Alexandre Franco numa grande entrevista mostra-nos a carreira de grande craveira de um Senhor do basquetebol português: Mário Albuquerque.
Que me perdoem os grandes executantes do basquetebol português, mas por muito que me possam contestar, não tenho a menor dúvida em como a grande maioria está do meu lado. Já há uns anos o afirmei publicamente, Mário Albuquerque é o melhor basquetebolista português de todos os tempos, ao mesmo tempo grito que o melhor jogador de hóquei em patins do mundo foi Fernando Adrião e em termos de futebolistas moçambicanos, melhor mesmo do que Eusébio, foi Fernando Laje, um extraordinário jogador que tive a felicidade de ver ainda no seu auge. Nesta minha prometida (e cumprida) colaboração com o Planeta Basket, aqui estou, para dar a conhecer tudo quanto se pode saber a respeito daquele que eu considero o melhor de sempre em termos de basquetebolistas portugueses, Mário Albuquerque.
Nesta minha prometida (e cumprida) colaboração com o Planeta Basket, aqui estou, para dar a conhecer tudo quanto se pode saber a respeito daquele que eu considero o melhor de sempre em termos de basquetebolistas portugueses, Mário Albuquerque.
BILHETE DE IDENTIDADE
Nome completo: Eduardo Mário Garzón de Albuquerque
Data de Nascimento: 28-3-1944
Local de Nascimento: Lisboa
Filho de: João José Albuquerque Júnior
E de: Francisca Garzón Garrido de Albuquerque
Pai de: João Carlos Salvado Costa Albuquerque
e de: Michele Salvado Costa Albuquerque
Quando é que se deu a ida para Moçambique?
Aos 5 anos de idade, em 1949 por transferência do meu pai que era funcionário público.
Quando é que pegaste pela primeira vez numa bola de basquetebol?
No Liceu, actual escola Secundária.
Quais os basquetebolistas que admiravas antes de teres começado a jogar?
Nenhum pois foi de repente e não costumava ir ao Basquetebol e como não havia TV.
Como foram os teus primeiros passos na prática do basquetebol?
Foram com 16 anos nos Juniores do Sporting C.L.M.
Quando é que efectuaste o teu primeiro jogo oficial e com que camisola (número)?
Foi em Juniores contra o Ferroviário, com a camisola nº 12 em Seniores foi na Beira num jogo particular em que um colega mais antigo que jogava (pouco) me ofereceu a camisola 12 de que eu gostava.
Quantos títulos conquistaste nas categorias jovens?
Nenhum, só joguei um ano. Disputámos o jogo final contra o Ferroviário, quem ganhasse era campeão, mas empatámos, na altura havia empates, e quem ganhou o campeonato foi o Atlético que estava na bancada a ver o jogo. Melhor marcador do Campeonato.
Quando é que subiste à Primeira Categoria? Ou será que jogaste primeiro nas reservas?
Subi à primeira categoria ainda com idade de Juniores, 17 anos, nunca joguei nas reservas.
Quantos títulos conquistaste em Seniores (Honras)?
Como Jogador em Moçambique em 12 anos de Seniores ganhei 11 vezes o campeonato distrital e 10 vezes o Provincial, 1 Taça de Portugal realizada na então Metrópole e 3 Campeonatos Nacionais.
Em Portugal 4 Taças de Portugal e 3 Campeonatos Nacionais, um dos quais como treinador-jogador.
Como Treinador ganhei 2 Taças de Portugal e 2 Campeonatos Nacionais.
Quais os treinadores que te passaram pelas “mãos”?
No Sporting L.M.: Alfredo Neves, José Lopes, Milton Ruiz (Brasileiro), Francisco Marques, Dave Adkins (americano), Luís Pina e Hermínio Barreto.
No Sporting Portugal: Hermínio Barreto, Eu (eh,eh), Arthur Duran (americano).
Na Selecção L.M.: Adam Ribeiro e Luís Pina.
Na Selecção Nacional: Alfredo Neves, Luís Pina, Teotónio Lima e Jorge Araújo.
Qual o que mais te impressionou?
No início Alfredo Neves pelo que “trouxe” ao Basquetebol Moçambicano, depois Milton Ruiz pela preparação física e o pragmatismo que emprestava ao jogo, Dave Adkins pela janela que abriu para outro basquetebol, Luís Pina pelas orientações sui generis e oportunidades de jogo que prodigalizava.
Quantas vezes foste internacional?
Cerca de 40 vezes, estreia com 17 anos no Europeu em Madrid e mais tarde capitão no Europeu Grupo B disputado na Hungria. Considerado o melhor marcador e jogador de Portugal.
Qual o pior momento da tua carreira?
Provavelmente a perda do Campeonato Nacional em Luanda no ano de 1970, quando tínhamos o título na mão e o deixámos fugir.
Qual o jogador internacional que mais admiraste?
Július Earving “Dr. J” e mais tarde Michael Jordan.
Muitos consideram-te o Melhor Jogador Português de todos os tempos. Achas que poderias ter tido alguma hipótese na NBA?
É difícil de dizer, a nível técnico e fundamentos de jogo penso que conseguiria, a nível físico precisava de uma “reciclagem” pois as exigências são muito diferentes.
Gostarias que isso tivesse acontecido, ou achavas que era uma plataforma muito elevada?
Gostava de ter tentado, mas que seria muito difícil, não tenho dúvidas.
Se tivesses sido alvo de alguma aproximação, com quem é que gostarias de ter jogado na NBA?
Na altura era ferrenho dos Boston Celtics.
Na tua opinião, quais as tuas melhores características como executante?
Ser ambidextro nas áreas perto do cesto e a passar a bola, lançar de qualquer sítio e fundamentos e leitura de jogo. Nunca saltei muito mas ganhava muitos ressaltos.
Para ti, qual o melhor jogador português de sempre?
Não gosto de comparar épocas diferentes e por isso aí vai. Por ordem cronológica:
Octávio Bagueiro com quem tive o privilégio de jogar uma vez, Mário Mexia meu padrinho na Selecção Nacional em Madrid com 17 anos, Nelson Serra que me passava a bola como ninguém (e eu agarrava-as), e depois o Carlos Lisboa que tive a satisfação de lançar na 1ª categoria do Sporting, tal como eu ainda júnior com 17 anos.
O basquetebol moçambicano era realmente melhor do que o metropolitano?
Era diferente, o espectáculo era melhor, pavilhões cheios, entusiasmo a rodos. Ofensivamente era mais criativo e mais rápido. Tirávamos mais partido das regras que à altura beneficiavam o ataque. Era mais parecido com a NBA dado que ali só se podia defender HxH sem ajudas o que nós também fazíamos mas por desconhecimento de tal coisa.
Conta-nos um episódio da tua carreira de que te recordes bem.
Numa das épocas a disputa de melhor marcador estava renhida pois o meu competidor na altura, o Mário Machado, excelente jogador e lançador do Ferroviário tinha marcado 80 pontos (ainda não havia 3 pontos) ao Benfica novel equipa da Divisão de honra de Lourenço Marques. Como jogávamos a seguir com essa equipa, fui proibido de passar para trás da linha do meio campo e assim que recuperávamos a bola ela era-me endossada para a concretização.
Quando atingi os 91 pontos com 3 minutos para jogar o meu treinador (Nota Planeta Basket: Luís Pina) substituiu-me. Quando cheguei ao pé dele segredou-me a rir: já estás outra vez à frente dos marcadores, mas bater o meu recorde é que não podia ser nada. Perante o meu espanto ele elucidou-me que detinha a melhor marca: 105 pontos num jogo de reservas. Acabámos o jogo todos a rir com tal episódio.
Em quantos campeonatos nacionais participaste?
Só a partir de certa altura e até 1974 o Nacional passou a integrar Metrópole, Angola e Moçambique. Participei em cerca de 14 contando com uns 8 já no Sporting de Portugal.
Qual o melhor cinco que integraste?
Nelson Serra, Carlos Lisboa, Rui Pinheiro, Mário Albuquerque, Mike Faulkner campeões Nacionais na Figueira da Foz.
Qual o melhor cinco português de todos os tempos?
1º Base – Nelson Serra (Sporting)
2º Base - Carlos Lisboa (Sporting, Queluz e Benfica)
Extremo - Mário Mexia (Académica)
Extremo – Rui Pinheiro (Sporting e Queluz)
Poste – Quim Neves (Académica, Desportivo e Sporting)
Não inclui estrangeiros naturalizados.
(Nota do entrevistador: Aceitamos a simpatia por Mário Mexia, mas o melhor cinco português de todos os tempos inclui, logicamente, Mário Albuquerque)
Como treinador, quais as equipas que tiveste sob a tua responsabilidade?
Sporting Clube Lourenço Marques (uns meses), Sporting Clube Portugal (4 anos-2 vezes campeão Nacional e 3 Taças Portugal), SLO-Grundig (1 ano), Estoril Praia (2 anos - subida à 1ª Divisão e 1 ano na 1ª divisão).
Quais os jogadores que mais gostaste de treinar?
Rui Pinheiro, Carlos Lisboa, Nelson Serra, Augusto Baganha, Hélder Silva, João Cardoso, Taborda, Nuno Carvalho, Mike Carter. Porque se fosse preciso, pagavam para jogar.
Qual a equipa que mais gostaste de treinar?
Sporting Clube Portugal.
Olhando para o futuro do Basquetebol em Portugal... Achas que a actual orientação assumida pela Federação Portuguesa de Basquetebol é a ideal?
Vamos a ver agora que a liga profissional acabou. É cedo para dizer.
O sucesso da Selecção de Portugal no último Campeonato Europeu é prova de uma profunda melhoria?
Claro que é. Em organização e metodologia de treino melhorámos. No aspecto físico aproximámo-nos um pouco. No técnico, especialmente em fundamentos ainda estamos longe. Ví em Sevilha lacunas em especial nos fundamentos do jogo que parece que já ninguém ensina. Fui pouco tempo treinador, mas sempre me preocupei com os aspectos básicos do jogo: lançamentos, passes e preenchimento dos espaços. Fico “doente” quando vejo falharem sistematicamente os lances livres. Em Lourenço Marques fazíamos concursos até aos 50 e quem falhava até aos 30 já não tinha hipóteses nenhumas. É uma questão de automatizar o gesto. Se dermos uma tarefa a um artista de circo de encestar 50 LL seguidos, é certo que ao fim de uns meses a tarefa é executada.
Quais as medidas que, em Portugal, os clubes deveriam assumir para que o nível do Basquetebol português melhorasse?
Eu sei que é muito fácil dizer e muito difícil fazer mas devia-se apostar no mini-basquetebol, juvenis, cadetes, juniores e por aí fora e só importar estrangeiros que fossem mais-valias e se quisessem naturalizar (através de um pacto, de legislação, sei lá...).
Assim talvez houvesse basquetebol Português e não basquetebol em Portugal, sem memórias e sem sentimentos e claro com os pavilhões vazios (não está lá a família pois está longe).
E aqui está, o Mário Albuquerque em pessoa. Diríamos mesmo na primeira pessoa. Aberto. Inteligente. Directo. Profícuo. Produtivo. Proficiente. O espelho, a imagem da sua carreira desportiva.
Só nos resta agradecer-lhe pela disponibilidade que sempre demonstra em situações deste género.
Obrigado
Alexandre Franco
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