Aprendi em Paços de Ferreira, numa das Festas do Minibásquete, com o companheiro Dimas Pinto, uma frase que muito contribuiu para eu analisar tudo o que se vai passando nomeadamente em torno do universo do basquetebol.
Dizia-me o Dimas Pinto, quando alguém chega perto dele e lhe diz que já tem dez anos de experiência, costuma perguntar: - Tens dez anos de experiência ou um ano de experiência repetido dez vezes?
Outra perspetiva de olhar para a mudança sem querermos que nada mude é a célebre frase do romance Leopardo de Giuseppe Tomasi di Lampedusa: “É preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma.”
Quando em 2016 deixei a Federação, a Câmara Municipal de Paços de Ferreira resolveu por gentileza intitular-me “Presidente honorário da Festa do Minibásquete”, pelo que estive sempre presente em todas as Festas, desde que resolvi deixar de ser o Director Técnico para o minibásquete na FPB. Aqui a frase “um ano de experiência repetido doze vezes”, (nº de edições das festas) não faz felizmente sentido face às inúmeras alterações que o evento foi tendo ao longo dos anos.
O balanço que fiz da edição deste ano foi globalmente positivo e tive o cuidado de transmitir ao Bruno Caseiro os meus parabéns pela forma como conduziu o evento. Este é um evento que já assumiu grande importância no universo do basquetebol, ao ponto de já serem feitos torneios de preparação para as seleções irem mais bem preparados para a Festa do Minibásquete. Este aumento de torneios é positivo, pois quanto mais os jovens jogarem mais certamente evoluem.
Contudo sem pôr em causa a importância do evento, e fruto da evolução da modalidade e das mudanças que têm vindo a ser introduzidas, e que tendencialmente continuarão a ser introduzidas, o espírito como concebi esta festa deixará de existir e chamar-lhe Festa do Minibásquete deixará de fazer sentido, entre outros, pelos motivos que seguidamente apresentarei.
Não andarei longe da verdade se disser que, quase a totalidade dos jovens presentes em Paços de Ferreira andaram a época inteira a jogar no escalão de Sub-14, em tabelas altas e com a bola nº 6. Alguns destes jovens, poucos é certo, até já estiveram em Albufeira. Estes jovens, já tem espaço em quadros competitivos formais, campeonatos distritais, campeonatos e taças nacionais.
Sendo assim, não estamos a realizar uma competição para os preparar para o escalão seguinte, mas estamos a organizar uma competição para que os mesmos joguem mais vezes e não para que mais crianças tenham espaço para jogar uma competição mais formal. É uma questão que eu insisto, criam-se mais competições e mais escalões para que mais jovens joguem ou para que os mesmos joguem mais vezes?
Como aqui já referi num recente artigo, a essência do minibásquete é o tempo de jogo. É a possibilidade de todos os participantes terem o mesmo tempo de jogo. As competições também devem ser concebidas com um processo progressivo, desde o minibásquete em que todos têm a possibilidade de jogar o mesmo tempo até aos seniores em que só jogam os melhores, passando pelas imposições de um período obrigatório nos escalões subsequentes ao minibásquete. Deve haver todo um processo de progressão.
O evento de Paços Ferreira, cresceu ganhou dimensão não foi um modelo repetido 12 anos, mas é tempo de refletir sobre as consequências deste crescimento e encontrar soluções que deem respostas aos Sub-12, que já jogam em Sub-14, sem desvirtuar o que deve ser o espírito da Festa do Minibásquete. Esta semana expus a minha visão sobre o ponto de situação, da Festa, para a semana que vem apresentarei as minhas soluções..