O Inexplicável divórcio
 
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O Inexplicável divórcio

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O Inexplicável divórcioAs entrevistas que realizo tem, entre outros objetivos, divulgar e dar a conhecer projetos, que vão surgindo no universo do basquetebol, reconhecer o esforço e empenho; e dar voz a quem longe das luzes da ribalta luta pelo crescimento e desenvolvimento das primeiras etapas da modalidade.

Vamos ouvir o Alcino Gonçalves presidente do BC Tomar, vamos falar dos seus projetos e das dificuldades para os implementar.


1. Antes de entrarmos na atualidade do BC Tomar gostaríamos de saber como começou a sua ligação ao basquetebol e qual o seu percurso na modalidade.
Em criança, nos idos anos 70 do século passado, meus pais construíram casa,  paredes meias, com o Estádio do Leça Futebol Clube, em Leça da Palmeira. Foi nesse clube que me iniciei no minibasquete e joguei até aos juvenis, altura em que a modalidade foi extinta no clube. Com a extinção desse projecto e da modalidade no clube transitei para o andebol. Dada a proximidade, era ali que brincava e passava a maior parte do meu tempo, acompanhando os treinos das várias modalidades, sendo muitas vezes solicitado para as arbitragens, também. Ficou o ‘bichinho’ para a vida.

2. O Alcino é um militar já na reforma, o que o motiva a dedicar-se tanto ao basquetebol.
Bem, aqui a ‘culpa’ foi do meu filho mais novo.  Hesitante na escolha de um desporto, foi levado pela mãe a um treino de basquetebol, no então iniciante projeto do Núcleo Sportinguista de Tomar. Foi no seu acompanhamento como atleta e hoje árbitro de basquetebol que me fui embrenhando na naquela estrutura e depois para a criação de um clube especificamente dedicado ao basquetebol na tentativa da sua implementação na cidade de Tomar. Ver crescer este projeto, em número de praticantes e em qualidade competitiva das equipas, é o combustível que me move.

3. O tema da conciliação do desporto escolar com o desporto federado é um tema que sempre me interessou. Gostaria que nos falasse do projeto que tinha previsto implementar na época 2022/23.
No ensino secundário, fui aluno de desporto, e desde então, fiquei com a consciência do potencial que esse movimento pode ter para a captação de atletas e nunca me conformei com este inexplicável ‘divórcio’ entre o desporto escolar e o desporto federado. Como dirigente, e com a noção da importância da captação de atletas para a modalidade, sempre tentei promover junto das escolas, públicas e privadas, um clima de interação que permitisse a ambas as realidades desportivas uma sã colaboração com reflexos na adesão e desenvolvimento dos atletas/alunos.

Nesse âmbito, fomos tentando captar para o clube, não apenas alunos, mas também professores das escolas para com eles crescer. Tem sido uma tarefa ingrata. Curiosamente, sempre tivemos da parte das direções dos dois agrupamentos escolares um apoio incondicional, o que nos permitiu por exemplo o acesso a instalações desportivas e colaboração na organização de eventos de basquetebol e em campanhas solidárias que levámos a efeito.

Verificamos, mesmo assim, dificuldades de captação e motivação dos corpos docentes para virem para o clube, promovendo até, com o apoio da Associação de Basquetebol de Santarém, um ‘clinic’ devidamente certificado para professores de educação física e para treinadores.

Apesar disso, dentro das escolas secundárias, a oferta da prática de basquetebol no desporto escolar é escassa e pouco divulgada, impedindo até que muitos dos nossos atletas federados, embora queiram, tal não lhes ser facultado.

Por outro lado, o Município de Tomar que sempre nos tem apoiado, tem como estratégia de implementação das Atividades de Enriquecimentos Curricular nas escolas do 1º ciclo, dar às Associações do Concelho a oportunidade de, através de protocolos de colaboração previamente outorgados, colocar as crianças em ambientes de experimentação desportiva, cultural e artística, como forma de incentivo à sua prática e desenvolvimento de capacidades.

Vimos neste âmbito, desde há vários anos, desenvolvendo essa dinamização nas escolas na tentativa de dinamizar e referenciar e captar potenciais atletas em fases muito precoces.

Considero que o Desporto Escolar, apesar da boa estruturação estratégica, tem problemas graves na sua dimensão operacional, e, acima de tudo, na sua integração regulamentar.

No que ao basquetebol diz respeito, estão previstas e regulamentadas as duas vertentes da modalidade, em projetos regulados de ‘3x3’ e de ‘5x5’, com uma iniciação competitiva tardia.

Verificando-se, ao contrário de outras modalidades, não existir a nível nacional um Centro de Formação Desportiva, especificamente votado para o desenvolvimento e prática do basquetebol.

Foi por isso que em 2022 tendo o clube um enquadramento humano capaz, e estando reunidas as sinergias de apoio com o Município, com as direcções dos Agrupamentos Escolares, da Federação Portuguesa de Basquetebol, da Escola Nacional de Basquetebol, da Associação de Basquetebol de Santarém e do respetivo Conselho de Arbitragem Distrital que apresentámos um projecto de implementação de um Centro de Formação Desportiva de Basquetebol no âmbito do desporto escolar em Tomar.

Esse projeto piloto, tinha cariz inovador, pois alargava-lhe o âmbito de aplicação, estendendo a sua acção às crianças do 1º ciclo, integrando os utentes do CIRE, onde já colaboramos, e dando enfâse à formação de alunos e professores, tal como está previsto e regulamentado, num enquadramento de sinergias e capacidades formativas existentes, quer na realidade escolar do concelho de Tomar, quer na realidade escolar e desportiva dos concelhos vizinhos.

4. Quais foram, na sua experiência, as causas que dificultaram a realização deste excelente projeto?
Sem dúvida alguma, o erro crasso existente na estruturação estratégica do Desporto Escolar. É louvável a intencionalidade política do Programa Estratégico do Desporto Escolar 2021-2025, onde se explanam o conhecimento e a intencionalidade de concretização integrada dos três modelos-chave para a sua organização enquanto atividade de complemento curricular (o modelo não formal, o modelo de desporto civil e o modelo baseado na escola), através de uma fusão entre o modelo civil e o modelo baseado na escola.

Apesar de bem identificar a abertura deste modelo permitindo a sua oferta estruturada, planeada e sustentável, beneficiando das melhores práticas do modelo civil, a sua intencional implementação em cooperação estreita com instituições externas como federações desportivas, clubes locais, autarquias ou instituições particulares de solidariedade social (onde, por exemplo se prevê que equipas escolares, para além do acompanhamento dos professores possam também ser acompanhadas por treinadores de clubes locais), fica refém da sua estanquicidade.

O sistema continua hermético. Embora pretenda o superior interesse do desenvolvimento do aluno, e este seja previsto ser agente activo e colaborativo na escolha e até na gestão, a oferta fica sempre refém da intencionalidade e pré-disposição dos corpos docentes de educação física escolar.

De nada adianta a vontade dos alunos se, existindo a disponibilidade de recursos e vontade, como neste caso se demonstraram, o modelo continuar opaco na difusão prévia e não permitir que as proposituras dos programas possam ser efetuadas também pelos parceiros com quem se pretende concretizar programas. Basta que nenhum professor se disponibilize para tutelar um projeto, para que este morra à nascença.

Tenho até dúvidas, que neste caso em concreto, o projeto tenha chegado, na forma e alcance como foi apresentado, às estruturas decisoras do Desporto Escolar. E é pena. Não apenas por nós. Mas pelos alunos e pelos professores e acima de tudo pela oportunidade perdida para o implemento concertado da modalidade.

5. Apesar destas dificuldades sabemos que continua motivado para fazer crescer o basquetebol em Tomar. Quais são os objetivos para a época que está a começar? Prevê algum aumento de praticantes?
Iremos continuar a colaborar, até onde nos for possível, através do protocolo com a autarquia, nas atividades de enriquecimento curricular (AEC), pois tenho consciência que ali deixamos nos miúdos ‘as sementes’ da vontade de dar continuidade à prática desportiva no basquetebol. Isso será um dos pilares de crescimento no futuro. Por outro lado, temos a vertente principal que nos move: a competição. Temos boas perspetivas para conseguir pela 1ª vez levar equipas às competições nacionais. É esse o foco. Fazer crescer a capacidade competitiva das equipas e crescer novamente em número de atletas inscritos. Este ano contamos ter todos os escalões masculinos até sub18 e uma equipa sub16 feminina, para além das equipas sub12 e dos nossos ‘minis’.

6. Quantos praticantes é que o BC Tomar movimentou na época transacta, quantas equipas e em que escalões participaram.
Inscrevemos 74 atletas (na época anterior tínhamos conseguido ultrapassar os 100). O projecto ainda não tem a consistência formativa que nos garanta uma continuidade de todos os escalões desde o minibasquete até aos sub18. Participámos com equipas masculinas em sub14 e sub16 e em sub12 masculinos e femininos.

No entanto mantemos em actividade informal outros atletas que não são em número suficiente para formar equipas de competição e uma série de atletas que frequentam o ensino superior no Instituto Politécnico de Tomar que apesar de serem em número suficiente e da sua vontade, não temos ainda estrutura financeira para implementar uma equipa sénior, mas vamos conseguindo proporcionar-lhes a possibilidade de treinar.

7. Sabemos que reconhece o grande empenho que a AB Santarém, nomeadamente o seu diretor técnico tem realizado, para o crescimento e desenvolvimento do minibásquete? Apesar desse reconhecimento, tem alguma sugestão que gostaria de dar?
O professor José Monteiro tem de facto desenvolvido um trabalho notável ao longo de décadas e a modalidade muito deve ao seu contínuo empenho e trabalho desenvolvido. Ao nível das escolas o projeto ’A magia do 1º cesto’ apresentado a todas os municípios do distrito e a dinamização dos ‘Sábados há Minis’ junto dos clubes são disso exemplo.

O seu acompanhamento da nossa atividade nas AEC e o incentivo para que outros clubes do distrito o façam (com sucesso reconhecido na Chamusca, em Torres Novas, no Entroncamento, em Rio Maior e em Santarém, embora em modelos diferentes) são garantes de continuidade.

No entanto penso que o seu esforço seria mais produtivo se a divulgação e promoção desses projectos junto das autarquias e das escolas do distrito fosse acolhido por estes com mais coragem e apoio.

8. Já agora tem alguma sugestão ou sugestões para a melhoria do minibásquete que gostaria de apresentar à Federação?
Apenas sugerir o acompanhamento destas ações dos seus diretores técnicos regionais e respetivas associações de forma mais próxima e visível pelas estruturas próprias da FPB. O desenvolvimento do minibasquete das regiões do interior depende desse acompanhamento permanente e próximo e da disponibilização dos seus meios. Uma maior divulgação destas atividades pela FPB-TV e pelas suas excelentes mascotes, são exemplos de sucesso garantido que sugiro. A miudagem gosta de se ver e rever e levam a que noutros locais lhes sigam o exemplo.

Outro exemplo é o de garantir uma maior exequibilidade e acompanhamento dos projetos do 3x3 nas escolas e o alargamento também aos clubes escolares e respetivos grupos equipa desta variante.

É que, acusem-me de utopia, se até as instâncias do Desporto Escolar reconhece o mérito e eficácia do modelo federativo na implementação da prática desportiva porque não assumir essa responsabilidade e sugerir-lhes o alargamento do desporto escolar, em modelo especificamente pensado, também aos alunos dos 4 aos 10 anos? Julgo que as Associações Distritais e os clubes estão motivados e disponíveis para ajudar assumindo ao nível local a sua exequibilidade. E, mais difícil ainda, para quando a conformação dos escalões etários entre o modelo escolar e o modelo federativo? Acho que este simples dissenso é uma das causas da inoperacionalidade do desporto escolar com reflexos negativos no desporto federado.

9. Como é feito o recrutamento de treinadores e que projetos tem em mente para esta época?
Num concelho onde há décadas não havia basquetebol federado, não é de estranhar que apenas um professor das escolas do concelho viesse mantendo também atividade como treinador nos clubes (hoje nem esse…). É claramente um dos nossos fracassos no clube. Não conseguimos que professores das escolas estejam também connosco como treinadores e, apesar de virmos com esforço custeando o curso de treinadores a alguns colaboradores, tem sido difícil a sua fixação no clube. Uns por razões escolares ou profissionais, outros porque descobrem depois que não estão interessados em servir o basquetebol, mas apenas ser-se dele. Apesar de tudo, o nosso projeto tem vindo a consolidar, fruto do empenho, dedicação e resiliência dos treinadores que se vão mantendo e da ajuda dos pais, conseguimos garantir o reconhecimento da nossa formação do minibasquete como Escola Certificada pela FPB desde há três anos e assim queremos prosseguir.

Para esta época temos uma vez mais a garantida a realização do Torneio 3x3 InterSeleções distritais sub17 que decorrerá em julho.

Pretendemos dentro do desporto escolar e das AEC promover pelo menos um evento distrital de promoção e divulgação da modalidade.

Pretendemos promover novamente a realização de um clinic creditado e certificado para treinadores e professores. Penso ainda, dentro das nossas habituais ações solidárias, convidar entidades e atletas de referência para connosco colaborar nesse âmbito.

10. Como vê o atual momento do basquetebol regional e nacional?
A nível regional julgo que tem vindo a aumentar a qualidade competitiva que vem acompanhando o aumento de número de atletas, estando previsto já a realização de competições seniores, o que há muitos anos não existe (com a boa exceção do Chamusca Basket com implantação nacional). Penso que, especialmente nas competições femininas o distrito irá dar um salto competitivo muito positivo num espaço de poucos anos e ao nível das competições masculinas julgo que irão consolidar e aparecer mais clubes a disputar o acesso às competições nacionais. O trabalho nos clubes e a forma colaborativa como entre si e a ABS se vem manifestando irá dar frutos. Projectos como em Rio Maior, onde uma academia particular (MVP Academy), em colaboração com o clube local vem colocando atletas ao mais alto nível, são exemplos de garantia de competitividade e desenvolvimento futuro.

Ao nível nacional, preocupa-me sobremaneira a dicotomia entre a realidade dos grandes centros e a do interior. A desertificação e a demografia não são a única causa para o fraco desenvolvimento da modalidade no interior. Basta pensar que, por exemplo, em Moncorvo embora não haja clube, foi possível implementar um dos primeiros projetos do basketart da FPB e com utilização regular.

Os resultados muito satisfatórios que as nossas selecções vêm conseguindo levam a um aumento de interesse pela modalidade por parte dos jovens, mas este sucesso, não tem vindo a ser devidamente reconhecido e divulgado.

Pensemos por exemplo no desempenho da nossa seleção nacional feminina 3x3 no europeu deste verão que alcançou um brilhante 4º lugar com exibições de alta qualidade. Não mereceu a cortesia de uma receção condigna na chegada. Nem uma flor, nem um Blitz, nem uma imagem da FPB-TV.

Que contraste para a seleção nacional de futebol com um desempenho vulgar! E não são eles quem estão mal por conseguirem tal reconhecimento. Somos nós quem temos a obrigação de nos auto-reconhecer e valorizar os nossos jogadores e treinadores e clubes.

11. Finalmente, que pergunta gostaria que lhe fizessem e que resposta daria?
Teria várias. Deixo duas perguntas e duas respostas que gostaria de poder dar num futuro próximo:

1. Quando voltará a apresentar o projeto de implementação do Centro de Formação Desportiva no âmbito do Desporto Escolar?
 - Já o fiz e já tenho a senha de acesso à respetiva plataforma de formalização do pedido.

2. Como se sente por ter pela primeira vez uma equipa sénior em competição com todos os atletas formados no clube?
- Sinto que já posso ir disfrutar para a bancada.

Um abraço ao amigo San Payo Araújo pelo interesse e divulgação da modalidade e deste nosso humilde projeto, com o publico reconhecimento pelo seu trabalho e exemplo de orientada e fundada objetividade.

PS: Em anexo apresentamos o projeto do Centro de Formação Desportiva.

 

 


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