Em Paços de Ferreira pediram-me para eu falar sobre a última edição da Festa do Minibásquete. Delicadamente recusei porque a conversa seria longa e prefiro exteriorizar a minha opinião aqui no Planeta Basket onde posso abordar o tema duma forma mais ampla
e sem constrangimentos de publicação.
Antes de tecer as minhas considerações sobre este tema, quero que fique bem claro que a XIII edição da Festa do Minibásquete foi uma vez mais um êxito, bem dirigida no setor desportivo pelo Bruno Cazeiro e como tem sido apanágio ao longo de todas as edições, extremamente bem organizada, do ponto de vista social e logístico, com enorme empenho de toda a equipa do setor do desporto da Câmara Municipal e a dedicação do incansável Armindo Calção.
Feitos estes merecidos elogios não consigo olhar para Paços de Ferreira sem tentar perceber qual a função desta festa no âmbito global de estruturação dos quadros competitivos formativos da Federação.
Em 2016, alertei aqui no Planeta Basket no artigo “Terra de ninguém” de 8 de novembro, que o escalão de Sub-14, apesar de ser o escalão com o maior número de praticantes era na federação uma terra de ninguém. Escrevi então: “Para além do problema estrutural de termos mais praticantes de Sub-14, do que Mini-12, há outra situação que urge mudar. Na Federação na estrutura técnica há um responsável pelo pelos escalões de Mini-8, Mini-10 e Mini-12, o diretor técnico do minibásquete, há responsáveis pelas seleções nacionais de Sub-16, Sub-18 e Sub-20, mas o escalão com o maior número de praticantes na formação os Sub-14 tem sido ao longo dos anos terra de ninguém.”
Bem sei que felizmente, entretanto, surgiram campos de observação para Sub-13, a partir das deteções realizadas em Paços de Ferreira, por um conjunto de treinadores que tem essa função e as seleções de Sub-14.
Contudo, continuo a considerar que todas estas medidas vão surgindo um pouco casuisticamente e sem um verdadeiro fio condutor. Foi a 7 de novembro de 2009 no Fórum do Minibásquete realizado em Freamunde, promovido pelo CNMB com o apoio da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, que pela primeira vez foi discutido publicamente a realização da Festa do Minibásquete.
O programa do fórum foi o seguinte:
15.00 - A importância do treinador na formação do jovem praticante de minibásquete - Prof. Dr. Carlos Gonçalves, Presidente do Comité Europeu de Fair-Play
16.00 - O impacto do Jamboree no universo do minibásquete - Testemunhos de praticantes, autarcas, dirigentes, treinadores, pais, clubes, jornalistas – Painel de testemunhos do evento com coordenação de Sérgio Rosmaninho – Diretor Técnico do Jamboree de Paços de Ferreira.
17.00 - Do minibásquete ao basquetebol - Que transição? - San Payo Araújo – Diretor Técnico do Comité Nacional de Minibásquete.
No tema que abordei, a criação da Festa do Minibásquete, estava inserida numa lógica de progressão e estímulos, que implicava algo que há muito acredito ser nas condições atuais, o melhor para a modalidade: a alteração dos escalões etários.
Sejamos sinceros, não devo andar muito longe da verdade se afirmar que 90% dos jovens que vão a Paços de Ferreira jogam nos seus clubes no escalão de Sub-14 e como tal em tabelas altas durante o ano inteiro. Neste contexto, admito que faz algum sentido a aproximação da competição em Paços de Ferreira às Festas do Basquetebol em Albufeira. No entanto, estes jovens, já tem nas suas Associações, campeonatos regionais distritais que apuram para duas provas nacionais os campeonatos e taças nacionais de sub-14 masculinos e femininos. Por outras palavras estes jovens já jogam em quadros competitivos formais. Este facto transforma Paços de Ferreira não numa competição para mais praticantes jogarem, mas numa competição para os mesmos jogarem mais vezes. Conheço até casos, nalgumas Associações, de jovens que estiveram em Albufeira nos Sub-14 antes de estarem presentes em Paços de Ferreira.
Regressemos então à minha proposta apresentada em 2009 em Freamunde. Esta proposta implica uma ideia que já há muito defendo, que é a alteração dos escalões, para Mini-7, Mini-9, Mini-11, Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-19 nos masculinos e femininos. Neste quadro haveria campeonatos e taças nacionais para os Sub-13, Sub-15, Sub-17 e Sub-19 e manteria as competições para as seleções distritais para os escalões de Sub-12, Sub-14 e Sub-16.
Esta alteração permitiria que os jovens mais talentosos de uma forma geral tivessem todos os anos um estímulo forte pelo qual lutar. Aos Sub-12 tinham o sonho de estar na seleção distrital, aos Sub-13 lutar pelas presenças em provas nacionais e assim sucessivamente. No quadro atual, salvo exceções pontuais de jovens muito talentosos ou com desenvolvimento maturacional precoce, a grande maioria dos jovens têm dois estímulos fortes de dois em dois anos.
Esta alteração iria possibilitar aos praticantes uma sequência anual de estímulos, (normalmente os jovens que são de primeiro ano no seu escalão ou jogam pouco tempo ou estão nas equipas b dos clubes), mas eram alvo da atenção dos selecionadores distritais e se calhar até seria mais fácil serem dispensados para os treinos das suas seleções.
Para além de outras vantagens e duma aproximação na maturação do salto pubertário, que é muito maior nos 12 para os 14, do que dos 11 para os 13, se esta medida fosse introduzida e provocasse que o escalão de Sub-13, fosse mais numeroso que o escalão de Mini-11, no mínimo ganharíamos um ano.
Este é um tema que, como referi, abordei publicamente pela primeira vez em 2009, depois disso houve outros momentos em que quer no seio da federação, quer quando estava na Madeira também o defendi. Mas essa é uma estória que talvez um dia a resolva contar.
Muito mais teria eu para dizer, nomeadamente sobre a articulação destas competições com os campos de observação e os centros de treino e o acompanhamento dos talentos detetados, mas para completar estas minhas ideias vou apenas sugerir mais duas propostas.
- A Festa do Minibásquete passaria a ser para o escalão dos Mini-11e os Sub-12 passariam a jogar em Albufeira na Festa do Basquetebol.
- A criação duma competição interseleções para Sub-18, não destinada a todas as Associações, mas a seleções de regiões mais alargadas em moldes a definir.
Bem sei que estas duas propostas implicam um investimento, mas como costumo dizer: “Diz-me onde gastas o teu dinheiro e eu dir-te-ei o que é importante para ti.” Para mim a formação a partir do minibásquete é a base de todo um edifício.
Para todos umas boas férias e até setembro.











