No seguimento do artigo anterior, no qual abordei a forma como o treinador é um preditor da fidelização dos atletas, irei abordar como a comunicação entre treinador-atleta no minibasquete pode ser mais proveitosa.
Para escrever este artigo baseei-me nos seguintes episódios do SerMinibasquete: #15 - Mário Silva, #12 - Cristina Leite e #16 - Joseph Hernandez.
Falar sobre a comunicação não é fácil, porque depende de diversos fatores, mas creio que depende sobretudo dos intervenientes, neste caso, o atleta e o treinador. Existem diversas vertentes e teorias de como a comunicação deve funcionar, mas acredito que no fim do dia, o treinador precisa de conhecer muito bem os seus atletas e perceber o que funciona com cada um deles. Não é novidade de cada criança é única, ou seja, a comunicação deverá ser distinta para cada uma. Além disso, cada treinador tem o seu próprio estilo e personalidade. Embora acredite que a adaptabilidade é uma skill muito importante para cada treinador, acho que é importante manter-se fiel ao seu estilo, não tentando ser quem não é.
Depois desta introdução, proponho-me a abordar então a comunicação no minibasquete: acho que um primeiro ponto relevante é que devemos dizer sempre a verdade aos nossos atletas, dar a nossa opinião honesta quando eles nos perguntarem, seja ela qual for, e explicar o que pretendemos bem como quais os nossos objetivos com as várias tarefas que propomos. Além disso, nestas idades, a criança tem um sentido de justiça muito apurado, e questionam porque as coisas funcionam de maneiras diferentes para diferentes atletas. Por isso, considero importante eles perceberem desde cedo que é preciso comunicar de maneira diferente para situações diferentes.
Outra coisa que considero importante para comunicar no minibasquete é que os treinadores tenham noção no que diz respeito aos níveis de concentração dos atletas que nestas idades são mais baixos. Neste sentido, os níveis de paciência têm de ser um pouco mais elevados, sendo preciso ter mais tato para perceber que provavelmente vamos ter de repetir muitas vezes o mesmo feedback e explicar diversas vezes o mesmo exercício, mesmo que o façamos todos os dias durante duas semanas. Nestas situações de repetições, ou até quando os atletas não estão a ter o melhor comportamento, podemos passar por algumas frustrações (incluo me neste barco) e tendencialmente levantar a voz…. Comuniquei diversas vezes desta maneira, mas percebi rapidamente que tinha poucos frutos. O “berro” é apenas uma estratégia que agora utilizo quando os atletas precisam de um pico de energia. Podemos castigar e fazer perceber os atletas de outras maneiras muito mais efetivas. Por exemplo, uma estratégia do comandante San Payo Araújo passa por mandar sentar o atleta desordeiro e, logo de seguida, fazer o exercício que ele mais gosta de fazer. É preciso deixar uma ressalva, que antes de qualquer castigo, é importante perceber os “porquês” das atitudes dos atletas. Metade das vezes, perguntar à criança como se sente resolve os problemas todos.
A treinadora Cristina Leite diz que a comunicação não varia muito do resto da formação para o minibasquete, mas com a nota de que a maneira como dizemos as coisas é crucial. Deixo alguns exemplos de diferentes situações: quando estamos a repetir um exercício, em vez de dizermos “vamos repetir X exercício” podemos dizer “quem quer mostrar este exercício a X atleta” ou então “vamos ver quem consegue fazer melhor/mais rápido”. Aconselho a experimentarem e vejam como as reações são diferentes.
A maneira como falamos sobre a competição também acredito ser essencial: vamos jogar “com” e não “contra”, por muito que seja uma competição. Nós jogamos “com” os nossos adversários e não “contra”, pois se não houver adversários não há competição. E dentro da competição (e em alguns casos no treino) acho que temos de ser muito claros, concisos e objetivos no que dizemos. Desta maneira, acho extremamente importante criarmos umas “palavras de ordem” para comunicar mais facilmente com os nossos atletas. Utilizando o exemplo do professor Mário Silva para a defesa do jogador da bola: “a bola é minha” (para promover agressividade defensiva); “não tocas na bola” (para a defesa do jogador sem bola); “o bombeiro” (para a defesa de ajuda). Ou então, apoiando-me num colega treinador, o Paulo Oliveira, que fez um excelente trabalho nos sub-10 na época que passou, utilizava as seguintes expressões “Sandwich” (para dizer que o defesa tem de estar entre o cesto e o atacante), “muralha” (para o bloqueio defensivo), “autoestradas” (para uma correta ocupação dos corredores).
Antes de terminar, acho que faz sentido abordar a ideia dos feedbacks positivos e negativos. Existe uma corrente que diz que o feedback positivo tem de estar muito presente e que tem de se sobrepor ao negativo. Em certo ponto concordo, mas não acho que se deva desvalorizar tanto o feedback negativo, pois considero que este é fundamental para a aprendizagem e acredito plenamente que os nossos atletas precisam de tolerar certos níveis de frustração para o seu desenvolvimento, claro que com o seu peso e medida.
Em suma, a maneira como comunicamos as coisas tem muito impacto nos nossos atletas e, ainda por cima, em idades tão sensíveis em que os miúdos são tão moldáveis. Além disso, temos de individualizar o discurso pois cada criança tem uma sensibilidade diferente.