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O treinoDepois de abordar diversas dimensões que envolvem o minibasquete, proponho-me a falar sobre o momento em que os treinadores têm mais contacto com os seus atletas: o treino. Todos os episódios do SerMinibasquete acrescentaram ideias a este artigo.

O treino é uma ciência, há vários estudos académicos sobre o mesmo, como este pode ser otimizado e como pode promover mais transferência para o jogo. Mas também considero ser uma arte, há uma ligação efetiva entre treinador e atleta que acredito fazer muita diferença na efetividade do treino e na aprendizagem dos atletas.

Sendo assim, o treino é uma discussão sem fim, existem muitas filosofias e muitas maneiras de trabalhar. Sempre se fez muito treino analítico (1x0) até que alguém trabalhou de outra maneira e decidiu que o treino cognitivo (1x1, ou 1x0 com algum estímulo) é superior ao analítico. As últimas pesquisas referem a CLA (Constraints-Led Approach) que se baseia em jogos reduzidos como a melhor metodologia com o argumento que possuem mais transferência ao jogo.

Não tenho uma opinião definida sobre estes temas, mas acredito que deva existir um equilíbrio e uma junção delas todas. Além disso, diferentes países trabalham de diferentes maneiras e todos conseguem algum tipo de sucesso. Caminhos existem muitos, o importante é chegarmos todos à mesma finalidade: melhorar os nossos atletas em todas as suas vertentes. Não me irei debruçar sobre estes temas, vou antes dar a minha experiência e como eu acho que deve ser um treino de minibasquete.

Antes do treino

Acredito que o momento pré treino seja de interação que pode ocorrer de diversas maneiras: através de brincadeiras, de jogos 1x1 com os atletas, promover habilidades difíceis, ou então simplesmente fazer perguntas: “como correu o dia?”, “o que aprendeste na escola” de maneira a tentar conhecer a criança melhor.

Durante o treino

1. O que ensinar

É importante aqui relembrar um dos (na minha opinião) objetivos do minibasquete: a literacia motora. Ou seja, a escola de corrida, o saltar, o cair, a coordenação e a dissociação dos vários membros são pontos essenciais para o bom desenvolvimento da criança. Passando para os conteúdos mais “tradicionais”, considero importante dominar as finalizações quer do lado direito quer do lado esquerdo, mas depois da “passada tradicional” acho importante começar a dar já mais algumas ideias, como o passo 0, ou passadas com apenas um passo, lançar a bola em bandeja ou por cima, euro-step, entre outros… Acho que a variabilidade de movimentos é mais rica do que a pura repetição.

E sobre o drible é muito parecido, se numa fase inicial driblamos com o pulso para baixo em linha reta, rapidamente temos de trabalhar as diferentes “caras da bola” e “desbloquear” todos os movimentos do pulso. Além disso, acho que é muito importante incutir as ideias dos diferentes arranques, para evitar a infração dos passos e introduzir a ideia de “encarar o cesto”, isto porque nestas idades, os atletas tendem a esconder-se do jogo com medo de perder a bola, é algo que precisamos de contrariar.

Em termos táticos acho importante trabalhar em situações de 2x2 e 3x3: dar espaço à bola para jogar 1x1, tomar decisões o mais rápido possível e melhorar a troca de chip ataque-defesa. Se estivermos com um grupo mais evoluído se calhar podemos adicionar reações pós-passe e mexer de acordo com a bola, mas não creio ser preciso muito mais para o jogo fluir, o mais importante é capacitar individualmente cada um dos atletas que temos.

2. Como organizar o treino

Aqui acho que uma máxima importante a ter é: aumentar o tempo de utilização motora. Com isto, quero dizer: evitar filas e exercícios que possuam muitos tempos parados. No entanto, alguns exercícios com filas são essenciais, isto porque os tempos de concentração são muito pequenos nestas idades e acho importante trabalharmos isso também.

O basquetebol é um jogo caracterizado por esforços de elevado esforço seguido de momentos de pouco esforço, com muitos saltos e impactos, acho que o treino deve promover precisamente este tipo de momentos, ou seja, tarefas com elevado esforço, sprints e muitos saltos, misturado com outras tarefas menos “puxadas”.

Há aqui dois pontos que queria sugerir que funcionaram para mim durante esta época: começar e terminar o treino com algo lúdico. Começar com algo lúdico porque os atletas chegam ao treino depois de um dia inteiro de aulas, vêm já com os níveis de concentração em baixo, então considero importante preparar o corpo e a mente para a atividade física.

Terminar com algo lúdico para o treino acabar num bom tom, mesmo que tenha corrido mal, os miúdos saem do treino a querer voltar. Tal como no jogo, temos de fazer uma ação e começar logo a pensar no que se segue. Não entendam mal, estas “tarefas lúdicas” não são “brincadeiras”, podemos e devemos promover tarefas que cumpram determinados objetivos basquetebolísticos e/ou motores.

Sobre as tarefas que apresentamos no treino não tenho muito a acrescentar, depende dos objetivos, do grupo e da filosofia do treinador, mas há algo em que acredito: variar de tarefas frequentemente e alterar a estrutura do treino de vez em quando, inclusive, promover tarefas que correspondam aos níveis do atletas e tarefas que se possam adaptar a todos. Sem estes dois pontos os atletas costumam desmotivar. Além disso, incluir sempre desafios e pressões, sejam de superioridades/inferioridades, diferentes tempos para terminar a tarefa e com competição. Apresentar tarefas com algum nível de stress é preparar os atletas para o stress do jogo.

Sobre o planeamento

É sempre complicado falar de planeamento em minibasquete, isto porque nesta etapa a entrada de atletas é muito comum e a heterogeneidade dos grupos é o normal no panorama português. É muito importante saber o nível dos atletas e em que fase desportiva estão, se ainda estão na iniciação ou se já têm algum tempo de basquete. Neste sentido, proponho-me a deixar aqui três ideias sobre como tratar o planeamento no minibasquete:

  • Saber os conteúdos que queremos trabalhar e em que altura do ano de maneira a não “ir com o vento”;
  • Perceber que os ritmos de aprendizagem são diferentes e ter um “mínimo universal” para avançar nos conteúdos;
  • Trabalhar os conteúdos de forma cíclica, focar duas semanas num conteúdo, trocar e voltar se necessário.

Em suma, existem diversas maneiras de preparar o treino e diferentes metodologias, acredito essencial aproximar o máximo do treino ao jogo e trabalhar de acordo com as necessidades de cada atleta.

 

 


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