Estar presente em Paços de Ferreira é sempre para mim um momento de emoção e reflexão. Depois das férias de agosto, já com mais distanciamento emotivo, vou voltar a falar sobre este evento, nomeadamente sobre as alterações que foram introduzidas este ano.
Hoje vou apenas abordar um tema que é recorrente nestas ocasiões. Esta competição deve ser jogada com os cestos com a altura dos seniores, 3,05 ou jogada com a altura dos cestos de minibásquete, 2,60? As opiniões dividem-se e há sempre muita gente a manifestar-se de forma muito pouco fundamentada. Os defensores dos cestos a 3,05 consideram que para a maioria dos participantes neste evento é um retrocesso na sua evolução, pois a grande maioria já joga nos escalões de sub-14. Esta realidade levanta outra questão, que também é legítima perguntar, então se já jogam em sub-14 será que deveriam estar em Paços de Ferreira? Criamos mais competições para que mais jovens joguem ou criamos mais competições para que os mesmos joguem mais vezes? Todos sabemos o que é que leva as associações a selecionarem jogadores que jogam no escalão dos sub-14 para participarem na Festa do Minibásquete, pelo que nem vou entrar nessa discussão, nem se é positivo ou não estes praticantes comparecerem em Paços de Ferreira. Tudo na vida tem vantagens e desvantagens. Contudo, hoje não vou entrar nessa discussão, até porque esta discussão não deve ser dissociada da questão da definição dos escalões etários. Hoje vou centrar-me apenas na discussão da altura dos cestos para a realidade existente.
Esta discussão, para mim, não faz sentido nenhum se não definirmos os objetivos pelos quais queremos os cestos mais altos ou mais baixos. Primeiro definam os objetivos e depois em função desses objetivos façam um levantamento de dados sobre quem lança ao cesto, quantos vezes lançam ao cesto, quantos não se atrevem a olhar para o cesto, etc, e tomem as decisões. Tudo o que não seja este procedimento entramos num universo tipicamente nosso que vou chamar de “nacional achismo”. Eu acho que os cestos deviam ser altos, numa lógica de “pequenino é que se torce o pepino”, ou eu acho que deviam continuar baixos, pois para todos os efeitos eles ainda tem idade de minibásquete. Estes são argumentos que já ouvi e para mim não tem consistência nenhuma.
Primeiro definam os objetivos, depois façam levantamento de dados, e finalmente tomem decisões. Na lógica da definição dos objetivos eu defendo que o primeiro objetivo deve ser criar o engodo pelo cesto, como o disse o sábio mestre Hermínio Barreto no ano em que foi a Paços de Ferreira quando interagiu com os minis presentes: “Primeiro há que criar lançadores (ou seja, que os praticantes tenham apetência para lançar ao cesto e saibam escolher o momento de lançar) e depois há que transformá-los em marcadores”. Concordando com esta lógica penso que devemos manter os cestos baixos. Contudo não há nada com fazer um levantamento sério de dados em jogos de mini-12 com cestos altos e em jogos com cestos baixos e depois tomar decisões. Em Paços de Ferreira fiquei com a sensação, para mim preocupante, mesmo com os cestos baixos e em situações em que a melhor decisão era o tiro exterior os praticantes forçavam vezes demais, sem tirarem vantagem, face ao bom posicionamento do defensor, o 1 para 1 com penetração para o cesto.
Como disse faça-se o levantamento e tomem-se decisões fundamentadas e não em opiniões, mas por princípio, estou de acordo com o que Josep Bordas me transmitiu em Collel: “As regras do basquetebol foram concebidas para as equipas profissionais de seniores. No dia em que percebermos que não são os jovens que se tem de adaptar a essas regras, mas a regras serem adaptadas aos respetivos escalões teremos melhores praticantes”. Para todos, boas férias e até setembro.
Comentários
O que mais apreciei neste artigo não foi concluir qual é a altura dos cestos ideal no minibasquete (porque a esse respeito também tenho as minhas razões), mas sim a sensação que continuo a ter de que os teus artigos são um contributo transparante e honesto. E com essa transparencia e honestidade quem tem aqui matéria para estudá-la, trazendo evidências que sustentem as suas próprias razões. Seria um grande passo dado na nossa modalidade e uma forma diferente de nos inspirarmos com o basket norte-americano (estes adaptam as regras aquilo que pretendem, com clareza e objetividade).