Quando o interroguei sobre o assunto, respondeu-me que "no poupar é que estava o ganho" da organização e que periodicamente, tinham reuniões com os responsáveis no sentido de todos os membros da equipa, assumirem a importância de, sem nunca deixarem de gastar o que fosse necessário para apoiar o melhor possível a equipa, saberem cada um por si evitar gastos supérfluos ou injustificados.

Constantemente, os treinadores faziam apelo aos jogadores para, individualmente e fora do horário normal de treinos, nunca deixarem de procurar a sua melhoria através de determinado tipo de trabalho extra de auto preparação.

Voltando à NBA e tal como já atrás o referi, é muito grande o envolvimento dos acionistas e dos “sponsors” com as equipas.

Os jogadores estavam permanentemente a ser solicitados para estarem presentes em atividades sociais de índole comunitário, (visitas a hospitais, a escolas, etc.) tal como a fábricas, a lojas, etc., num culto de imagem socialmente correta com dividendos óbvios para aqueles que promovem os seus produtos através de uma equipa da NBA.

O treinador principal, sujeitava-se, mensalmente, a estar presente num almoço onde cerca de uma dúzia de patrocinadores o "bombardeavam" com questões relativas ao modo como conduz a sua equipa, porque joga este e não aquele, porquê ter substituído o jogador X pelo Y, etc.

No Pavilhão onde decorrem os treinos e as competições, existem áreas reservadas expressamente para os patrocinadores se encontrarem no dia do jogo com os seus clientes e aí, antes e depois do jogo confraternizarem.

Os vários concursos promovidos durante os tempos mortos de cada jogo, tinham sempre a presença do cliente "fulano de tal" convidado para o efeito pelo patrocinador do concurso em questão. A "bola ao ar" que formalmente inicia o jogo, era sempre precedida de uma outra em que o "sr. X" da empresa "Y" desce ao recinto de jogo para simular o início do jogo.

Dir-me-ão que muitas destas atividades já vão acontecendo no nosso basquetebol.

Sei que sim! Mas a questão que coloco é se o clima geral que vivemos na nossa modalidade tem este “peso” de apelo à responsabilidade individual e reconhecimento constante daqueles que assim o justificam.

Quando acompanhei então a equipa profissional do UTAH Jazz em Salt Lake City, verifiquei que o treinador de então tinha ao seu redor um conjunto de especialistas cuja tarefa principal era a de o alertarem para os diferentes aspetos correspondentes à sua especialização.

Durante dois meses, jamais vi o treinador principal tomar alguma decisão sem primeiro ouvir os colaboradores que o rodeavam. Pertencendo-lhe a decisão final, nunca o fazia sem primeiro saber o que pensavam sobre o assunto os seus colaboradores.

Ainda hoje recordo o tempo que levei a tentar perceber qual a função de um senhor de avançada idade, (vim a saber depois que tinha naquela altura 77 anos!), que todos os dias de treino e jogo, se sentava na bancada após cumprimentar os quatro treinadores da equipa e assistia tomando notas incessantemente. Uma vez terminado cada treino e no intervalo e final dos jogos, entregava aos técnicos os seus apontamentos. Chamava-se Jack Gardner, tinha sido um grande treinador do passado e a sua função naquela organização era, tão só, passar informação aos quadros técnicos respetivos sobre o que via, quer em treinos, quer em jogos. Estava ali, numa função correspondente ao muito saber e experiência de uma carreira prestigiada como treinador! A sua tarefa era, opinar e propor tudo o que entendesse necessário para melhorar o funcionamento da equipa. Ao treinador principal pertencia depois a responsabilidade de decidir até onde essas informações lhe podiam ser úteis.

Jack Gardner

Um constante desafio contido no facto de quem dirige, treinador ou dirigente, se rodearem de quadros reconhecidamente habilitados, capazes de lhes passarem com carácter sistemático as informações que requerem para o melhor desempenho das suas funções.


 

Jorge Araújo
Presidente da Team Work Consultores

 

Comentários 

 
0 #1 Humberto Gomes 13-02-2023 14:51
Mais uma, prof. Grato. Com algum sentido de humor talvez valha a pena tecer este breve comentário : "Lá, com cá'''?! Ai, ai...as galáxias ! Abraço fraterno.
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