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SerMinibasqueteNesta entrevista queremos divulgar os objetivos do Podcast SerMinibasquete e dar a conhecer o seu jovem promotor. Venha conhecer o Luís Abreu.

1. Para começarmos a entrevista gostaríamos que nos falasses um pouco de ti, nomeadamente como começou a tua ligação ao basquetebol, qual é a tua formação académica e principalmente em que momento e que motivos te levaram a querer ser treinador?
O meu nome é Luís Abreu, tenho 23 anos e sou natural de Guimarães. Desde os meus 8 anos, que todos os fins de semana que havia basquetebol ou voleibol o meu pai me levava a ver esses jogos ao pavilhão do Vitória Sport Clube.  Mais tarde, com 14 anos, decidi que queria começar a praticar um desporto, escolhi basquete e atualmente ainda estou ligado ao mesmo! A minha formação académica não tem a ver com o desporto, possuo uma licenciatura em gestão pública e um mestrado em sociologia, embora consiga retirar alguns conceitos aplicáveis ao desporto, a maior parte da informação que hoje utilizo foi através de pesquisa autónoma.

Iniciei a minha aventura como “treinador” como muitos outros: tinha eu 16 anos e o meu treinador na altura convidou-me a “ir dar uma ajuda” nos treinos de minibasquete. No primeiro mês já estava fidelizado aos atletas que me colocaram à frente e rapidamente me fidelizei ao que é o treinador. Confesso que na altura fosse algo meio inconsciente, mas com o passar dos tempos percebo os meus porquês, acho que consigo ter algum impacto nos atletas e talvez de uma maneira um pouco egoísta, é onde me sinto bem e retiro muito gosto. Motivos para me manter como treinador são muitos, mas vou utilizar uma expressão dada por um treinador nas entrevistas que tenho feito: A oportunidade de ser memorável.

Acho que não houve nenhum momento específico, foi algo que foi crescendo em mim. No entanto, na pandemia covid-19, senti muita falta da bola laranja e de dar treinos, o velho ditado de só sabermos o que nos faz falta quando não temos.

2. Quem é que mais te marcou na tua ligação ao basquetebol como praticante e qual é a tua formação de treinador?
O meu tempo como praticante não foi muito, mas nunca me esquecerei do meu primeiro treinador. Na altura comecei na equipa B dos sub 16 do Vitória Sport Clube, e naturalmente, sendo equipa B éramos menos evoluídos, mas a realidade é que esse treinador nunca desistiu de nós, trabalhou todos os dias para sermos melhores atletas e pessoas, se hoje continuo a dar de mim ao basquete é por causa do Diogo Batista.

Na presente época (23/24) encontro-me a realizar o estágio para o grau 2.

3. Há muitos jovens treinadores que querem logo começar nos escalões acima do minibásquete, o que não é o teu caso. O que é que te motivou a querer treinar minis e consideras que o curso de Nível 1 é adequado ao ensino do minibásquete?
Esta é uma questão difícil. Não nego a ambição de estar em escalões mais altos e tenho acompanhado nas últimas épocas sub14 e sub16. No entanto, tento sempre acumular com minibasquete e o perceber a realidade dos escalões seguintes, noto a “falta de minibasquete”, e com isto refiro-me principalmente à falta de literacia motora e à falta de hábitos de treino. Cada vez mais me convenço de que a base da pirâmide é a mais importante seja de que prisma olharmos, é muito difícil termos um sub16 de qualidade sem ter o trabalho de base feito. Começar uma época com um atleta que tem medo de lançar ao cesto por falta de confiança e terminar com esse jogador a pegar na bola e fazer os lançamentos que quiser são as minhas vitórias.

Se o nível 1 é adequado? É outra questão difícil. Retirei muitas coisas que ainda hoje utilizo dos manuais fornecidos no nível 1, acho que aborda muito do que o minibasquete deveria ser e oferece alguns caminhos de lá chegar. Acho que considero incompleto, que faltam partes “extra-basquete”, como por exemplo: como comunicar, como gerir frustrações, como gerir expectativas, como motivar, isto seja a atletas ou pais. Além disso, acho essencial existir um “módulo” sobre competição, ou seja, que estratégias utilizar quando a nossa equipa é muito superior, para existirem aprendizagens para ambas as equipas.

4. Agora passemos a um dos principais motivos que nos levou a fazer esta entrevista. Fala-nos um pouco sobre a tua iniciativa do Podcast SerMinibasquete. Quais foram as tuas motivações para esta iniciativa? Como tem corrido?
A principal motivação foi a minha dificuldade em encontrar materiais adequados à minha realidade. Existem muitos artigos/clinics produzidos em países como Argentina, Itália e Espanha, mas em Portugal (pela minha pesquisa) não existe muito material. Além disso, toda esta pesquisa demora o seu tempo, existem outras prioridades antes do basquetebol. Neste sentido, o podcast nasce com 2 motivações, uma primeira para dar mais visibilidade aos intervenientes do minibasquete e uma segunda, produzir conteúdo de qualidade de fácil acesso.

Tem corrido bem, as pessoas estão muito disponíveis e nota-se a sua paixão pelo minibasquete e não têm problemas nenhuns a partilhar os seus conhecimentos. Almejo que continue a crescer para chegar a mais treinadores e além disso, que consigam retirar algum valor daquilo que estou a produzir.

5. Depois desta apresentação gostaria de saber na tua opinião qual é o papel mais importante do minibásquete para o universo do basquetebol federado, e de que forma esta tua iniciativa pode contribuir para esse ou esses desígnios?
Creio que num primeiro momento, o minibasquete tem a pretensão de fidelizar a criança à modalidade e consequentemente ao desporto. O papel mais importante é de que a criança seja feliz a praticar a modalidade. Considerando que o minibasquete são 6 anos, acho que após este momento de fidelização se possam acrescentar mais alguns ingredientes para os atletas chegarem aos escalões superiores mais preparados, quer seja a nível social, físico ou basquetebolístico.

Acho que a minha iniciativa contribui para esses fins no modo em que a partilha de opinião pelos intervenientes do minibasquete sirva para primeiro tentar mudar um pouco da mentalidade, no sentido de que o minibasquete tem as suas especificidades e não é apenas o “basquetebol para os mais pequenos” e que ao longo desse caminho consiga fornecer algumas dicas para os treinos e as competições serem mais proveitosas para as nossas crianças.

6. Sendo tu um jovem treinador na tua opinião qual é a principal finalidade da competição no minibásquete?
A minha opinião sobre a competição foi mudando, especialmente no minibasquete, mas acho que estou num patamar onde já consigo ter uma opinião mais definida. Para mim, além do prazer que a competição deve trazer ao atleta, a finalidade principal é a aprendizagem. Esta divide-se em alguns pontos: o da auto aprendizagem, no sentido da criança aprender a lidar consigo mesma, a gerir as suas emoções (por exemplo quando sofre um contacto e o árbitro não assinala falta), ou as suas expectativas (que se traduz nas expectativas dos pais e dos treinadores), no sentido de qual é a sua visão da vitória e da derrota. Serve também para os treinadores aferirem se os conteúdos trabalhados estão consolidados, pois é nestes momentos de mais stress em que conseguimos notar se as ideias transmitidas estão a ficar nos atletas.

Sou da opinião de que se joga sempre para ganhar. No entanto, precisamos de saber qual é o custo da vitória, temos de saber quais os nossos objetivos para o nosso grupo e perceber se estão a ser cumpridos. Uma vitória sem trabalho e sem aprendizagem é uma vitória vazia. Ganhar é importante, mas é mais importante saber como ganhar.

7. Agora uma pergunta mais difícil, tens alguma sugestão, que na tua opinião pudesse favorecer o crescimento, o desenvolvimento do minibásquete?
Se a pergunta tivesse sido feita há 1 ano, antes de entrar nesta aventura do podcast seria muito mais difícil. Depois de ouvir tantas pessoas acho que sugestões não faltam. A ideia de existir um curso específico para treinadores de minibasquete é algo a ser pensado, mas acredito que seja complicado de aplicar. Acho que existem algumas ideias mais fáceis de alcançar:

Da parte federativa:

  • Mais clinics sobre minibasquete;
  • Mais espaços de partilha onde treinadores jovens tenham acesso a materiais, desde exercícios, até ideias para como lidar com situações que acontecem todos os treinos.

Da parte das associações distritais:

  • Promover competições mais equilibradas, onde cada criança esteja a competir com o seu nível; ou no caso de competição desequilibrada, certificar-se que os treinadores possuem estratégias para existir uma aprendizagem de ambas as partes.

Da parte dos clubes:

  • Um maior apoio aos treinadores de minibasquete, e não deixar um treinador com 17 anos com um grupo de 20 atletas de 9 anos;
  • Mais abertura a todas as crianças do município (através de atividades ao ar livre, atividades em parceria com as escolas, assim não só o clube faz a sua captação, como a modalidade é divulgada).

Da parte dos treinadores:

  • Procurarem formarem-se um pouco mais;
  • Um contacto mais próximo com os pais dos atletas.

Uma ideia para tornar o minibasquete mais aliciante seria sem dúvida aumentar a remuneração dos seus treinadores. No entanto, embora a visão e a comunicação dos dirigentes dos clubes podem mostrar o minibasquete como uma prioridade, normalmente a ação não bate certo com as palavras.

8. Voltemos a questões mais pessoais, as aprendizagens para sermos treinadores são processos lentos e morosos, contudo há momentos mais marcantes nessas aprendizagens. Já sentiste alguma vez um desses momentos que consideras que contribuiu fortemente para a tua aprendizagem como treinador?
O momento de ponto de viragem foi quando me mudei para Coimbra para o meu mestrado e me liguei à Associação Académica de Coimbra, a minha maneira de comunicar mudou drasticamente, sempre fui muito impulsivo e talvez um pouco exagerado na maneira como comunicava com os atletas, acho que a partir desse momento consegui arranjar um equilíbrio em termos de tom de voz, de castigos e de recompensas. Foi também nesse ano que decidi começar a pesquisar mais a fundo estes temas. Outro momento foi no início desta época, onde além de minibasquete acumulo função de adjunto de sub-16. O treinador principal é espanhol e chama-se Rúben Cortez e este contribuiu imensamente para o meu conhecimento basquetebolístico.

9. Como treinadores transmitimos sempre algumas ideias aos jogadores que treinamos. Qual é a mensagem mais forte que tu achas que transmites aos teus minis?
A palavra-chave daqui é “achas” … Nas duas últimas épocas, a ideia que tento mais transmitir é que tudo nasce a partir do trabalho. Desenho os meus treinos a partir do jogo e da diversão para que os atletas consigam ter prazer, no entanto, tento exigir ao máximo deles e promover a auto motivação e responsabilidade, tento passar que eles são responsáveis pelo seu futuro e que a partir do trabalho podem conseguir alcançar os seus objetivos.

10. Finalmente a pergunta como gosto de terminar as minhas entrevistas, que pergunta gostarias que te fosse feita e que resposta darias?
A questão seria a seguinte: se fosse possível fazer vida do basquete apenas treinando minibasquete, farias? E a resposta seria sim.

 

 


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