Numa breve introdução o Dr. João Paulo Fernandes, elemento da direcção do Clube, apresentou os convidados (Mário Albuquerque esteve ausente por motivos de saúde) e aludiu à nova parceria do EBC com a Associação Portuguesa contra a Leucemia, proferindo algumas palavras sobre a parceria do clube com esta associação.
Após diversos elogios por parte de Rui Pinheiro, o Prof. Hermínio discursou sobre a Solidariedade entre atletas, citando Nélson Évora, campeão Olímpico, “Dentro da pista temos que ser melhores, fora da pista temos que ser uns para os outros...”, fortalecendo a ideia de que extra-competição deve haver cooperação entre atletas para que estes se desenvolvam mutuamente. Entre variados exemplos, o Prof. Hermínio levantou o problema que surge actualmente de os treinadores quererem ensinar o jogo antes de quererem ganhar, reforçando que nos escalões de formação “o importante não é ganhar, mas tudo fazer para se conseguir ganhar”, ou seja, ensinar o jogo. É preciso ensinar bem, mesmo que no início se compita mal. Por outro lado, um dos pontos que auferiu maior concordância e envolvimento por parte da audiência foi a falta de “rua” que as crianças destas novas gerações demonstram. Cada vez mais se mostra difícil conseguir que um jovem faça desporto e os pais têm um papel fundamental para contornar esta tendência. Na ausência de pavilhões e espaços propícios e disponíveis para que as crianças possam brincar e praticar livremente e em segurança as diferentes brincadeiras, são os pais os responsáveis por acompanhar a criança, incitá-la a mover-se e fazer algum desporto que possibilite desenvolver capacidades físicas, coordenação e mesmo a sociabilidade, contrariando a obsessão actual pelas computadores e consolas.
No seguimento deste discurso, Rui Pinheiro testemunhou sobre a sua infância e a facilidade em encontrar espaços onde pudessem brincar e jogar, recordando a necessidade de empenho, disponibilidade e rigor que um atleta tem de possuir para sobressair no desporto, referindo que “Eu amo jogar e enquanto este sentimento se mantiver eu vou jogar”. Rui Pinheiro apelou aos presentes para que trabalhem no sentido de atrair mais jovens para a modalidade, criando pessoas “Sãs, bonitas e amantes do basquetebol”, recordando mais uma vez, junto com Hermínio Barreto, que “antes bastava um aro de um barril de vinho preso nas bifurcações de uma árvore para fazer um cesto”. O ex-jogador reforçou a utilidade de trabalhar os fundamentos do basquetebol por iniciativa dos atletas nos minutos que antecedem o treino, algo que hoje em dia se mostra bastante raro. Para finalizar, Rui Pinheiro focou o espírito de equipa como outra grande arma de uma equipa, mencionando que “Se antes de jogarmos para nós, jogarmos para os outros quatro, quando chegar a minha vez tenho quatro a trabalhar para mim!”. Existem situações em que um atleta tem que assumir, contudo Rui afirma que 90% do jogo terá de ser feito em equipa, cinco de campo e os restantes elementos que estão no banco, fundamentais para o jogo.
Após o colóquio foram feitas algumas perguntas aos oradores.
Cátia Mota: Porque começou a jogar basquetebol?
Rui Pinheiro: O meu médico mandou-me fazer desporto, por isso fui a um treino de futebol, quando cheguei lá não havia treino. Um amigo perguntou-me se não queria experimentar ir a um treino de basquetebol e um dia quando saí do liceu fui experimentar e até hoje... Comecei em 1966, com treze anos.
CM: Porque decidiu seguir a carreira de treinador?
RP: Porque gosto, gosto da adrenalina, gosto de ver os meus atletas a evoluir. É um prazer em termos desportivos, técnicos, em termos pessoais e como jogador.
CM: É conhecido por ambicionar a vitória, mais do que talvez a pedagogia...
RP: Sobrescrevo tudo o que é dito sobre a pedagogia e a sua importância, no entanto sem competitividade não quero ser treinador. Prefiro treinar os escalões onde já posso pensar em ganhar, ou seja de cadetes para cima. Respeito, mas não faz mo meu género.
CM: O que pensa do novo projecto do EBC?
RP: Há um grupo de pessoas, onde eu estou incluído, amantes de basquetebol, preocupados, que querem que este projecto vingue. É um projecto diferente de todos os outros projectos de basquetebol que já vi, pois pretende não só atingir o basquetebol como também toda a juventude que não tem que fazer no Conselho. Políticos, autarcas, pais também. É um projecto que dentro de cinco anos terá muito sucesso.
Cátia Mota: Quando começou a jogar?
Hermínio Barreto: Comecei a jogar futebol e atletismo em Quelimane (Moçambique). Depois de uma lesão no futebol mudei para o basquetebol. A minha primeira medalha até foi no Triplo Salto! Só comecei no basquetebol já com idade de júnior.
CM: Quando veio para Portugal?
HB: Vim para Portugal estudar direito com a minha namorada, minha companheira de sempre, em 1956. Depois desisti e fui para o INEF (actual Faculdade de Motricidade Humana – FMH).
CM: Como descreve a relação que mantinha com o José Paiva Henriques, mais conhecido por “Zé-Bomba”?
HB: Sabes, até me custa falar. Éramos muito próximos, como se fossemos Irmãos. O Zé só queria treinar miúdos, não queria adultos. Nunca me vou esquecer do dia em que ganhámos ao Sporting, quando jogávamos no Real Sociedade. Foi a primeira vez que percebi o que era um clube pequeno ganhar a um clube tão grande. Mas o Zé também era muito descuidado, mas viveu como quis, viveu... Fez sempre o que quis, o que gostou...