Ninguém melhor que o Prof. Carlos Neto alerta para iliteracia motora e ausência de socialização das crianças dos nossos dias, resultantes da falta de brincadeiras na rua. A identificação do problema está feita e nós treinadores o que podemos fazer para minimizar essa lacuna

no crescimento das crianças? É bom identificarmos o problema, mas melhor ainda é encontrarmos soluções.

Nas minhas andanças por diversos clubes e pontos do país tenho observado, que há treinadores que, quando tem mais de uma hora de treino permitem que as crianças tenham um quarto de hora em que o tempo é delas são momentos em que elas podem fazer o que querem. Embora concorde com esta opção, tenho verificado que as crianças desde que tenham uma bola fazem o que lhes apetece, normalmente, driblar e principalmente lançar, mas acabam por não interagir muito com os companheiros. Salvo algumas exceções, continuam com um comportamento muito individualizado.

Nos últimos três clubes onde recentemente passei Rio Maior Basket, Basket Santo André e Lobos da Malveira pus em prática uma ideia que me veio à cabeça para minimizar o problema, que todos identificamos, mas temos dificuldade em encontrar soluções.

A ideia que me passou pela cabeça é, de tempos a tempos, deixarmos que a hora do treino seja dos praticantes. O mundo é deles, são eles que se organizam e decidem tudo o que vai decorrer no treino. A minha proposta nesses treinos foi dizer que hoje o treino é só jogo, mas são vocês que se organizam.

São vocês quem decide, quem vai escolher as equipas, são vocês que escolhem as equipas, são vocês que decidem quem joga e quem fica de fora, são vocês que escolhem quem vão defender, quem atira a bola ao ar para começar o jogo e os que estão a jogar é que arbitram o jogo. (Este era o meu mundo, quando ia para a rua jogar.)

Outra queixa frequente é que eles não conhecem o jogo. Uma das formas de conhecer o jogo é através da observação. Então o que é que eu fiz, foi distribuir um papel e um lápis a todos os jogadores que ficaram de fora e a pergunta, que inicialmente foi feita foi a seguinte: O que é que achas que poderia ser feito para melhorar o jogo? Contudo acabei por alterar a tarefa para os que estão de fora para o seguinte desafio. Vocês agora são os treinadores da vossa equipa e tem de escrever no papel, para que a tua equipa vença o jogo, o que dirias aos teus jogadores. Para que eles se sintam mais à vontade em manifestarem-se disse, não há respostas certas ou erradas eu apenas quero saber o que vocês viram e nem sequer tem de assinar eu não necessito saber quem viu o quê.

Assim que eles se organizaram começaram a jogar eu e os respetivos treinadores presentes retiramo-nos de cena e apenas nos pusemos a observar como decorria o jogo e a atenção dos que estavam a observar. Apenas intervíamos de tempos a tempos para dizer que tinha de haver trocas. Quem decidia quem saía e quem entrava continuavam a ser eles, mas todos tinham de jogar mais ou menos o mesmo tempo, esta era a única regra que controlavamos e impúnhamos.

É evidente que quem saía tinha de passar a fazer o papel de treinador/observador. No próximo artigo vou falar sobre tudo o que pude observar e fazer um breve resumo das respostas que obtive. Algumas observações foram surpreendentes. No final fiquei a saber que eles gostaram da experiência. O número de informações que pude tirar deste tipo de observação vai muito para além do que eles sabem do jogo e das dificuldades ou do jeito que eles têm para a modalidade. Para a semana faço um resumo da minha experiência com os diversos grupos.